28.10.05

O Armamento

O Pilum

  Era uma lança arrojadiça com ponta de ferro e cabo de madeira.


Gládio

 De origem hispânica, o gládio (em latim gladius) ou espada curta não era mais que uma espada melhorada da espada dos Celtas, aquando da conquista da Hispânia. Era uma espada de dois gumes, com empunhadura de madeira ou osso talhado, para permitir uma sujeição mais firme. Embainhava-se numa capa de madeira que podia estar sumptuosamente decorada.

  Durante centenas de anos foi a espada do exército Romano, e espalhou o terror pelos campos de batalha desde a Gália à Arábia. Com esta espada terminou a discussão em Roma, qual deveria ser a sua função (de arremesso ou de cortar). Ganhou o partido que defendia que a espada servia para arremessar, e assim o gládio foi adoptado para espada do exército. Nas batalhas com os povos nórdicos, estes usavam enormes espadas, muito belas, mas no campo de batalha eram pouco práticas contra a leve e funcional gládio. Com a decadência do Império Romano, o gládio deixou de ser usada, e foi substituída por espadas maiores, a espada pompeiana. Enquanto o gládio servia para desferir estocadas de perto a pompeiana, era mais uma arma para cortar. Segundo Lívio, o ataque de um legionário com este tipo de arma deixava «braços arrancados, incluindo os ombros, cabeças separadas dos corpos, com os pescoços completamente cortados, e estômagos rasgados.

  A razão para o fim do gládio deveu-se à própria natureza das batalhas deste período, em que deixara de existir a Infantaria, (ou era muito diminuta), para ser substituída pela Cavalaria. Para os cavaleiros eram necessárias grandes espadas, para poder atingir o inimigo à maxima distância possível. Seja como for enquanto serviu o Império Romano, o gládio demonstrou ser uma espada fiável.


Scutum


 Escudo de madeira forrado a couro com reforços metálicos.

25.10.05

O Equipamento



  O Galeus

  No tempo de Augusto, os legionários usavam um capacete de ferro de tipo gálico conhecido como galeus.

  Loriga Hamata

 Inspirada na malha que tradicionalmente usavam os hastati e os príncipes; completava-se com o cingulum militare, um cinto de onde pendiam várias tiras de couro com discos metálicos.

  Loriga segmentada

  Este tipo de protecção, era usada pelos legionários de infantaria romanos do século I a.C.
  A principal vantagem deste equipamento: oferecia uma maior protecção que as malhas, e sobretudo maior flexibilidade facilitando a liberdade de movimentos dos soldados.

  Caliga

  Sandália militar de couro com sola cravejada.

20.10.05

As Legiões

 Apesar do recrutamento de auxiliares, o nervo central do exército continuou a pertencer às legiões – da palavra legio (legião), força bélica, extraiu-se a palavra legge (lei) –, que contavam com um efectivo de 5000 a 6000 homens cada uma, de acordo com as baixas. A unidade básica era a centúria de oitenta homens comandadas por um centurião, As legiões articulavam-se em dez coortes, cada uma delas dividida em seis centúrias (que por sua vez formavam em dez decúrias). Cada legião era acompanhada por uma unidade de cavalaria de cento e vinte homens distribuída em quatro esquadrões.

 Cada legião era designada por um número e um epíteto (por exemplo, Legio VII Gemina Pia Fidlis). O lema da legião designava uma condição honorável e podia perder-se quando se castigava colectivamente a unidade. Inicialmente, as forças auxiliares eram atribuídas às legiões, mas com o tempo acabaram por se converter em unidades independentes.

 O procônsul de cada província comandava as legiões aí estacionadas. O chefe de cada legião era um representante do imperador, livremente nomeado e destituído: o legatus legionis, que pertencia à ordem senatorial e dirigia a legião por um período de cinco anos.

 Seguiam-se seis tribunos: um senatorial e cinco da ordem equestre. Como os comandos superiores eram membros das classes privilegiadas e podiam carecer de experiência e conhecimentos militares, estes concentravam-se nos centuriões, todos eles procedentes do exército e mediante rigoroso escalonamento no marco da sua unidade. O primeiro de cada coorte era o primus pilus, um veterano de idade avançada que tinha sido centurião-chefe da legião e era o responsável pela legião na ausência do legado ou quando este tombava em combate.

 Sessenta centuriões encarregavam-se da disciplina e instrução da legião. O centurião, com mais experiência dirigia a primeira centúria da primeira coorte. Cada centurião era auxiliado por um optio, o segundo no comando, que desempenhava a função de ordenança e aspirava a ocupar uma vaga no posto de centurião.

 Os quatro decuriões de legião tinham sob o seu comando os esquadrões de cavalaria e tinham como aspiração, ascender a comandante das unidades auxiliares de cavalaria.

 No escalão inferior aos optios estavam os legionários e depois os elementos das coortes auxiliares, os vexillatos.

 A lealdade das tropas romanas aos seus estandartes, em que estava a águia e as letras SPQR (Senatus Populesque Romanus - Senado e Povo de Roma), era inspirada pela influência conjunta da religião e da honra. A águia que rebrilhava à frente da legião tornava-se objecto da sua mais profunda devoção; era considerado tão ímpio quão ignominioso o abandono dessa insígnia sagrada numa hora de perigo.

18.10.05

As Tropas Auxiliares

 A mais importante inovação de Augusto consistiu em reorganizar as tropas auxiliares ou auxilia, que até então haviam sido forças irregulares formadas por meros mercenários, recrutados antes de uma campanha, comandadas por chefes locais e armadas segundo as circunstâncias. Com elas criou um segundo exército, cujos efectivos eram equivalentes aos das legiões, recrutados entre os provinciais não-cidadãos, mas que contavam com o estatuto de peregrini.

 Este exército foi organizado em coortes de infantaria e alae de cavalaria de cerca de 500 homens, distribuídos em 16 pelotões (turmae), comandadas por praefecti, oficiais romanos da ordem equestre. Cada unidade formou-se com membros do mesmo grupo étnico, especialmente aquelas tropas mais especializadas, como fundeiros, arqueiros e cavaleiros, que muitas vezes eram característicos de certas regiões geográficas (arqueiros sírios e cretenses e cavaleiros gauleses, alemães e hispânicos), e conservou um nome referente ao lugar de recrutamento (por exemplo, Cohors II Batavorum Miliaria). Contudo, como prestavam serviço em regiões diferentes das de origem, tiveram de cobrir as suas baixas com recrutas locais que lhes fizeram perder o seu carácter nacional.

 Os auxiliares foram profissionalizados, sendo dotados de um equipamento padrão, de qualidade pior que os dos legionários, colete de malhas, capacete de metal e a "spatha", uma espada longa e mais pesada para corte que o gladius. Em relação aos legionários, o serviço dos auxilia era mais longo – 25 anos - e o soldo menor (foi Camilo quem instituiu o soldo, normalmente pago em sal a princípio, o que deu origem ao termo soldado), embora a aquisição da cidadania romana consumisse um grande aliciante para o recrutamento. Esta possibilidade surgira já no tempo de César, mas só com Cláudio é que se consagrou o direito dos auxiliares à cidadania aos vinte e cinco anos de serviço, assim como a garantia de uma reforma e a possibilidade de transmitirem a cidadania aos seus filhos casando após a desmobilização.

 Foi Augusto quem organizou a primeira frota de guerra permanente, com duas grandes bases em Miseno e Ravena, estabelecendo também frotas permanentes em algumas províncias. Entre os almirantes encontravam-se frequentemente homens libertos e as tripulações recrutavam-se entre os homens livres não-cidadãos que, como os auxiliares das tropas de terra, podiam adquirir a cidadania por anos de serviço.

14.10.05

Lista das Legiões Romanas

 Estas são as principais legiões do Império romano; no início as legiões não eram organizações nomeadas permanentes. Os comentários somados incluem duração, causa do desaparecimento (se pertinente) e o seu criador.

Legio I - referida como a "I Germanica" – 48 a.C. até 70 d.C.(rebelião Bataviana)- Julius Caesar
Legio I Adiutrix - 68 d.C até 444 d.C
Legio I Italica - 22 de setembro de 66 d.C até o século V - Nero
Legio I Macriana liberatrix – 68 até 69 d.C., - Lucius Clodius Macer, Governador da Africa
Legio I Minervia - 82 d.C. até o século IV - Domiciano.
Legio I Parthica - 197 d.C. até o século VI - Septimius Severus
Legio II Adiutrix pia fidelis - 70 d.C. até o século III - Vespasiano
Legio II Augusta - Década de 30 a.C.
Legio II Italica - 165 d.C. até o se´culo V - Marcus Aurelius
Legio II Parthica – 197 d.C. até o século IV - Lucius Septimius Severus
Legio II Traiana fortis - 105 d.C. até o século V - Trajano
Legio III Augusta - 43 a.C. até o século V - Augustus
Legio III Cyrenaica - 36 a.C. até o século V - Marcus Antonius
Legio III Gallica - 49 a.C. até o século IV - Julius Caesar
Legio III Italica - 49 a.C. até o século IV - Marcus Aurelius
Legio III Parthica - 197 d.C. até o século V - Lucius Septimius Severus
Legio IV Flavia firma - Veja Legio IV Macedonica
Legio IV Macedonica - 48 a.C até 70 a.C (desbaratada por Vespasiano) - Julius Caesar
Legio IV Scythica - 42 a.C. até o século V - Marcus Antonius
Legio V Alaudae - 52 a.C até 70 d.C (destruída na rebelião Bataviana) - Julius Caesar
Legio V Macedonica
Legio VI Ferrata
Legio VI Victrix
Legio VII Claudia
Legio VII Gemina
Legio VIII Augusta - 59 a.C até o século IV - Caesar
Legio IX Hispana - 58 a.C até 160 d.C - provavelmente Julius Caesar
Legio X Equestris – 58 a.C até o século V - Julius Caesar
Legio X Fretensis
Legio X Gemina - 58 a.C. até o século V - Julius Caesar
Legio XI Claudia - Octavian
Legio XII Fulminata - Caesar
Legio XIII Gemina - 57 a.C. até o século V - Julius Caesar
Legio XIV Gemina - Octavian
Legio XV Apollinaris - Octavian
Legio XV Primigenia - 39 d.C. até 70 d.C. (destruída na rebelião Bataviana) - Caligula
Legio XVI Gallica - Octavian
Legio XVI Flavia Firma
Legio XVII - 41 a.C até 9 d.C. – destruída na batalha da floresta de Teutoburg - Augustus
Legio XVIII - 41 a.C até 9 d.C. – destruída na batalha da floresta de Teutoburg - Augustus
Legio XIX - 41 ou 40 a.C. até 9 d.C. – destruída na batalha da floresta de Teutoburg - Augustus
Legio XX Valeria Victrix – 25 d.C. até o século III - Augustus
Legio XXI Rapax - 31a.C. até 92 d.C (destruída em Pannonia) - Augustus
Legio XXII Deotariana - 48 a.C. até 133 d.C. (destruída pela rebelião judaica) - Deiotarius
Legio XXII Primigenia - 39 d.C até o século III - Caligula
Legio XXX Ulpia Victrix - 105 d.C. até o século V - Trajano


Inscrição num túmulo da Legio VIIII Hispana

13.10.05

O Exército de Augusto

 Naqueles tempos, Roma era um Estado militar governado pela classe senatorial, que já não era representativa. Octávio (que agora já recebia o nome de Octávio Augusto ou simplesmente Augusto) depressa compreendeu que quem controlava o exército dominava Roma a todos os seus domínios; deste modo, adoptou o título de imperator, que se referia apenas ao comando militar, mas que o impunha como uma figura carismática perante os soldados.

 Em consequência das guerras civis, o exército romano cresceu até contar com cerca de 500.000 homens, mas só 230.000 se encontravam sob as ordens de Augusto à data dos combates de Actium. Após esta batalha, decidiu dotar-se de um exército mais reduzido e barato mas que lhe fosse leal; para o conseguir, desmobilizou cerca de cinquenta legiões e recrutou novos legionários. O novo exército compôs-se de vinte e oito legiões, além das coortes pretorianas e urbanas; no total, somavam uns 125.000 homens.

 Desde então, as legiões do império foram preferentemente tropas de fronteira, estacionadas no Baixo Reno, frente à Germânia, no Alto Danúbio e na Síria, dispondo de pequenas guarnições na Hispânia, África e Egipto. Augusto manteve tanto quanto possível a procedência italiana dos legionários, mas no Oriente os soldados tiveram de ser recrutados entre os cidadãos locais. A extensão da cidadania aos provinciais conduziu grandes efectivos às fileiras imperiais, e numerosos cidadãos converteram-se então em soldados profissionais espalhados por todos os territórios do império.



11.10.05

Agripa

Amigo e colaborador de Octávio Augusto, Marco Vipsânio Agripa nasceu no ano 63 a.C. Desde que teve notícia do assassinato de Júlio César pôs-se ao lado de Octávio, de quem foi o general mais importante. Responsável pelas vitórias de Filipos, de Naucolos contra Sexto Pompeu no ano 36. a.C. e a Batalha de Actium contra Marco António em 31 a.C., bem como da reorganização do exército romano.

 No ano 21 a.C., casou-se com Júlia, filha de Octávio. No decurso dos anos 20 e 19 a.C., defendeu a Gália ameaçada pelos Germanos, e em seguida pôs fim à guerra com os Cantábricos que já durava há dez anos. Desde o ano 18 até 12 a.C., foi tribuno de Augusto, desempenhando uma verdadeira co-regência.

 Magnifico administrador, construiu aquedutos, termas, o templo do Panteão e elaborou o mapa do mundo antigo com os dados obtidos em suas viagens. No inverno de 13 a.C. adoeceu e, pouco depois de seu regresso a Roma, em março do ano seguinte, faleceu. Augusto ordenou que fosse sepultado no Mausoléu Imperial.

10.10.05

O Calendário Romano

  Os romanos dividiam o mês em três partes: as calendas, que iam do dia 1 ao dia 6 de qualquer mês; as nonas, que começavam a 7 e iam até aos dias 14; e os idos, que iam dos dias 14 até aos fins de cada mês do ano. Por exemplo, o dia 3 de Maio era para o calendário romano o terceiro dia das calendas desse mês; ou o quarto dia antes das nonas desse mesmo mês; ou o 11.º dia antes dos idos ainda do mesmo mês.


 Cerca de 715 a.C., Numa Pompílio sucede a Rómulo, tornando-se no segundo rei de Roma (até 672 a.C.). Ao analisar o calendário (ler comentários em Rómulo e Remo e Numa Pompílio), Numa apercebe-se que aquele estava atrasado relativamente ao ano trópico. Novos cálculos demonstraram, então, que o ano conteria realmente cerca de 12 lunações – mais duas do que anteriormente admitido – correspondente a 354 dias. Mantendo a nomenclatura dos meses, por esta apresentar um aspecto muito prático, Numa Pompílio defendeu o acréscimo de mais dois meses ao calendário em vigor, Januarius e Februarius. Como era extremamente religioso, todas as regras decretadas por Numa Pompílio tinham uma forte subjectividade de índole religiosa, com relevância especial ao deus Janus (este étimo deriva de janua que significa porta, entrada ou passagem). O deus Jano era considerado o protector de qualquer "abertura", fosse ela concreta ou abstracta. Ele é representado com duas caras opostas, uma à frente e outra atrás.


 Assim, decretou que o ano se iniciaria com o mês Januarius (Janeiro; colocado antes de Março), e finalizaria com Februarius (Fevereiro; colocado após Dezembro)! Januarius, deriva do deus Jano. Februarius deriva de Februo, deus dos mortos. Outros historiadores indicam, porém, a derivação de februare, purificar.

 Facilmente se entende a ideia que ambos os meses indiciam: o ano velho morre no último mês, tempo em que cada um terá de se purificar (Fevereiro), a fim de poder entrar pela passagem (Janeiro) do novo ano.

 Curiosamente, a Fevereiro foram atribuídos apenas 23 dias. Em sucessivos anos, a extensão deste ano civil foi sendo alterada, conforme os caprichos da população, por esta se aperceber de algum assincronismo com o ano trópico. Também se relatam "interesses obscuros" em prolongar o ano civil. Sempre que havia necessidade de o alterar, faziam-no, tradicionalmente, após o 23 de Fevereiro (ou seja, no fim do ano). Tanto eram introduzidos apenas alguns dias, como meses inteiros, os denominados meses intercalares. Esse dia, 23 de Fevereiro, adquiriu tal importância que se manteve até aos dias actuais — repare-se no caso do ano bissexto

 Numa Pompílio alterou também a duração de cada mês. Aparentemente, os números pares eram fatídicos e apresentavam uma simbologia mortal. Em oposição, os números ímpares agradavam consideravelmente aos deuses. Assim, Janeiro passou a ter 29 dias, e os restantes passariam a ter 29 ou 31 dias - os de 30 dias passavam a ter menos um!


 Em 46 a.C., Caio Júlio César, triúnviro de Roma, foi nomeado Chefe do Colégio dos Pontífices — instituição responsável pela estruturação dos calendários. Actuando igualmente através do Tribunal dos Decênviros – instituição que decidia sobre as Leis e Regras da Sociedade Romana – introduziu o Calendário Juliano, um calendário mais fiel ao ano trópico, com novas regras. Os meses de 29 dias passavam agora a ter, novamente, 30 dias. Fevereiro, que por 450 a.C. fora posto entre Janeiro e Março, passava a ter 29 dias em anos regulares, e 30 dias nos anos bissextos! O novo ano civil (com 365,25 dias) estava finalmente sincronizado com o ano trópico. Este calendário (luni-solar) foi promulgado pelo decreto De Astris, substituindo o antigo calendário lunar romano do rei Numa Pompílio. (Quem realmente o desenvolveu foi um estudante de Astronomia graduado — Sosígenes — mas César impôs o seu nome).

 Foi nesse mesmo ano de 46 a.C. que Júlio César se prepara para introduzir a sua reforma do calendário. Aparentemente no intuito de sincronizar o calendário juliano com o tropical no ponto vernal (equinócio da Primavera), prolonga o ano com mais 80 dias. Foi o Annus Confusionus – o ano da confusão, com 445 dias!

 Um ano após a reforma, é decidido homenagear Júlio César no seu próprio calendário, por ter efectuado aquela reforma. Então, alteraram o nome do agora sétimo mês, Quintilius, para um mais conhecido, Julius - Julho, para que Júlio César nunca mais fosse esquecido. (A razão da escolha deste mês incide, aparentemente, sobre a sua data de nascimento: César terá nascido neste mês.)

 Durante os reinados seguintes, o último dia de cada mês foi sendo arrastado para os meses vizinhos, consoante as opiniões em voga!

 Augustus Caesar (Augusto César – sucessor de Júlio César) introduziu a última alteração oficial que se manteve até aos nossos dias. Orgulhoso como era, e tendo obtido com sucesso grandes feitos para a sociedade romana, escolheu outro mês como homenagem a si mesmo, numa acção similar a Júlio César! O mês indiciado foi o sucessor de Julho, Sextilis, e alterou-o para Augustus - Agosto. Mas este mês só tinha 30 dias; sendo da opinião que ele próprio não era inferior a Júlio César, retirou um dia ao "tradicional" mês de Fevereiro, colocando-o no mês de Agosto, ficando este então com 31. O mês de Fevereiro estabilizou finalmente, com apenas 28 dias em anos regulares, e 29 dias em anos bissextos!

  Infelizmente, a sua grandiosidade não foi suficiente para acabar com a proliferação de erros que continuamente se cometiam no calendário. Somente após o ano 8 d.C. foi atingido o fim desse caos, a partir do qual se atingiu a estabilização definitiva do mesmo (até ao aparecimento do calendário Gregoriano)!

8.10.05

Augusto – O Herdeiro de César

OCTAVIUS AUGUSTUS

(Caivs Ivlivs Caesar Octavivs Avgvstvs)

27 a.C. a 14 d.C.

 Gaius Julius Caesar Octavianus (63 a.C.-14 d.C.), sobrinho-neto de Júlio César, cujo assassinato se encarregou de vingar, inauguraria, mercê do seu génio político e administrativo, uma época de esplendor e prosperidade no mundo antigo. Como Júlio César, viria a fazer parte, logo após a sua morte, do panteão dos deuses de Roma.

 Seu pai, Caius Octavius, foi edil e pretor em Roma e, mais tarde, procônsul na Macedónia. A mãe, Ácia, era sobrinha de Júlio César, e este, interessando-se pela carreira do sobrinho-neto, deu-lhe educação aprimorada e o adoptou como filho em testamento. O herdeiro, que mais tarde seria conhecido como Augusto, mudou o seu nome para Caio Júlio César Octávio. Com tal patrocínio, a carreira política de Augusto foi fulgurante desde o início.

 A 15 de Março do ano 44 a.C., Júlio César foi assassinado por um grupo de senadores republicanos que desejavam devolver o poder ao Senado.

 No entanto, os assassinos de César não conseguiram restaurar a República, pois Marco António e Lépido, legados militares do falecido, controlavam o exército, e graças a esse facto puderam arrebatar o poder e submeter o Senado. De imediato, Marco António marchou com as suas tropas contra os assassinos de César, enfrentando o exército dos republicanos em Módena. O resultado da batalha manteve-se incerto, até ao ponto de os republicanos parecerem estar quase a vencer quando foram derrotados pelo jovem Octávio, com um exército recrutado com o seu próprio dinheiro.

 Dois cônsules tinham morrido em combate e Octávio reclamou um dos lugares vagos (a que não tinha direito, dada sua pouca idade).; quando o Senado lho negou, marchou com os seus soldados até Roma e obrigou os senadores conceder-lhe não só o consulado, mas também poderes excepcionais, assim como o imperium, isto é, o comando militar, em 19 de Agosto de 43 a.C.. Ainda em 43, sob o pretexto de restaurar a República, impôs o segundo triunvirato de cinco anos – o primeiro tinha sido César, Pompeu e Crasso, ao qual presidiu na companhia de Marco António e Lépido, os dois antigos tribunos de César, tendo os três homens dividido entre si o governo do território do império. O triunvirato duraria oficialmente dez anos, mas a influência real de Lépido – nomeado para o cargo de Sumo Pontífice, apagar-se-ia antes do termo desse período.

 Deste modo se tornava evidente a disputa entre Augusto, com o governo do Ocidente, e Marco António, com o do Oriente, pelo domínio de Roma. Em 31 a. C., Augusto declara guerra a Cleópatra, a quem o seu adversário se aliara. Com a conquista do Egipto no ano seguinte, Marco António e a rainha suicidar-se-iam.

 A partir de então, sem rivais a enfrentar, Augusto funda o Império Romano e pôde começar, com um talento político e organizativo ímpar, a dispor de novo as estruturas do império de tal modo que garantia para si o controlo efectivo dos poderes essenciais ao mesmo tempo que mantinha as instituições republicanas. A chave do seu poder residiu num exército fiel, capaz de fortalecer o Estado, ainda que este recurso tenha acabado por gerar um regime militarista. Augusto, formalmente, nunca se proclamou imperador. Assim, durante largos anos ostentou apenas os títulos de cônsul e tribuno, não havendo, contudo, dúvidas de que o seu poder era virtualmente ilimitado. Mais tarde assumiria também a direcção do culto religioso romano. O senado concedeu a Octávio o título de «Augustus» em 16 de Janeiro de 27 a.C., cognome religioso que consagrava sua missão como divina

 Enquanto os seus generais iam alargando os limites territoriais do império, sobretudo no continente europeu, Augusto consolidava o poder central e organizava a administração no que dizia respeito ao emprego de funcionários, à cobrança de impostos, à emissão de moeda e à manutenção da ordem pela frota e pelas legiões de Roma. Desta forma, o exercício do poder absoluto por Augusto coincidiria com uma época de paz e estabilidade interna no império (a chamada pax romana), época bem diferente do período conturbado das guerras civis que a precederam. Época áurea do império em vista da ordem social estabelecida e da extensão territorial alcançada, foi também notável pelas grandes obras realizadas (inúmeros templos foram erigidos, fez-se uma extraordinária rede de estradas) e pelas suas manifestações culturais, sobretudo no campo da literatura, em que se distinguiram autores como Virgílio, Horácio e Tito Lívio.
 Morre a 19 de Agosto (Augustus em latim) em Nola, aos 76 anos.

4.10.05

A Guerra Civil

 Octávio, que recebera o título de princeps, era a personagem com mais prerrogativas da urbe e fomentava as intrigas contra Marco António, acusando-o de pretender impor a Roma uma monarquia oriental com capital em Alexandria. Na Primavera do ano 32 a.C., Marco António enviou uma carta ao Senado propondo-lhe restaurar a República e jubilar os que detinham o poder. Octávio reagiu afirmando que se tratava de uma manobra de Cleópatra e declarou-lhe guerra. A 2 de Setembro de 31 a.C., na antiga Grécia, perto do promontório de Áccio - consagrado a Apolo -, à entrada do Golfo de Arta as frotas de ambos defrontaram-se, onde venceram os barcos de Octávio, comandados como sempre por Agripa.

 Os derrotados refugiaram-se em Alexandria na esperança de poder combater o seu adversário mais tarde no Egipto ou na Síria. Octávio entreteve-se a subjugar os rebeldes da Grécia e da Itália e a isolar diplomaticamente Marco António. Só uma vez conseguidos estes objectivos se encaminhou para o Egipto. Ao desembarcar, foi atacado pelo inimigo, mas conseguiu cercar a cidade, cujos defensores se renderam. Marco António suicida-se em Julho e Cleópatra em Agosto, data em que Octávio se apodera do Egipto. Octávio acolheu os seus dois filhos como se fossem dele, mas mandou assassinar Cesário, pois como filho de César podia disputar-lhe a herança.

 Deste modo, Octávio apoderou-se de todos os territórios romanos, mas a sua propaganda contra Marco António estimulara os sentimentos antimonárquicos do povo. Não podia proclamar-se rei e não o fez, limitando-se a acumular poder e títulos: o ímperium, do comando militar, o princeps, como principal cidadão, e a tribuna potestas, para propor e vetar leis, passando a ser Augustus, termo derivado do vocabulário religioso; assumiu também o comando das províncias com guarnição militar, enquanto o Senado governava as restantes.

 Desde o ano 27 a.C. que a maior parte do poder político, militar e financeiro de Roma se encontrava nas suas mãos, e quando no ano 12 d.C. Lépido morreu, Augusto sucedeu-lhe como pontífice máximo; finalmente, no ano 2 a.C., o Senado nomeou-o pater patriae


Tapete dedicado à Batalha de Actium.

1.10.05

Marco António

 Marco António foi ao Egipto e, como antes ocorrera a César, enamorou-se da rainha Cleópatra VII, cedendo-lhe a Fenícia, Chipre e parte da Arábia e da Palestina. O casal instalou-se em Alexandria; entretanto, Fúlvia e o cônsul Lutácio, esposa e irmão de Marco António, organizavam uma nova conspiração em Roma e formavam um exército com o intuito de conquistar o poder, e assim suprimir a ditadura. Octávio fez-lhes frente, desbaratando os seus planos, e o seu general Agripa derrotou os conspiradores, que se tinham refugiado em Perúsia.

 Cleópatra, decidida a aproveitar a incipiente guerra civil, impeliu Marco António a embarcar com as suas tropas para Brindisi, mas, uma vez lá chegados, os soldados romanos de ambas as facções negaram-se a combater. A Paz de Brindisi reconciliou-os, casando António com Octávia, irmã de Octávio. Pouco depois, Marco António voltou as suas energias para um objectivo que parecia mais fácil e marchou até à Pérsia, onde Labieno, filho de um general romano que traíra César, organizara as forças dos Partos. A campanha resultou inglória para os Romanos, que perseguiram inutilmente os Partos ao longo de 500 km e sofreram numerosas baixas sem beneficio algum. Apesar de tudo, de regresso a Alexandria, Marco António fez-se receber triunfalmente, casou com Cleópatra —de quem já tinha dois filhos e nomeou Cesário, o filho que ela tinha de César, herdeiro do Egipto e de Chipre.

 Marco António tinha sido lugar-tenente de Júlio César, e, se de início se opôs a Octávio, acabou por ceder, integrando-se no triunvirato que durante breves anos governou Roma. Mas a ambição de ambos os dirigentes colocava-os em oposição permanente, e os seus exércitos acabaram por se defrontar no ano 31 a.C., na Batalha de Actium. Marco António foi derrotado e acabou por se suicidar.