23.9.10

Abicada

Situada a pouca distância da estrada que liga Portimão a Lagos (perto da Ria de Alvor) e depois de quase um km por estrada de areia em muito mau estado, vejo as ruínas de uma Villa Romana. Completamente abandonada, com uma cerca aberta sem ninguém a guardá-la.


Qualquer visitante pode levar as tesselas ainda existentes, descaracterizando mais uma zona que deveria ser preservada e restaurada por quem de direito, neste caso, o IPPAR.


Pouco explorada só dá para ver restos de uma habitação. O local deveria servir para escoamento de produtos piscícolas através da Ria que na época não deveria estar tão afastada.


É com imensa tristeza e revolta que mais uma vez verifico que este país é um país do deixa-andar. Quando não acarinhámos o passado como é que podemos preparar o futuro? É deixar andar e está feito.


Fotos: Marius70

Testemunho do passado

27.7.10

Ruínas Romanas de Cardílio

Por indicação de António Duarte Rodrigues (que comentou no meu blogue "Rumo ao Sul") marius foi até Torres Novas a fim de visitar as Ruínas Romanas de Cardílio.


Segundo os estudiosos, Cardilivm seria o nome do romano que habitava a Villa, embora hajam outras hipóteses para que assim não seja. Isto de revolver o passado e quando não há consenso, raramente se chega a uma conclusão pois todos querem ser os donos da verdade.


Marius já viu ruínas em pior estado (Abicada - Portimão, votada ao abandono), e muito há ainda para explorar no subsolo desta Vila, embora se saiba que, através dos tempos, os locais retiraram, para construção das suas próprias casas, muito do legado deixado pelos romanos como sucedeu em Ammaia.

Verifiquei que falta ali um telheiro para salvaguardar os mosaicos dos efeitos nocivos do sol e da chuva como vi nas ruínas de Torre de Palma.

Há que realçar, em todos as ruínas de Villas que marius visitou, que não faltavam os peristylium, pátio quadrangular com um alpendre assente em colunas que tinha um tanque ao meio, o impluvium. Para os romanos os banhos eram ponto de honra, depois veio o tempo das trevas onde o mexer no corpo, nas partes íntimas, para tomar banho era considerado pecado (ainda hoje na Inglaterra o "bidé" não faz parte das casas de banho. Curiosa é a publicidade do "Hotel Inglaterra" - Estoril, onde referem eles que (passo a citar): «Os banheiros possuem bidês». Elucidativo.)

Aqui fica o que está escrito sobre estas ruínas que consta no "Folheto Turístico" da Câmara de Torres Novas. Passo a citar:

Muito antes de 1930 as ruínas romanas eram exploradas como pedreira pelos rurais dos arredores, donde arrancavam materiais destinados à construção das suas próprias casas.

Devido a diligências da Câmara Municipal de Torres Novas, só no ano de 1963 se procedeu à escavação arqueológica orientada por Afonso do Paço, que veio a descobrir um conjunto de alicerces, bases de coluna e pavimentos ornamentados com diversos quadros de "tesselas", formando um edifício composto de três elementos principais: entrada, peristilo e exedra.

Os mosaicos, de cores vivas e motivos geométricos, predominando os de tranças e entrelaçados, estão distribuídos pelas diversas salas.

Evidenciam-se outros representando o quadro das aves de grupos opostos, o dos retratos dos donos da casa com motivos agrícolas e, mais famoso, o da inscrição latina VIVENTES CARDILIVM ET AVITAM FELIX TURRE.

Diversos materiais foram achados numa camada sobre os mosaicos, alguns estudados por Adília Alarcão e Jorge Alarcão, que se encontram guardados no Museu, tais como cerâmicas com marcas AVIL - OF COCI - MODEST F - MVTIS - NAVS - SECUNDVS - SENILIS F - SILVIP ZOILI - OF VA P. -, diversos fragmentos de formas lisas ou decoradas, uma ânfora, lucernas, vidros do século I ao IV da nossa era, metais, marfim, osso, mármore, e, posteriormente, uma estátua de menino nú (Eros).

VILA DE CARDILIO chamam às ruínas romanas, porque o nome de CARDILIVM nelas aparece delineado por pequenas tesselas de mosaico, de mãos dadas com o de AVITAM, que dois bustos, de tesselas também, parecem sugerir casal feliz na não menos FELIX TVRRE.

Mas a interpretação não é assim tão simples, nem linear, pois a famosa inscrição latina VIVENTES CARDILIVM ETAVITAM FELIXTVRRE, inserida no OPVS TESSELLATVM de uma sala, como legenda dos dois bustos, separados por foice e postos acima de duas crateras tombadas, tem merecido quase tantas traduções quantos os epigrafistas.

E o segredo permanece, de mistura com a sedução daquela TVRRE (que pode estar na origem das nossas TORRES novas) e do seu par Romano, de agricultores com certeza, a julgar pela VILLA em que viviam e pelos vasos e foice, testemunhos de vida agrícola, e prováveis símbolos de vinho e de pão.

Muitas são as interpretações tecidas à volta das seis palavras enigmáticas:

FELIX DE TVRRE fez estes mosaicos para CARDILIO e AVITA que ali viviam;

FELIX DE TVRRE fez os mosaicos em homenagem a CARDILIO e AVITA;

FELIX fez o retrato de CARDILlO e de AVITA, em vida, na localidade chamada TVRRIS;

A TORRE será feliz enquanto viverem CARDILIO e AVITA;

Vivendo CARDILIO e AVITA na TORRE FELIZ; CARDILIO e AVITA vivem felizes nesta TORRE; CARDILIO e AVITA morando na TORRE FELIZ. Se admitido está que CARDILIO e AVITA terão vivido no século IV, há construções, e espólio recolhido e identificado, que apontam para ocupação anterior, nos séculos I e II.


Das Ruínas, com extensos pavimentos de OPVS SIGNINVM e OPUS TESSELLATVM, sobressaem:

- PERISTYLVM, ou elemento central, com vestígios de doze colunas, quatro de cada lado, que formam um claustro, com vinte metros de lado, em que se insere faixa de 3,50 m de largura, revestido por seis diferentes tapetes de mosaicos. Nestes mosaicos, de tesselas de pedras azuis e brancas, que se misturam com outras de barro vermelho e amarelo, abundam os motivos geométricos (círculos secantes, quadrados, losangos simples ou combinados, triângulos seriados, círculos concêntricos), que se completam com nós de Salomão simples ou múltiplos, tranças, quadradinhos polícromos, etc.

Ao centro um quadrado de onze metros de lado, que seria jardim, com um poço revestido de alvenaria, de cerca de sete metros de profundidade, no extremo sul.

As escavações de 1984 puseram a descoberto, neste jardim, uma conduta e restos de paredes de construção anterior à "villa".

Uma calha de 50 em de largura, de OPVS SIGNINVM, corre ao longo dos quatro lados do quadrado.

OSTIVM. que terá sido a entrada principal, a poente do claustro, pavimentada por mosaico de tesselas, de cerca de 5x5 m.

Este mosaico é constituído por vários painéis, num dos quais, colocado a meio da segunda Fila, a inscrição já atrás referida. Noutro painel, na fila imediatamente abaixo, e descentrado para a esquerda, o busto de CARDILIO, de cabelo curto e ombro direito nu, com pregas na toga de púrpura, presa por fíbula, e o de AVITA, de cabeleira de vidros azuis-claros e tesselas azuis-escuras, e com veste que deixa desnudado o ombro direito.

Em terceiro painel, bem emoldurado, um grupo de quatro aves com flores pendentes dos bicos, postas duas a duas, em sentidos diametralmente opostos. Preenche o conjunto rica ornamentação de motivos geométricos (cubos em perspectiva, semicírculos. quadrados, triângulos, rombos, nós de Salomão, etc.), em tesselas azuis, vermelhas e amarelas sobre fundo branco.

O peristylum comunica a nascente com uma ampla sala de 10x6,5 m, pavimentada a OPVS SIGNINVM, ao fundo da qual se abre uma ábside que apresenta no pavimento uma fiada de buracos, onde se mantêm incrustados vestígios de cinzas, porventura emulsionadas com óleos e gorduras. É a EXEDRA, precedida de pórtico, que houve quatro colunas de frente e duas laterais. Eram de mármore as bases que se conheceram de três colunas e das quais só uma existe hoje.
Tanque a nordeste do peristylum, ladeado por colunas de tijolo, em três das suas quatro faces.
Pequena arcaria de tijolo para aquecimento, a poente do peristylum.


Texto de J. R. Bicho

in "Folheto Turístico", ed. Serviços Culturais da Câmara Municipal de Torres Novas

Fotos: Marius70

16.7.10

Macrinus e Diadumenianus

Macrinus
(Marcvs Opellivs Macrinvs)
Imperador - 217 a 218 d.C.

Macrino


Nascido obscuramente, por volta de 166, em Cesaréia, na Muritânia, Marcus Opellius Macrinus foi agente financeiro do poderoso prefeito pretoriano Caius Fulvius Plautianus e, mais tarde, sob Caracalla, foi prefeito pretoriano. Depois de arquitectar a morte de Caracalla, tornou-se seu substituto e indicou seu filho, Marcvs Opellivs Macrinvs Diadumenianus, para o cargo de caesar (217). Suas nomeações ilícitas provocaram hostilidade do Senado e após uma campanha desastrosa contra os partos, as tropas rebelaram-se e proclamaram imperador Elagabalus (203-222). Macrinus foi derrotado e capturado e, em função da sua incompetência militar e administrativa, foi executado, assim como seu filho Diadumenianus, pelas tropas rebeldes.

Diadumenianus
(Marcvs Opellivs Antoninvs Diadvmenianvs)
Filho de Macrinus - 218 d.C. (co-imperador com seu pai)

Diadúmeno


Marcus Opellius Diadumenianus era filho do imperador Macrinus. Nasceu em 208 d.C. Seu pai, ao ser aclamado imperador, nomeou-o caesar em 217 d.C. tendo adoptado o nome Antoninus, indicando a sua vinculação com a dinastia de Caracalla e mais tarde, augustus; mas a incompetência militar e administrativa de Macrinus teve como conseqüência o assassinato dos dois em 218 d.C. por tropas rebeldes, fiéis à memória de Caracalla.

12.5.10

Geta

GETA
(Pvblivs Lvcivs Septimivs Geta)
Augustus - 209 a 212 d.C.

Geta


Geta era o filho mais novo do imperador Septimo Severo. Nasceu em 189 d.C. e foi proclamado César em 198, quando seu irmão mais velho, Caracalla, se tornou augusto.
Os dois irmãos levaram uma vida dissoluta provocando escândalos frequentes. Certo é que a rivalidade entre os dois irmãos cresceu de tal forma que chegou a transformar-se num ódio profundo. Geta, durante as campanhas de 208 a 211, no norte da Bretanha, administrou as regiões do sul. Tornou-se augusto no ano 209.

Após a morte de seu pai, em 211 d.C., Geta e Caracalla voltaram para Roma mas o ódio continuava latente e assim o palácio teve que ser dividido em dois. Os dois irmãos governavam em conjunto, mas Caracalla não suportava nenhum rival e, em Dezembro de 211, sob o pretexto de uma reconciliação, esfaqueou o irmão até à morte nos braços da mãe Júlia Domma (que se suicidou em 217, após a morte de Caracalla). Não bastando isso Caracalla tentou apagar completamente a figura do irmão, anulando tudo o que o fizesse recordar como a face dos retratos e apagando o seu nome das inscrições. Não o conseguiu na totalidade, como se pode comprovar pelo busto acima e pelo denário cunhado em 202/209 em Roma.

5.2.10

As mulas de Marius



Em marcha, o legionário carregava seu equipamento individual, o que incluía rações para um período de 3 (o mais comum) até 15 ou 20 dias. Em campanha, cada soldado não transportava apenas a sua armadura e as armas, também carregava ferramentas (serra, picareta, pá e foice), uma cesta, um balde, roupas extras, utensílios de cozinha, panela e copo. De acordo com a quantidade de rações, o peso carregado oscilava entre 15 e 35 quilos. A trouxa (sarcinae) era colocada na ponta de uma vara com forquilha que levava ao ombro.



Assim equipados, os soldados estavam menos dependentes dos comboios de bagagem dando grande mobilidade nas suas deslocações, podendo percorrer longas distâncias no mais curto espaço de tempo. As mulas carregavam os materiais necessários para fortificarem as posições quando se erguia um forte ou acampamento. Levando a sua carga, o soldado estava em regime de marcha pesada, (impeditus). Sem ela, o regime era de marcha ligeira, (expeditus). Sob chuva pesada, os escudos eram levados no alto da cabeça do legionário. Antes da batalha, os embrulhos eram arrumados juntos, sob guarda.

Em tempos de paz ou durante o inverno, instrução constante era levada a cabo, tanto a disciplina de marcha quanto o treinamento com armas. Manobras eram uma parte regular do treinamento e três vezes por mês uma marcha de 16 a 30 km (as legiões de Julius Cesar percorriam em marcha forçada diariamente 50km, tendo este dito que as guerras se ganhavam com os pés), carregados com tudo o que era necessário para a sua sobrevivência. Os homens eram constantemente endurecidos pelo uso da pá, picareta e enxada, em tarefas constantes de construção e engenharia. Sob o Império, as tropas eram usadas na execução de obras públicas: canais, estradas, pontes, anfiteatros e etc.

Sobre o consulado de Marius foi introduzido o estandarte da Águia, que era defendido pelos seus soldados dando a sua própria vida para que o símbolo não caísse em mãos inimigas.

13.1.10

Caracalla

CARACALLA
(Marcvs Avrelivs - Septimivs Bassianvs - Antoninvs)
Imperador - 211 a 217 d.C.

Caracalla


Imperador romano (188-217) nascido em Lugdunum (actual Lyon) assassinado na Mesopotâmia, quando se dirigia com as suas tropas para oferecer culto no templo de um deus lunar de Carras. Foi apunhalado pelas costas na beira de uma estrada quando desceu da sua montaria para urinar pelo seu prefeito pretoriano Macrino. Governou primeiro com Septímio Severo, seu pai (198-211), e depois sozinho.



O apelido de "Caracalla", pelo qual é conhecido, veio do nome do manto gaulês com capuz que usava frequentemente.

Caracalla foi um dos mais cruéis tiranos da história do Império Romano. Ele e o seu irmão mais novo Geta (que matou, após uma conspiração, nos braços de sua mãe), acompanhavam o pai nas campanhas da Bretanha de 208 a 211. A instabilidade mental de Caracalla começava a preocupar e, em certa ocasião, teria quase esfaqueado o pai pelas costas em frente de todo o exército. Severo teria reagido convidando-o ironicamente a matá-lo "já que estás no auge das tuas forças e eu sou um velho".

Mãe de Caracalla


Completou a unificação do império. O seu nome ficou ligado ao Constitutio Antoniniana (também conhecida como Édito de Caracalla ou Édito de 212), que concedia a todos os homens livres do império o título e direitos de cidadania. Inaugurou umas notáveis termas, que ainda hoje podem ser visitadas na cidade de Roma.

Termas de Caracalla


Termas romanas iniciadas por Septímio Severo e inauguradas por seu filho Caracalla, em 216 d.C. Embora hoje estejam relativamente afastadas, originalmente encontravam-se num ponto muito urbanizado de Roma, entre o Célio e o Aventino.

As termas eram públicas e gratuitas, funcionando com o mecenato dos patrícios ricos. Apesar de se encontrarem em ruínas, estas são as únicas no mundo que demonstram verdadeiramente como seriam umas termas romanas, que parecem seguir sempre o mesmo plano, com mais ou menos monumentalidade: uma sala central, com frigidarium de um lado (banhos de água fria), e do outro o tepidarium e o caldarium (tratamentos de massagem e vapor). Outra das suas salas, o laconicum, era para convívio e leitura, albergando em alguns casos uma biblioteca.

A sua função era terapêutica mas também lúdica, pelo que podiam incluir áreas para lojas, livrarias, teatros. Na parte de trás do edifício situava-se o estádio, para a prática de exercícios físicos. Os tectos das termas de Caracala eram abobadados de forma impensável para uma estrutura sem esqueleto de ferro, como nos nossos dias. Era também ricamente decorada com pinturas e mosaicos.