18.12.05

Vergílio

 Publius Vergilius Maro nasceu em 70 a. C., em Andes, perto de Mântua, de família modesta (o pai era lavrador) mas que lhe proporcionou uma boa instrução. Estudou inicialmente em Cremona e depois em Nápoles e Milão, onde terá composto os pequenos poemas, como Culex e Copa, que lhe são atribuídos. Apresentado ao governador da Gália Cisalpina, Polião, compôs as Bucólicas (41-39 a. C.). Através de Mecenas conheceu Horácio. Aconselhado por Mecenas, e para servir os projectos de Augusto, que desejava fazer renascer na Itália a agricultura e os velhos costumes, produziu as Geórgicas. Tanto nas Bucólicas como nas Geórgicas, Vergílio lembra-se com doçura da sua terra natal, levando-o a cantar as belezas da vida campestre.

 Na sua grande obra épica, Eneida, obra que celebra a grandeza de Augusto atribuindo-lhe ascendência divina, cuja prestigiosa figura se fazia derivar a estirpe latina, ordenava: «Não se esqueçam, Romanos, de governar as nações». Governar o mundo não era apenas um privilégio de Roma, era sobretudo um dever. O seu exilado herói troiano, o pius (piedoso ou respeitador) Eneias, pode mesmo ter sido um idealizado ícone do próprio Augusto, como ele desejava ser visto: discretamente corajoso, amável e sensível, mas simples e modesto nos seus gestos; o chefe consciencioso cuja vida era humildemente dedicada ao seu povo. Para acabar este poema quis conhecer a Grécia. Morreu em Brindes (19 a. C.) no retorno dessa viagem. Tinha 51 anos.



 A Eneida, inacabada, foi publicada pelos seus amigos que, felizmente, não a destruíram como era sua vontade.

 Vergílio, cisalpino e quase celta é, incontestavelmente, o poeta mais perfeito da literatura romana. A sua doçura e a sua melancolia sonhadora são quase excepção na história do espírito latino.

8.12.05

Século de Augusto - (43 a.C. – 14 d.C.)

A paz Octaviana e a protecção admirável às artes e às letras fizeram surgir uma plêiade admirável de artistas que engrandeceram o Século de Augusto.

 Mereceu o primeiro "imperador" romano baptizar o seu século, pelo admirável desenvolvimento artístico que empreendeu em todo o império e principalmente em Roma, atingindo a civilização latina o seu período áureo.

 Agripa continuou as grandes obras de utilidade pública, cobrindo a cidade de Roma de tal esplendor que seduziu os espíritos ávidos de cultura, tornando-se a capital intelectual do mundo antigo. Mecenas grande cooperador de Augusto e, amigo íntimo de Vergílio, mereceu o cognome de «Pai dos artistas» pelo carinho incansável com que os patrocinou.

Poesia Épica


  Lucrécio – escreveu o admirável poema «Natureza» onde defendia as ideias materialistas de Epicuro, filósofo grego, atacando as crenças religiosas.

  Vergílio– Nasceu perto de Mântua; cantou a sua epopeia «Eneida» o herói da guerra de Tróia e do povo romano, glorificando deste modo Augusto. A doçura da sua terra natal levou-o a cantar nas suas «Bucólicas» e «Geórgicas» as belezas da vida campestre.

Poesia Lírica



 Cátulo – Exprimiu o seu sentimento poético em agradáveis elegias.




 Horácio – É neste género a glória da cultura latina clássica. Cantou a sua alegria de viver nas suas «Odes», e retrata os seus contemporâneos nas «Sátiras».


 Ovídio – Desterrado da corte de Augusto, ignorando-se o motivo, escreveu, antes do exílio: «Amores» e Metamorfoses»; durante o exílio: «Tristia» e «Pônticas», na cidade Tomi, perto do Mar Negro.

História

 Salústio – Nasceu em 86 a. C., na Sabínia, de família plebeia, mas rica. Expulso do Senado em 50 a. C. pelos seus maus costumes, colocou-se ao lado de César quando este transpôs o Rubicão (49 a.C.). Foi um crítico severo contra a avareza patrícia. Escreveu: «Da Conjuração de Catilina» e «Da Guerra de Jugarta». Perderam-se as suas «Histórias» sobre os acontecimentos romanos. Morreu em 34 a.C.




 Júlio César
– Hábil político e admirável general, descreveu-nos as suas campanhas da Gália no seu livro: «Comentários da guerra gaulesa»; no outro seu livro «Comentários da guerra civil» narra-nos as suas lutas com Pompeu.




 Tito Lívio– Tito Lívio nasceu em 59 a.C. em Pádua e morreu em 16 d.C. na mesma cidade. Era de família patrícia e foi amigo de Augusto e preceptor de Cláudio. Foi enorme a sua reputação como escritor.
A sua História Romana desde a fundação compunha-se de 142 livros dos quais nos chegaram apenas os livros I-IX e XXI-XLV mais alguns fragmentos tendo trabalhado nela 21 anos. Descreve-nos, com independência crítica, as vicissitudes da história romana, desde Rómulo até à morte de Druso irmão de Tibério.

Geografia



 Agripa
– Cultor entusiasta, fez a carta do império romano.


Artes

 Agripa e Augusto – Ao restaurar os antigos templos de Roma, Augusto, voltou a desenvolver o Fórum, criou novos anfiteatros, pórticos, palácios e santuários. O Panteão e o Altar da Paz são obras de admirável valor artístico. «Roma era uma cidade de tijolos, transformei-a numa cidade de mármore» disse Augusto.




O templo de Marte Ultor «Marte o vingador» foi mandado construir em cumprimento a uma promessa de Augusto, por ter perseguido os assassinos do seu tio Júlio César.

28.11.05

Pax Romana - (27 a.C.-180 d.C.)


 A tranquilidade que pairou em todo o império durante o reinado de Octávio é conhecida na história pelo nome de «Paz Octaviana». Político arguto e prudente, recusa aparentemente o título de rei e ditador. Confia o exército a Agripa e Tibério, cerca-se de hábeis conselheiros como Mecenas e, dando ao povo a doce ilusão do triunfo democrático, vai silenciosamente acumulando todos os poderes desde o Sumo Pontífice, até ao de tribuno da plebe (para ser impune), tornando-se um imperador absoluto e recebendo do Senado o título de Augusto, próprio dos deuses. Fundou uma guarda própria chamada a «Coorte Pretoriana», reprimiu a imoralidade, desenvolveu o comércio abrindo novas vias de comunicação, ampliou as fronteiras do império do Danúbio e Elba, sendo porém infeliz na campanha contra Armínio, chefe dos Sicambros, em que Varo perdeu três legiões (XVII, XVIII e XIX) na região pantanosa de Teutoburgo.

 Reorganizou o governo das Províncias, dividindo-as em

  Senatoriais – eram governadas por Pró-Consules, nomeados pelo Senado, que possuíam somente autoridade civil.

  Imperatoriais – governados por Pró-Pretores, em nome do imperador, tinham autoridade civil e militar

  Independentes – conservavam os seus reis próprios cujo governo era fiscalizado pelo imperador.

 Augusto diminuiu o exército de 500.000 soldados para cerca de 300.000 que foram enviados para as províncias e para as fronteiras mantendo assim uma paz armada. Ocasionalmente existem algumas escaramuças nas fronteiras, mas o Império é um lugar tranquilo para se viver. Sem nenhuma potência capaz de ameaçar Roma (a Pártia era o maior adversário militar, mas normalmente bastavam algumas demonstrações de força para os convencer a ceder às vontades dos Césares) o Mundo Romano conhece um excepcional desenvolvimento na Literatura, Arquitectura, Escultura, Matemática, Geografia, Astronomia, Medicina, Direito...

 Desenvolve-se o comércio entre as províncias e Roma através do Mediterrâneo, pacificado pela marinha Romana, tornando-se assim num «Lago Romano». Neste período efectua-se a «Romanização» do vasto Império, tendo o Latim sido adoptado como Língua oficial e falada por todos (esta Língua viria depois originar o Português), o exército Romano mantinha a ordem nas províncias e construía pontes, estradas e cidades onde elas não existiam. Augusto era reconhecido como o Chefe de Estado e adorado como um deus.

 Este excepcional período de 207 anos terminaria em 180. Nunca mais na Europa haveria uma paz tão duradoura.



O Altar da Paz foi erguido pelo Senado no Campo de Marte, em Roma, no ano 13 a.C., para comemorar a paz conseguida por Augusto.

17.11.05

A batalha da Floresta de Teutoburgo



 No ano 7 d.C., Publio Quintilio Varo, (casado com a filha de Agrippa e neta de Augusto), é nomeado governador da Germania. Grande parte da Germania (até ao Rio Elba) estava ocupada, relativamente pacificada e submetida, não fosse Augusto ter escolhido Quintilio Varo para General de 3 legiões, XVII, a XVIII e a XIX - eram cinco as legiões romanas aquarteladas no ano do desastre na fronteira germana, além das descritas também a XIV e a XIX - tê-la-ia conquistada toda. Varo nem soldado era, mas sim um cônsul e, assim no ano 9 d.C., os Romanos sofreram uma emboscada na Floresta de Teutoburgo, que dizimou as três legiões.




 Arminio (filho de Sigimero, líder dos Queruscos, nascido no ano 19 a.C.), um bárbaro germânico que servira no exército Romano, avisou Varo de uma revolta germânica, e que ele deveria subjugá-la o mais rapidamente possível. Indicou-lhe um atalho na Floresta de Teutoburgo, uma área, em termos geográficos, adversa, de bosques impenetráveis, salpicados de colinas e barrancos, um terreno que obrigava, à já por si heterogénea coluna romana, a estirar e desordenar mais as suas fileiras. No entanto, outros generais mais experientes, assim como o germano Segestes, outro dos germanos de confiança de Varo, avisaram-no de que Arminio não era de confiança, e que os Romanos deveriam seguir por locais amplos, e pouco arborizados, onde qualquer tipo de emboscada germânica seria suicídio. O pouco experiente General Romano não ouviu os conselhos, e seguiu pela floresta indicada, onde os Romanos sofreram uma emboscada, e foram terrivelmente massacrados. Assim acabara o sonho de conquistar a Germania. Anos mais tarde foi enviado para a zona um exército Romano para dar um enterro digno aos seus companheiros de armas. O local permanecera tal e qual como no dia da Batalha.




Arminio foi pesadamente derrotado pelos Romanos em 16 D.C.



11.11.05

Os Pretorianos

 Nos antigos acampamentos romanos, a tenda do general chamava-se praetorie a palavra acabou por designar os palácios dos governadores das províncias.

 Por extensão, durante a República chamaram-se pretorianas às coortes que os cônsules destinavam à sua própria segurança. Augusto destinou-as a escoltar a sua pessoa e o seu palácio, convertendo-as numa tropa de elite permanente, conhecida como guarda pretoriana. O seu chefe, o praefectus praetori, pertencia à ordem equestre e contava com nove coortes, uns 50 000 legionários, recrutados exclusivamente no centro de Itália.

 À margem da guarda pretoriana, outras unidades militares, geralmente formadas por legionários veteranos, eram as que tinham a seu cargo a segurança da capital. Deste modo, o praefectus urbi contava com diversas coortes urbanae (primeiro três e depois quatro) que exerciam as funções de polícia. Por sua vez, o praefectus vigilum dispunha de sete coortes vigilum que tinham a seu cargo a vigilância nocturna de Roma e a extinção dos incêndios.

 Enquanto os outros corpos armados da capital se centravam no desempenho das suas funções, os pretorianos dotaram-se de imediato de um grande espírito corporativo e adoptaram sinais que os distinguiam dos soldados normais, como usar a espada no lado contrário.

 Os pretorianos residiam num acampamento permanente, o castra pretoria, no Quirinal de Roma.

 Foi uma tropa privilegiada prestando serviço de guarnição e custódia do palácio e recebendo um soldo muito superior às legiões.

 Com o tempo, os pretorianos converteram-se num grupo de pressão e o seu prefeito numa personagem poderosa. No ano 41 d.C., o imperador Calígula foi assassinado pelo prefeito do pretório, Cássio Querea

 Sétimo Severo desarmou-a e expulsou-a, vindo mais tarde a reconstituir o corpo com cerca de 15 000 homens provenientes da sua tropa. No ano 312 d.C., Constantino dissolveu definitivamente os pretorianos, incumbindo das suas funções os protectores, outro dos corpos já existentes


Pretorianos romanos num baixo-relevo que data do século II.

 A guarda pretoriana, que constituía o corpo de honra dos generais durante a República e dos imperadores durante o império, teve uma influência cada vez maior nos assuntos de Roma. Os pretorianos influíram cada vez mais na eleição do imperador, chegando-se ao ponto de esta guarda prometer o império a quem a recompensasse devidamente.

7.11.05

A Religião e os Soldados

 Nas legiões romanas, as práticas religiosas representavam um elemento unificador, um vínculo e um instrumento da autoridade. Manifestavam-se através do culto a alguma divindade latina, como Júpiter, Marte ou Hércules, ou mesmo oriental, como Mitra. A religiosidade dos combatentes também se orientava para personificações dos conceitos abstractos cultivados no exército, como Honos (honra), Vírtus (virtude) ou Fortuna(boa sorte).

 Todos os actos militares eram acompanhados de um ritual destinado à celebração e consagração das armas. Em Março, mês em que começavam as campanhas, celebrava-se um ritual em que os sacerdotes golpeavam os escudos com uma lança e invocavam Marte. A relação de autoridade entre o imperador e os soldados estabelecia-se santificando a águia da legião, numen Iegionis, ou um animal emblemático que se sacrificava num altar situado no centro do acampamento. Antes de iniciar o combate, cada general celebrava um sacrifício invocatório chamado devotio.



Na gravura, o imperador Augusto oferecendo presentes aos deuses


3.11.05

Material de guerra

Três tipos de catapultas do exército Romano:

Ballista



 Esta catapulta era leve, podendo ser facilmente transportada. Com ela atiravam grandes flechas.


Scorpio Ballista



 É essencialmente uma Ballista, mas mais pequena.

Onager


 Esta catapulta foi a artilharia pesada do Exército Romano. Infelizmente não existem grandes recreações da catapulta.
 Seja como for, as munições eram grandes rochas a que lhes eram ateadas fogo. Dá para imaginar qual seria o terror para o exército adversário.

28.10.05

O Armamento

O Pilum

  Era uma lança arrojadiça com ponta de ferro e cabo de madeira.


Gládio

 De origem hispânica, o gládio (em latim gladius) ou espada curta não era mais que uma espada melhorada da espada dos Celtas, aquando da conquista da Hispânia. Era uma espada de dois gumes, com empunhadura de madeira ou osso talhado, para permitir uma sujeição mais firme. Embainhava-se numa capa de madeira que podia estar sumptuosamente decorada.

  Durante centenas de anos foi a espada do exército Romano, e espalhou o terror pelos campos de batalha desde a Gália à Arábia. Com esta espada terminou a discussão em Roma, qual deveria ser a sua função (de arremesso ou de cortar). Ganhou o partido que defendia que a espada servia para arremessar, e assim o gládio foi adoptado para espada do exército. Nas batalhas com os povos nórdicos, estes usavam enormes espadas, muito belas, mas no campo de batalha eram pouco práticas contra a leve e funcional gládio. Com a decadência do Império Romano, o gládio deixou de ser usada, e foi substituída por espadas maiores, a espada pompeiana. Enquanto o gládio servia para desferir estocadas de perto a pompeiana, era mais uma arma para cortar. Segundo Lívio, o ataque de um legionário com este tipo de arma deixava «braços arrancados, incluindo os ombros, cabeças separadas dos corpos, com os pescoços completamente cortados, e estômagos rasgados.

  A razão para o fim do gládio deveu-se à própria natureza das batalhas deste período, em que deixara de existir a Infantaria, (ou era muito diminuta), para ser substituída pela Cavalaria. Para os cavaleiros eram necessárias grandes espadas, para poder atingir o inimigo à maxima distância possível. Seja como for enquanto serviu o Império Romano, o gládio demonstrou ser uma espada fiável.


Scutum


 Escudo de madeira forrado a couro com reforços metálicos.

25.10.05

O Equipamento



  O Galeus

  No tempo de Augusto, os legionários usavam um capacete de ferro de tipo gálico conhecido como galeus.

  Loriga Hamata

 Inspirada na malha que tradicionalmente usavam os hastati e os príncipes; completava-se com o cingulum militare, um cinto de onde pendiam várias tiras de couro com discos metálicos.

  Loriga segmentada

  Este tipo de protecção, era usada pelos legionários de infantaria romanos do século I a.C.
  A principal vantagem deste equipamento: oferecia uma maior protecção que as malhas, e sobretudo maior flexibilidade facilitando a liberdade de movimentos dos soldados.

  Caliga

  Sandália militar de couro com sola cravejada.

20.10.05

As Legiões

 Apesar do recrutamento de auxiliares, o nervo central do exército continuou a pertencer às legiões – da palavra legio (legião), força bélica, extraiu-se a palavra legge (lei) –, que contavam com um efectivo de 5000 a 6000 homens cada uma, de acordo com as baixas. A unidade básica era a centúria de oitenta homens comandadas por um centurião, As legiões articulavam-se em dez coortes, cada uma delas dividida em seis centúrias (que por sua vez formavam em dez decúrias). Cada legião era acompanhada por uma unidade de cavalaria de cento e vinte homens distribuída em quatro esquadrões.

 Cada legião era designada por um número e um epíteto (por exemplo, Legio VII Gemina Pia Fidlis). O lema da legião designava uma condição honorável e podia perder-se quando se castigava colectivamente a unidade. Inicialmente, as forças auxiliares eram atribuídas às legiões, mas com o tempo acabaram por se converter em unidades independentes.

 O procônsul de cada província comandava as legiões aí estacionadas. O chefe de cada legião era um representante do imperador, livremente nomeado e destituído: o legatus legionis, que pertencia à ordem senatorial e dirigia a legião por um período de cinco anos.

 Seguiam-se seis tribunos: um senatorial e cinco da ordem equestre. Como os comandos superiores eram membros das classes privilegiadas e podiam carecer de experiência e conhecimentos militares, estes concentravam-se nos centuriões, todos eles procedentes do exército e mediante rigoroso escalonamento no marco da sua unidade. O primeiro de cada coorte era o primus pilus, um veterano de idade avançada que tinha sido centurião-chefe da legião e era o responsável pela legião na ausência do legado ou quando este tombava em combate.

 Sessenta centuriões encarregavam-se da disciplina e instrução da legião. O centurião, com mais experiência dirigia a primeira centúria da primeira coorte. Cada centurião era auxiliado por um optio, o segundo no comando, que desempenhava a função de ordenança e aspirava a ocupar uma vaga no posto de centurião.

 Os quatro decuriões de legião tinham sob o seu comando os esquadrões de cavalaria e tinham como aspiração, ascender a comandante das unidades auxiliares de cavalaria.

 No escalão inferior aos optios estavam os legionários e depois os elementos das coortes auxiliares, os vexillatos.

 A lealdade das tropas romanas aos seus estandartes, em que estava a águia e as letras SPQR (Senatus Populesque Romanus - Senado e Povo de Roma), era inspirada pela influência conjunta da religião e da honra. A águia que rebrilhava à frente da legião tornava-se objecto da sua mais profunda devoção; era considerado tão ímpio quão ignominioso o abandono dessa insígnia sagrada numa hora de perigo.

18.10.05

As Tropas Auxiliares

 A mais importante inovação de Augusto consistiu em reorganizar as tropas auxiliares ou auxilia, que até então haviam sido forças irregulares formadas por meros mercenários, recrutados antes de uma campanha, comandadas por chefes locais e armadas segundo as circunstâncias. Com elas criou um segundo exército, cujos efectivos eram equivalentes aos das legiões, recrutados entre os provinciais não-cidadãos, mas que contavam com o estatuto de peregrini.

 Este exército foi organizado em coortes de infantaria e alae de cavalaria de cerca de 500 homens, distribuídos em 16 pelotões (turmae), comandadas por praefecti, oficiais romanos da ordem equestre. Cada unidade formou-se com membros do mesmo grupo étnico, especialmente aquelas tropas mais especializadas, como fundeiros, arqueiros e cavaleiros, que muitas vezes eram característicos de certas regiões geográficas (arqueiros sírios e cretenses e cavaleiros gauleses, alemães e hispânicos), e conservou um nome referente ao lugar de recrutamento (por exemplo, Cohors II Batavorum Miliaria). Contudo, como prestavam serviço em regiões diferentes das de origem, tiveram de cobrir as suas baixas com recrutas locais que lhes fizeram perder o seu carácter nacional.

 Os auxiliares foram profissionalizados, sendo dotados de um equipamento padrão, de qualidade pior que os dos legionários, colete de malhas, capacete de metal e a "spatha", uma espada longa e mais pesada para corte que o gladius. Em relação aos legionários, o serviço dos auxilia era mais longo – 25 anos - e o soldo menor (foi Camilo quem instituiu o soldo, normalmente pago em sal a princípio, o que deu origem ao termo soldado), embora a aquisição da cidadania romana consumisse um grande aliciante para o recrutamento. Esta possibilidade surgira já no tempo de César, mas só com Cláudio é que se consagrou o direito dos auxiliares à cidadania aos vinte e cinco anos de serviço, assim como a garantia de uma reforma e a possibilidade de transmitirem a cidadania aos seus filhos casando após a desmobilização.

 Foi Augusto quem organizou a primeira frota de guerra permanente, com duas grandes bases em Miseno e Ravena, estabelecendo também frotas permanentes em algumas províncias. Entre os almirantes encontravam-se frequentemente homens libertos e as tripulações recrutavam-se entre os homens livres não-cidadãos que, como os auxiliares das tropas de terra, podiam adquirir a cidadania por anos de serviço.

14.10.05

Lista das Legiões Romanas

 Estas são as principais legiões do Império romano; no início as legiões não eram organizações nomeadas permanentes. Os comentários somados incluem duração, causa do desaparecimento (se pertinente) e o seu criador.

Legio I - referida como a "I Germanica" – 48 a.C. até 70 d.C.(rebelião Bataviana)- Julius Caesar
Legio I Adiutrix - 68 d.C até 444 d.C
Legio I Italica - 22 de setembro de 66 d.C até o século V - Nero
Legio I Macriana liberatrix – 68 até 69 d.C., - Lucius Clodius Macer, Governador da Africa
Legio I Minervia - 82 d.C. até o século IV - Domiciano.
Legio I Parthica - 197 d.C. até o século VI - Septimius Severus
Legio II Adiutrix pia fidelis - 70 d.C. até o século III - Vespasiano
Legio II Augusta - Década de 30 a.C.
Legio II Italica - 165 d.C. até o se´culo V - Marcus Aurelius
Legio II Parthica – 197 d.C. até o século IV - Lucius Septimius Severus
Legio II Traiana fortis - 105 d.C. até o século V - Trajano
Legio III Augusta - 43 a.C. até o século V - Augustus
Legio III Cyrenaica - 36 a.C. até o século V - Marcus Antonius
Legio III Gallica - 49 a.C. até o século IV - Julius Caesar
Legio III Italica - 49 a.C. até o século IV - Marcus Aurelius
Legio III Parthica - 197 d.C. até o século V - Lucius Septimius Severus
Legio IV Flavia firma - Veja Legio IV Macedonica
Legio IV Macedonica - 48 a.C até 70 a.C (desbaratada por Vespasiano) - Julius Caesar
Legio IV Scythica - 42 a.C. até o século V - Marcus Antonius
Legio V Alaudae - 52 a.C até 70 d.C (destruída na rebelião Bataviana) - Julius Caesar
Legio V Macedonica
Legio VI Ferrata
Legio VI Victrix
Legio VII Claudia
Legio VII Gemina
Legio VIII Augusta - 59 a.C até o século IV - Caesar
Legio IX Hispana - 58 a.C até 160 d.C - provavelmente Julius Caesar
Legio X Equestris – 58 a.C até o século V - Julius Caesar
Legio X Fretensis
Legio X Gemina - 58 a.C. até o século V - Julius Caesar
Legio XI Claudia - Octavian
Legio XII Fulminata - Caesar
Legio XIII Gemina - 57 a.C. até o século V - Julius Caesar
Legio XIV Gemina - Octavian
Legio XV Apollinaris - Octavian
Legio XV Primigenia - 39 d.C. até 70 d.C. (destruída na rebelião Bataviana) - Caligula
Legio XVI Gallica - Octavian
Legio XVI Flavia Firma
Legio XVII - 41 a.C até 9 d.C. – destruída na batalha da floresta de Teutoburg - Augustus
Legio XVIII - 41 a.C até 9 d.C. – destruída na batalha da floresta de Teutoburg - Augustus
Legio XIX - 41 ou 40 a.C. até 9 d.C. – destruída na batalha da floresta de Teutoburg - Augustus
Legio XX Valeria Victrix – 25 d.C. até o século III - Augustus
Legio XXI Rapax - 31a.C. até 92 d.C (destruída em Pannonia) - Augustus
Legio XXII Deotariana - 48 a.C. até 133 d.C. (destruída pela rebelião judaica) - Deiotarius
Legio XXII Primigenia - 39 d.C até o século III - Caligula
Legio XXX Ulpia Victrix - 105 d.C. até o século V - Trajano


Inscrição num túmulo da Legio VIIII Hispana

13.10.05

O Exército de Augusto

 Naqueles tempos, Roma era um Estado militar governado pela classe senatorial, que já não era representativa. Octávio (que agora já recebia o nome de Octávio Augusto ou simplesmente Augusto) depressa compreendeu que quem controlava o exército dominava Roma a todos os seus domínios; deste modo, adoptou o título de imperator, que se referia apenas ao comando militar, mas que o impunha como uma figura carismática perante os soldados.

 Em consequência das guerras civis, o exército romano cresceu até contar com cerca de 500.000 homens, mas só 230.000 se encontravam sob as ordens de Augusto à data dos combates de Actium. Após esta batalha, decidiu dotar-se de um exército mais reduzido e barato mas que lhe fosse leal; para o conseguir, desmobilizou cerca de cinquenta legiões e recrutou novos legionários. O novo exército compôs-se de vinte e oito legiões, além das coortes pretorianas e urbanas; no total, somavam uns 125.000 homens.

 Desde então, as legiões do império foram preferentemente tropas de fronteira, estacionadas no Baixo Reno, frente à Germânia, no Alto Danúbio e na Síria, dispondo de pequenas guarnições na Hispânia, África e Egipto. Augusto manteve tanto quanto possível a procedência italiana dos legionários, mas no Oriente os soldados tiveram de ser recrutados entre os cidadãos locais. A extensão da cidadania aos provinciais conduziu grandes efectivos às fileiras imperiais, e numerosos cidadãos converteram-se então em soldados profissionais espalhados por todos os territórios do império.



11.10.05

Agripa

Amigo e colaborador de Octávio Augusto, Marco Vipsânio Agripa nasceu no ano 63 a.C. Desde que teve notícia do assassinato de Júlio César pôs-se ao lado de Octávio, de quem foi o general mais importante. Responsável pelas vitórias de Filipos, de Naucolos contra Sexto Pompeu no ano 36. a.C. e a Batalha de Actium contra Marco António em 31 a.C., bem como da reorganização do exército romano.

 No ano 21 a.C., casou-se com Júlia, filha de Octávio. No decurso dos anos 20 e 19 a.C., defendeu a Gália ameaçada pelos Germanos, e em seguida pôs fim à guerra com os Cantábricos que já durava há dez anos. Desde o ano 18 até 12 a.C., foi tribuno de Augusto, desempenhando uma verdadeira co-regência.

 Magnifico administrador, construiu aquedutos, termas, o templo do Panteão e elaborou o mapa do mundo antigo com os dados obtidos em suas viagens. No inverno de 13 a.C. adoeceu e, pouco depois de seu regresso a Roma, em março do ano seguinte, faleceu. Augusto ordenou que fosse sepultado no Mausoléu Imperial.

10.10.05

O Calendário Romano

  Os romanos dividiam o mês em três partes: as calendas, que iam do dia 1 ao dia 6 de qualquer mês; as nonas, que começavam a 7 e iam até aos dias 14; e os idos, que iam dos dias 14 até aos fins de cada mês do ano. Por exemplo, o dia 3 de Maio era para o calendário romano o terceiro dia das calendas desse mês; ou o quarto dia antes das nonas desse mesmo mês; ou o 11.º dia antes dos idos ainda do mesmo mês.


 Cerca de 715 a.C., Numa Pompílio sucede a Rómulo, tornando-se no segundo rei de Roma (até 672 a.C.). Ao analisar o calendário (ler comentários em Rómulo e Remo e Numa Pompílio), Numa apercebe-se que aquele estava atrasado relativamente ao ano trópico. Novos cálculos demonstraram, então, que o ano conteria realmente cerca de 12 lunações – mais duas do que anteriormente admitido – correspondente a 354 dias. Mantendo a nomenclatura dos meses, por esta apresentar um aspecto muito prático, Numa Pompílio defendeu o acréscimo de mais dois meses ao calendário em vigor, Januarius e Februarius. Como era extremamente religioso, todas as regras decretadas por Numa Pompílio tinham uma forte subjectividade de índole religiosa, com relevância especial ao deus Janus (este étimo deriva de janua que significa porta, entrada ou passagem). O deus Jano era considerado o protector de qualquer "abertura", fosse ela concreta ou abstracta. Ele é representado com duas caras opostas, uma à frente e outra atrás.


 Assim, decretou que o ano se iniciaria com o mês Januarius (Janeiro; colocado antes de Março), e finalizaria com Februarius (Fevereiro; colocado após Dezembro)! Januarius, deriva do deus Jano. Februarius deriva de Februo, deus dos mortos. Outros historiadores indicam, porém, a derivação de februare, purificar.

 Facilmente se entende a ideia que ambos os meses indiciam: o ano velho morre no último mês, tempo em que cada um terá de se purificar (Fevereiro), a fim de poder entrar pela passagem (Janeiro) do novo ano.

 Curiosamente, a Fevereiro foram atribuídos apenas 23 dias. Em sucessivos anos, a extensão deste ano civil foi sendo alterada, conforme os caprichos da população, por esta se aperceber de algum assincronismo com o ano trópico. Também se relatam "interesses obscuros" em prolongar o ano civil. Sempre que havia necessidade de o alterar, faziam-no, tradicionalmente, após o 23 de Fevereiro (ou seja, no fim do ano). Tanto eram introduzidos apenas alguns dias, como meses inteiros, os denominados meses intercalares. Esse dia, 23 de Fevereiro, adquiriu tal importância que se manteve até aos dias actuais — repare-se no caso do ano bissexto

 Numa Pompílio alterou também a duração de cada mês. Aparentemente, os números pares eram fatídicos e apresentavam uma simbologia mortal. Em oposição, os números ímpares agradavam consideravelmente aos deuses. Assim, Janeiro passou a ter 29 dias, e os restantes passariam a ter 29 ou 31 dias - os de 30 dias passavam a ter menos um!


 Em 46 a.C., Caio Júlio César, triúnviro de Roma, foi nomeado Chefe do Colégio dos Pontífices — instituição responsável pela estruturação dos calendários. Actuando igualmente através do Tribunal dos Decênviros – instituição que decidia sobre as Leis e Regras da Sociedade Romana – introduziu o Calendário Juliano, um calendário mais fiel ao ano trópico, com novas regras. Os meses de 29 dias passavam agora a ter, novamente, 30 dias. Fevereiro, que por 450 a.C. fora posto entre Janeiro e Março, passava a ter 29 dias em anos regulares, e 30 dias nos anos bissextos! O novo ano civil (com 365,25 dias) estava finalmente sincronizado com o ano trópico. Este calendário (luni-solar) foi promulgado pelo decreto De Astris, substituindo o antigo calendário lunar romano do rei Numa Pompílio. (Quem realmente o desenvolveu foi um estudante de Astronomia graduado — Sosígenes — mas César impôs o seu nome).

 Foi nesse mesmo ano de 46 a.C. que Júlio César se prepara para introduzir a sua reforma do calendário. Aparentemente no intuito de sincronizar o calendário juliano com o tropical no ponto vernal (equinócio da Primavera), prolonga o ano com mais 80 dias. Foi o Annus Confusionus – o ano da confusão, com 445 dias!

 Um ano após a reforma, é decidido homenagear Júlio César no seu próprio calendário, por ter efectuado aquela reforma. Então, alteraram o nome do agora sétimo mês, Quintilius, para um mais conhecido, Julius - Julho, para que Júlio César nunca mais fosse esquecido. (A razão da escolha deste mês incide, aparentemente, sobre a sua data de nascimento: César terá nascido neste mês.)

 Durante os reinados seguintes, o último dia de cada mês foi sendo arrastado para os meses vizinhos, consoante as opiniões em voga!

 Augustus Caesar (Augusto César – sucessor de Júlio César) introduziu a última alteração oficial que se manteve até aos nossos dias. Orgulhoso como era, e tendo obtido com sucesso grandes feitos para a sociedade romana, escolheu outro mês como homenagem a si mesmo, numa acção similar a Júlio César! O mês indiciado foi o sucessor de Julho, Sextilis, e alterou-o para Augustus - Agosto. Mas este mês só tinha 30 dias; sendo da opinião que ele próprio não era inferior a Júlio César, retirou um dia ao "tradicional" mês de Fevereiro, colocando-o no mês de Agosto, ficando este então com 31. O mês de Fevereiro estabilizou finalmente, com apenas 28 dias em anos regulares, e 29 dias em anos bissextos!

  Infelizmente, a sua grandiosidade não foi suficiente para acabar com a proliferação de erros que continuamente se cometiam no calendário. Somente após o ano 8 d.C. foi atingido o fim desse caos, a partir do qual se atingiu a estabilização definitiva do mesmo (até ao aparecimento do calendário Gregoriano)!

8.10.05

Augusto – O Herdeiro de César

OCTAVIUS AUGUSTUS

(Caivs Ivlivs Caesar Octavivs Avgvstvs)

27 a.C. a 14 d.C.

 Gaius Julius Caesar Octavianus (63 a.C.-14 d.C.), sobrinho-neto de Júlio César, cujo assassinato se encarregou de vingar, inauguraria, mercê do seu génio político e administrativo, uma época de esplendor e prosperidade no mundo antigo. Como Júlio César, viria a fazer parte, logo após a sua morte, do panteão dos deuses de Roma.

 Seu pai, Caius Octavius, foi edil e pretor em Roma e, mais tarde, procônsul na Macedónia. A mãe, Ácia, era sobrinha de Júlio César, e este, interessando-se pela carreira do sobrinho-neto, deu-lhe educação aprimorada e o adoptou como filho em testamento. O herdeiro, que mais tarde seria conhecido como Augusto, mudou o seu nome para Caio Júlio César Octávio. Com tal patrocínio, a carreira política de Augusto foi fulgurante desde o início.

 A 15 de Março do ano 44 a.C., Júlio César foi assassinado por um grupo de senadores republicanos que desejavam devolver o poder ao Senado.

 No entanto, os assassinos de César não conseguiram restaurar a República, pois Marco António e Lépido, legados militares do falecido, controlavam o exército, e graças a esse facto puderam arrebatar o poder e submeter o Senado. De imediato, Marco António marchou com as suas tropas contra os assassinos de César, enfrentando o exército dos republicanos em Módena. O resultado da batalha manteve-se incerto, até ao ponto de os republicanos parecerem estar quase a vencer quando foram derrotados pelo jovem Octávio, com um exército recrutado com o seu próprio dinheiro.

 Dois cônsules tinham morrido em combate e Octávio reclamou um dos lugares vagos (a que não tinha direito, dada sua pouca idade).; quando o Senado lho negou, marchou com os seus soldados até Roma e obrigou os senadores conceder-lhe não só o consulado, mas também poderes excepcionais, assim como o imperium, isto é, o comando militar, em 19 de Agosto de 43 a.C.. Ainda em 43, sob o pretexto de restaurar a República, impôs o segundo triunvirato de cinco anos – o primeiro tinha sido César, Pompeu e Crasso, ao qual presidiu na companhia de Marco António e Lépido, os dois antigos tribunos de César, tendo os três homens dividido entre si o governo do território do império. O triunvirato duraria oficialmente dez anos, mas a influência real de Lépido – nomeado para o cargo de Sumo Pontífice, apagar-se-ia antes do termo desse período.

 Deste modo se tornava evidente a disputa entre Augusto, com o governo do Ocidente, e Marco António, com o do Oriente, pelo domínio de Roma. Em 31 a. C., Augusto declara guerra a Cleópatra, a quem o seu adversário se aliara. Com a conquista do Egipto no ano seguinte, Marco António e a rainha suicidar-se-iam.

 A partir de então, sem rivais a enfrentar, Augusto funda o Império Romano e pôde começar, com um talento político e organizativo ímpar, a dispor de novo as estruturas do império de tal modo que garantia para si o controlo efectivo dos poderes essenciais ao mesmo tempo que mantinha as instituições republicanas. A chave do seu poder residiu num exército fiel, capaz de fortalecer o Estado, ainda que este recurso tenha acabado por gerar um regime militarista. Augusto, formalmente, nunca se proclamou imperador. Assim, durante largos anos ostentou apenas os títulos de cônsul e tribuno, não havendo, contudo, dúvidas de que o seu poder era virtualmente ilimitado. Mais tarde assumiria também a direcção do culto religioso romano. O senado concedeu a Octávio o título de «Augustus» em 16 de Janeiro de 27 a.C., cognome religioso que consagrava sua missão como divina

 Enquanto os seus generais iam alargando os limites territoriais do império, sobretudo no continente europeu, Augusto consolidava o poder central e organizava a administração no que dizia respeito ao emprego de funcionários, à cobrança de impostos, à emissão de moeda e à manutenção da ordem pela frota e pelas legiões de Roma. Desta forma, o exercício do poder absoluto por Augusto coincidiria com uma época de paz e estabilidade interna no império (a chamada pax romana), época bem diferente do período conturbado das guerras civis que a precederam. Época áurea do império em vista da ordem social estabelecida e da extensão territorial alcançada, foi também notável pelas grandes obras realizadas (inúmeros templos foram erigidos, fez-se uma extraordinária rede de estradas) e pelas suas manifestações culturais, sobretudo no campo da literatura, em que se distinguiram autores como Virgílio, Horácio e Tito Lívio.
 Morre a 19 de Agosto (Augustus em latim) em Nola, aos 76 anos.

4.10.05

A Guerra Civil

 Octávio, que recebera o título de princeps, era a personagem com mais prerrogativas da urbe e fomentava as intrigas contra Marco António, acusando-o de pretender impor a Roma uma monarquia oriental com capital em Alexandria. Na Primavera do ano 32 a.C., Marco António enviou uma carta ao Senado propondo-lhe restaurar a República e jubilar os que detinham o poder. Octávio reagiu afirmando que se tratava de uma manobra de Cleópatra e declarou-lhe guerra. A 2 de Setembro de 31 a.C., na antiga Grécia, perto do promontório de Áccio - consagrado a Apolo -, à entrada do Golfo de Arta as frotas de ambos defrontaram-se, onde venceram os barcos de Octávio, comandados como sempre por Agripa.

 Os derrotados refugiaram-se em Alexandria na esperança de poder combater o seu adversário mais tarde no Egipto ou na Síria. Octávio entreteve-se a subjugar os rebeldes da Grécia e da Itália e a isolar diplomaticamente Marco António. Só uma vez conseguidos estes objectivos se encaminhou para o Egipto. Ao desembarcar, foi atacado pelo inimigo, mas conseguiu cercar a cidade, cujos defensores se renderam. Marco António suicida-se em Julho e Cleópatra em Agosto, data em que Octávio se apodera do Egipto. Octávio acolheu os seus dois filhos como se fossem dele, mas mandou assassinar Cesário, pois como filho de César podia disputar-lhe a herança.

 Deste modo, Octávio apoderou-se de todos os territórios romanos, mas a sua propaganda contra Marco António estimulara os sentimentos antimonárquicos do povo. Não podia proclamar-se rei e não o fez, limitando-se a acumular poder e títulos: o ímperium, do comando militar, o princeps, como principal cidadão, e a tribuna potestas, para propor e vetar leis, passando a ser Augustus, termo derivado do vocabulário religioso; assumiu também o comando das províncias com guarnição militar, enquanto o Senado governava as restantes.

 Desde o ano 27 a.C. que a maior parte do poder político, militar e financeiro de Roma se encontrava nas suas mãos, e quando no ano 12 d.C. Lépido morreu, Augusto sucedeu-lhe como pontífice máximo; finalmente, no ano 2 a.C., o Senado nomeou-o pater patriae


Tapete dedicado à Batalha de Actium.

1.10.05

Marco António

 Marco António foi ao Egipto e, como antes ocorrera a César, enamorou-se da rainha Cleópatra VII, cedendo-lhe a Fenícia, Chipre e parte da Arábia e da Palestina. O casal instalou-se em Alexandria; entretanto, Fúlvia e o cônsul Lutácio, esposa e irmão de Marco António, organizavam uma nova conspiração em Roma e formavam um exército com o intuito de conquistar o poder, e assim suprimir a ditadura. Octávio fez-lhes frente, desbaratando os seus planos, e o seu general Agripa derrotou os conspiradores, que se tinham refugiado em Perúsia.

 Cleópatra, decidida a aproveitar a incipiente guerra civil, impeliu Marco António a embarcar com as suas tropas para Brindisi, mas, uma vez lá chegados, os soldados romanos de ambas as facções negaram-se a combater. A Paz de Brindisi reconciliou-os, casando António com Octávia, irmã de Octávio. Pouco depois, Marco António voltou as suas energias para um objectivo que parecia mais fácil e marchou até à Pérsia, onde Labieno, filho de um general romano que traíra César, organizara as forças dos Partos. A campanha resultou inglória para os Romanos, que perseguiram inutilmente os Partos ao longo de 500 km e sofreram numerosas baixas sem beneficio algum. Apesar de tudo, de regresso a Alexandria, Marco António fez-se receber triunfalmente, casou com Cleópatra —de quem já tinha dois filhos e nomeou Cesário, o filho que ela tinha de César, herdeiro do Egipto e de Chipre.

 Marco António tinha sido lugar-tenente de Júlio César, e, se de início se opôs a Octávio, acabou por ceder, integrando-se no triunvirato que durante breves anos governou Roma. Mas a ambição de ambos os dirigentes colocava-os em oposição permanente, e os seus exércitos acabaram por se defrontar no ano 31 a.C., na Batalha de Actium. Marco António foi derrotado e acabou por se suicidar.

25.9.05

Cleópatra


 Cleópatra (o nome Cleópatra é grego e significa "Glória do pai”) nasceu em Alexandria no ano 69 a.C. e subiu ao trono do Egipto em 51 a.C.. Embora Cleópatra fosse rainha do Egipto, não corria nas suas veias uma só gota de sangue egípcio. Era grega da Macedónia; sua capital egípcia, Alexandria, era uma cidade grega, e o idioma da sua corte era o grego.
Foi a última rainha da Dinastia Lágida, filha de Ptolomeu XII, general macedónio de Alexandre, o Grande, que depois da morte deste se fizera rei do Egipto.

 Depois da morte do pai, Cleópatra, torna-se rainha, casando com o seu irmão Ptolomeu XIII, então com dez anos, segundo o costume egípcio.

 Devido a intrigas palacianas, Cleópatra foi exilada para a Síria mas, organizando um exército, ela atravessou o deserto para conquistar o trono.

 Foi essa a Cleópatra que César conheceu no Outono de 48 A.C. Ele fora ao Egipto em perseguição ao general romano Pompeu, seu adversário numa luta pelo domínio político. Júlio César reconduziu-a ao trono, juntamente com o irmão menor, Ptolomeu XIV. O seu irmão Ptolomeu XIII foi assassinado, por ordem de César, na prisão.

 Uniu-se então a César e foi para Roma, onde deu à luz Ptolomeu XV César, conhecido como Cesário (pequeno César, em grego). Com o assassinato de César, em 44 a.C., Cleópatra voltou ao Egipto. Três anos mais tarde tem relações amorosas com Marco António.

 Júlio César, era uns 30 anos mais velho do que ela, já tivera quatro esposas e inúmeras amantes. Seus soldados o chamavam de "adúltero careca" e cantavam um dístico advertindo os maridos que mantivessem as mulheres fechadas à chave quando ele andasse por perto.

Trazemos de volta o calvo putanheiro
Guardai bem as vossas mulheres em Itália
Porque todos os seus escravos e dinheiro
Serviram para pagar-lhe as putas da Gália


 Marco António, 14 anos mais velho do que a jovem rainha, de quem teve três filhos, dois eram gémeos, era também um conquistador conhecido. E, no fim, não foi por amor a ele que Cleópatra se matou, e sim pelo desejo de escapar à degradação nas mãos de outro conquistador.

 Qual o aspecto físico de Cleópatra? As únicas indicações são algumas moedas cunhadas com o seu perfil e um busto desenterrado de ruínas romanas cerca de 1800 anos depois da sua morte (na imagem). Mostram um nariz aquilino, boca bem traçada, com lábios finamente cinzelados, segundo Plutarco, cujo avô ouviu falar em Cleópatra por um médico conhecido de uma das cozinheiras da rainha, a sua beleza "não era propriamente tão extraordinária que ninguém pudesse comparar-se a ela".

 Falava seis idiomas, conhecia bem a história, a literatura e a filosofia grega, era uma negociadora astuta e, ao que parece, uma estrategista militar de primeira ordem. Tinha também uma grande habilidade para cercar-se de uma atmosfera teatral. Quando intimada por César a deixar suas tropas e a comparecer ao palácio que ele conquistara em Alexandria, Cleópatra introduziu-se na cidade ao escurecer, fez-se amarrar num rolo de roupas de cama, e assim escondida foi carregada nas costas de um servo através dos portões e até aos aposentos de César.

 Depois da Batalha de Actium tudo se desmoronou. Quando chegaram as tropas de Octávio e tomaram os fortes da fronteira do Egipto, Cleópatra permaneceu em Alexandria, pronta a negociar com Octávio, ou a combatê-lo. Mas, à aproximação do exército invasor, a esquadra e a cavalaria da rainha desertaram e Marco António suicidou-se.

 Após a morte de Marco António, Cleópatra tenta submeter Octávio aos seus encantos mas em vão. Cleópatra presumiu que seu destino seria semelhante ao de centenas de outros reis cativos, que haviam sido levados em cortejo pelas ruas de Roma, agrilhoados, para serem depois executados. Tendo frustradas suas ambições pela derrota, Cleópatra prefere a morte e, segundo a lenda, em Alexandria, a 30 a.C., a rainha deixa-se morder por uma víbora que lhe fora mandada como contrabando numa cesta de figos.



24.9.05

Primeiro Duunvirato

 

 Vencidos os seus adversários, Marco António ficou com o governo do Oriente e Octávio com o do Ocidente.

 Ambicioso e sedento de prazeres, Marco António sobrecarregou os domínios do Oriente com pesados impostos. Chamou a Tarso Cleópatra que o soube seduzir de tal maneira, que ele abandonou a gerência das províncias, consentindo que os Partos invadissem a Síria. Em Roma, o cônsul Lutácio, irmão de António, chefiou uma revolta para a supressão da ditadura, sendo derrotado por Agripa, o melhor cooperador de Octávio, em Perusa. Marco António abandonou o Egipto para guerrear Octávio. A Paz de Brindes reconciliou-os, casando António com Octávia, irmã de Octávio. Os prazeres e a louca paixão por Cleópatra arrastaram-no novamente à corte do Egipto onde prometeu aos filhos da rainha as terras do domínio romano.

 O Senado, dando todos os poderes a Octávio, declarou guerra a Marco António. A batalha naval de Actium e a terrestre de Pelusa, incorporaram em 30 o Egipto, no Império Romano. Cleópatra, receando ser levada a Roma para triunfo do vencedor, suicidou-se.

20.9.05

O 2º Triunvirato

   


 A morte de César colocou no poder três figuras de valor: Marco António, lugar-tenente de César, Lépido, mestre de cavalaria, e Octávio, sobrinho e herdeiro de César, defendido por Cícero nos seus discursos «Filípicas». Depois de algumas lutas reconciliam-se formando o segundo triunvirato.

 A primeira decisão dos triúnviros foi perseguir os republicanos implicados no assassinato de César ou que eram suspeitos de simpatizar com os assassinos, aproveitando assim a ocasião para saldar velhas contas pessoais. Sem julgamento prévio, cerca de 130 senadores e quase 2000 funcionários foram proscritos, perdendo os seus bens e direitos. Muitos deles foram assassinados, como Cícero; outros preferiram suicidar-se.

 Ficavam por castigar os dois principais chefes da conspiração, Bruto e Cássio, governadores da Macedónia e da Síria, respectivamente, que uniram as suas tropas com o fim de resistir ao exército do triunvirato. A batalha teve lucrar a 12 de Setembro do ano 42 a.C., em Filipos, na Macedónia, onde perderam a vida Bruto, Cássio e os republicanos mais decididos. Imediatamente, os vencedores repartiram o espólio: Marco António nomeou-se governador do Oriente, Octávio ficou com o governo do Ocidente e Lépido (homem de Estado romano, colega de César no consulado. Morreu no ano 12 ou 13 a. C.) acabou por ser marginalizado, tendo-lhe sido entregue o governo da África.

 Todavia, nenhum dos três triúnviros se conformou com semelhante repartição, e todos aspiravam a um poder maior. Os partidários de Marco António intrigavam, e Sexto Pompeu dominava o Mediterrâneo ocidental à frente de uma esquadra rebelde, boicotando o comércio marítimo de Roma. Octávio entreteve-o oferecendo-lhe o governo da Córsega, Sardenha e Sicília, enquanto anulava em Itália os seguidores de Marco António. Entretanto, Agripa reuniu uma frota, marchou contra Sexto Pompeu e derrotou-o na Batalha de Naucolos que teve lugar no ano 36 a.C. Aproveitando a confusão, Lépido tentou ampliar os seus domínios africanos, apoderando-se da Sicília. Então Octávio demonstrou quem era: arrebatou-lhe todos os poderes, banindo-o definitivamente ao nomeá-lo pontífice máximo. Com apenas vinte e seis anos, Octávio tinha conseguido dominar todo o Ocidente.