27.7.10

Ruínas Romanas de Cardílio

Por indicação de António Duarte Rodrigues (que comentou no meu blogue "Rumo ao Sul") marius foi até Torres Novas a fim de visitar as Ruínas Romanas de Cardílio.


Segundo os estudiosos, Cardilivm seria o nome do romano que habitava a Villa, embora hajam outras hipóteses para que assim não seja. Isto de revolver o passado e quando não há consenso, raramente se chega a uma conclusão pois todos querem ser os donos da verdade.


Marius já viu ruínas em pior estado (Abicada - Portimão, votada ao abandono), e muito há ainda para explorar no subsolo desta Vila, embora se saiba que, através dos tempos, os locais retiraram, para construção das suas próprias casas, muito do legado deixado pelos romanos como sucedeu em Ammaia.

Verifiquei que falta ali um telheiro para salvaguardar os mosaicos dos efeitos nocivos do sol e da chuva como vi nas ruínas de Torre de Palma.

Há que realçar, em todos as ruínas de Villas que marius visitou, que não faltavam os peristylium, pátio quadrangular com um alpendre assente em colunas que tinha um tanque ao meio, o impluvium. Para os romanos os banhos eram ponto de honra, depois veio o tempo das trevas onde o mexer no corpo, nas partes íntimas, para tomar banho era considerado pecado (ainda hoje na Inglaterra o "bidé" não faz parte das casas de banho. Curiosa é a publicidade do "Hotel Inglaterra" - Estoril, onde referem eles que (passo a citar): «Os banheiros possuem bidês». Elucidativo.)

Aqui fica o que está escrito sobre estas ruínas que consta no "Folheto Turístico" da Câmara de Torres Novas. Passo a citar:

Muito antes de 1930 as ruínas romanas eram exploradas como pedreira pelos rurais dos arredores, donde arrancavam materiais destinados à construção das suas próprias casas.

Devido a diligências da Câmara Municipal de Torres Novas, só no ano de 1963 se procedeu à escavação arqueológica orientada por Afonso do Paço, que veio a descobrir um conjunto de alicerces, bases de coluna e pavimentos ornamentados com diversos quadros de "tesselas", formando um edifício composto de três elementos principais: entrada, peristilo e exedra.

Os mosaicos, de cores vivas e motivos geométricos, predominando os de tranças e entrelaçados, estão distribuídos pelas diversas salas.

Evidenciam-se outros representando o quadro das aves de grupos opostos, o dos retratos dos donos da casa com motivos agrícolas e, mais famoso, o da inscrição latina VIVENTES CARDILIVM ET AVITAM FELIX TURRE.

Diversos materiais foram achados numa camada sobre os mosaicos, alguns estudados por Adília Alarcão e Jorge Alarcão, que se encontram guardados no Museu, tais como cerâmicas com marcas AVIL - OF COCI - MODEST F - MVTIS - NAVS - SECUNDVS - SENILIS F - SILVIP ZOILI - OF VA P. -, diversos fragmentos de formas lisas ou decoradas, uma ânfora, lucernas, vidros do século I ao IV da nossa era, metais, marfim, osso, mármore, e, posteriormente, uma estátua de menino nú (Eros).

VILA DE CARDILIO chamam às ruínas romanas, porque o nome de CARDILIVM nelas aparece delineado por pequenas tesselas de mosaico, de mãos dadas com o de AVITAM, que dois bustos, de tesselas também, parecem sugerir casal feliz na não menos FELIX TVRRE.

Mas a interpretação não é assim tão simples, nem linear, pois a famosa inscrição latina VIVENTES CARDILIVM ETAVITAM FELIXTVRRE, inserida no OPVS TESSELLATVM de uma sala, como legenda dos dois bustos, separados por foice e postos acima de duas crateras tombadas, tem merecido quase tantas traduções quantos os epigrafistas.

E o segredo permanece, de mistura com a sedução daquela TVRRE (que pode estar na origem das nossas TORRES novas) e do seu par Romano, de agricultores com certeza, a julgar pela VILLA em que viviam e pelos vasos e foice, testemunhos de vida agrícola, e prováveis símbolos de vinho e de pão.

Muitas são as interpretações tecidas à volta das seis palavras enigmáticas:

FELIX DE TVRRE fez estes mosaicos para CARDILIO e AVITA que ali viviam;

FELIX DE TVRRE fez os mosaicos em homenagem a CARDILIO e AVITA;

FELIX fez o retrato de CARDILlO e de AVITA, em vida, na localidade chamada TVRRIS;

A TORRE será feliz enquanto viverem CARDILIO e AVITA;

Vivendo CARDILIO e AVITA na TORRE FELIZ; CARDILIO e AVITA vivem felizes nesta TORRE; CARDILIO e AVITA morando na TORRE FELIZ. Se admitido está que CARDILIO e AVITA terão vivido no século IV, há construções, e espólio recolhido e identificado, que apontam para ocupação anterior, nos séculos I e II.


Das Ruínas, com extensos pavimentos de OPVS SIGNINVM e OPUS TESSELLATVM, sobressaem:

- PERISTYLVM, ou elemento central, com vestígios de doze colunas, quatro de cada lado, que formam um claustro, com vinte metros de lado, em que se insere faixa de 3,50 m de largura, revestido por seis diferentes tapetes de mosaicos. Nestes mosaicos, de tesselas de pedras azuis e brancas, que se misturam com outras de barro vermelho e amarelo, abundam os motivos geométricos (círculos secantes, quadrados, losangos simples ou combinados, triângulos seriados, círculos concêntricos), que se completam com nós de Salomão simples ou múltiplos, tranças, quadradinhos polícromos, etc.

Ao centro um quadrado de onze metros de lado, que seria jardim, com um poço revestido de alvenaria, de cerca de sete metros de profundidade, no extremo sul.

As escavações de 1984 puseram a descoberto, neste jardim, uma conduta e restos de paredes de construção anterior à "villa".

Uma calha de 50 em de largura, de OPVS SIGNINVM, corre ao longo dos quatro lados do quadrado.

OSTIVM. que terá sido a entrada principal, a poente do claustro, pavimentada por mosaico de tesselas, de cerca de 5x5 m.

Este mosaico é constituído por vários painéis, num dos quais, colocado a meio da segunda Fila, a inscrição já atrás referida. Noutro painel, na fila imediatamente abaixo, e descentrado para a esquerda, o busto de CARDILIO, de cabelo curto e ombro direito nu, com pregas na toga de púrpura, presa por fíbula, e o de AVITA, de cabeleira de vidros azuis-claros e tesselas azuis-escuras, e com veste que deixa desnudado o ombro direito.

Em terceiro painel, bem emoldurado, um grupo de quatro aves com flores pendentes dos bicos, postas duas a duas, em sentidos diametralmente opostos. Preenche o conjunto rica ornamentação de motivos geométricos (cubos em perspectiva, semicírculos. quadrados, triângulos, rombos, nós de Salomão, etc.), em tesselas azuis, vermelhas e amarelas sobre fundo branco.

O peristylum comunica a nascente com uma ampla sala de 10x6,5 m, pavimentada a OPVS SIGNINVM, ao fundo da qual se abre uma ábside que apresenta no pavimento uma fiada de buracos, onde se mantêm incrustados vestígios de cinzas, porventura emulsionadas com óleos e gorduras. É a EXEDRA, precedida de pórtico, que houve quatro colunas de frente e duas laterais. Eram de mármore as bases que se conheceram de três colunas e das quais só uma existe hoje.
Tanque a nordeste do peristylum, ladeado por colunas de tijolo, em três das suas quatro faces.
Pequena arcaria de tijolo para aquecimento, a poente do peristylum.


Texto de J. R. Bicho

in "Folheto Turístico", ed. Serviços Culturais da Câmara Municipal de Torres Novas

Fotos: Marius70