6.10.08

O Império dos sentidos

  O Vaticano considerou as pinturas expostas no Museu de Nápoles, descobertas em Pompeia, de pornografia: Não interessa o que esses objectos significavam para os romanos; hoje eles são obscenos, e ponto final", vociferou um porta-voz da Santa Sé.

  Se calhar para assim considerar de obscenos este porta-voz da Santa Sé esteve horas na fila dos turistas para poder avaliar as obras como tal. Melhor seria que cumprisse os requisitos da Igreja de fazer o bem e distribuir um pouco da riqueza da Santa Sé para mitigar a fome de muita gente. A Igreja Católica Apostólica ROMANA bem pode agradecer ao povo romano e ao seu Imperador Constantino o facto da Igreja católica ter sido difundida por todo o mundo, Acabou o Império Romano de lutas e conquistas através, só, das armas e começou outro com a cruz de Cristo numa mão e a espada na outra.


  O que para nós hoje nos parece imoral, na Roma antiga não o era. Os romanos podiam aproveitar-se da intimidade das suas escravas e dos seus jovens escravos. As crianças adoptadas, que eram tratados como de filhos se tratassem, eram muitas vezes sujeitos a práticas homossexuais. As relações entre um adulto e um adolescente eram permitidas, mas nunca entre dois homens adultos, assim eram considerados os que já tivessem barba.

  No entanto, o acto sexual com a sua esposa era às escuras e o peito dela, coberto com que hoje chamado de sutiã, nunca era mostrado.

  Os romanos eram puritanos nesse aspecto mas adornavam as suas casas com pinturas e mosaicos com nus e motivos eróticos principalmente nos quartos.


  Um dos locais descobertos que demonstra bem o que era a vida sexual na Roma antiga foi em Pompeia. Quando o Vesúvio expeliu a lava em 24 de agosto do ano 79 d.C., que cobriu a cidade de pedras e de gases venenosos, muitos dos seus habitantes ficaram soterrados, assim como as suas habitações, em 6 metros de cinzas perto de 1,5 mil anos.

  Descoberta em 1763, Pompeia surge da lava em toda a sua magnitude. Construções públicas, padarias, lojas e residências emergiram das escavações com as estruturas intactas.

  No Império Romano, assim como na Grécia antiga, a prostituição não era proibida, sendo normalmente feita por escravas trazidas de outros lugares, mulheres gregas e orientais. Embora se saiba que nas tabernas havia locais destinados à prática sexual, nas ruínas de Pompeia foi encontrado um único bordel, na época designado por Lupanare – a palavra é derivada de lupaes, que eram as prostitutas que frequentavam os parques públicos e atraíam a atenção de seus clientes com uivos de lobo, composto por dez quartos, cinco em baixo e cinco em cima. Os do piso superior eram destinados a clientes ricos.

  As suas paredes, estavam ornamentadas com frescos eróticos cada um representando uma cena de sexo diferente. Pensa-se que cada um indicava qual o tipo de especialidade da pessoa que trabalhava naquele quarto.


  Os nomes de algumas das prostitutas e de seus clientes ainda estão visíveis, rabiscados nas paredes dos quartos.

  Os prostíbulos eram formados por uma série de quartos cuja mobília se resumia a apenas uma cama de pedra com um colchão em cima. Na entrada de cada um deles havia uma cortina, onde constavam o preço e a especialidade da prostituta. As profissionais – ou "lobas", como eram conhecidas na Antiguidade – aguardavam os clientes na porta, vestidas com uma toga curta e uma rede fina de fios dourados cobrindo os seios. O programa de Pompeia tinha preços populares. Nos bordéis mais ordinários era o equivalente a duas taças de vinho barato, nas boas casas frequentadas pela elite romana, o serviço subia para o equivalente ao valor de oito taças de vinho tinto.

  Um dos frescos mostra um cunnilingus. O fellatius e o cunnilingus não eram permitidos pela sociedade romana que considerava tal acto repugnante.


  O lesbianismo também era permitido na Roma antiga. Nos banhos públicos eram frequentes, o encontro de mulheres que, embora sendo casadas, recorriam às escravas “felatoras” para satisfazerem os seus desejos lésbicos.


Este fresco, que se encontra na entrada de uma casa de Pompeia (Casa dos Vettii), representa o deus da fertilidade (deus Priapo). Este apoia seu grande membro sobre um prato da balança que faz contrapeso com o outro prato com um saco de dinheiro.





Nas portas era comum encontrar um pénis esculpido em argila ou pintado em um fresco como símbolo da fertilidade (fortuna, sorte, riqueza).







Texto e fotos pesquisadas e retiradas da net.

25.8.08

Torre de Palma - Monforte

  Marius aceita o convite do seu amigo João Casqueira para visitar o Alto Alentejo onde nunca tinham estado. Além de visitas a várias vilas, cidade, castelos e desfrutar de uma magnífica paisagem da Serra de S. Mamede, que Marius fará referência no seu «Rumo ao Sul», fez parte do roteiro visitas às ruínas romanas de Torre de Palma (Monforte) e Ammaia (Marvão), as quais o meu anfitrião serviu de cicerone, dando a conhecer vários aspectos da vivência romana nos locais visitados.

Para ti João e esposa o meu agradecimento.


Ponte Romana – Monforte

  À saída de Monforte a caminho de Alter do Chão, uma ponte romana dá as boas vindas. Edificada entre os séculos II e IV d.C. em aparelho rusticado do tipo opus caementicium em cantaria e alvenaria de granito, esta ponte está classificada como Imóvel de Interesse Público. Como se pode ver pela foto, e porque aqui Marius caminhou, verifica-se que a ponte teve intervenção recente. O verde das margens tornam o local convidativo para um belo dia passado entre a natureza e a história.

Dizem que esta ponte pode não ser romana, mas é certo que está definida como tal, logo se a definem é porque é!



Torre de Palma

 Depois de atravessada a ponte, a 5km de Monforte aparece uma Herdade. No alto das suas Torres, ninhos de cegonhas.



 O ar de abandono parece total, mesmo assim marius aventura-se a lá ir. Abre um portão que chia nos seus gonzos, quando tenta entrar teias de aranha roçam-lhe a cara. Estavam desfeitas as dúvidas. Nada mais muge naquela herdade, o falar das suas gentes tinham-se calado para sempre. A meia dúzia de passos outras gentes de outros falares tinham-se calado há mais de 1600 anos atrás, os romanos.

 Em 1947, Joaquim Inocêncio lavrava um terreno agrícola no monte de Torre de Palma. O arado bateu num capitel e deixou a descoberto um mosaico de pedrinhas. Nesse mesmo local, a uns 50 cm de profundidade, encontrou um pavimento de pedrinhas coloridas com figuras («mosaico das musas»).


SCOPA ASPRA TESSELLAM LEDERE NOLI. VTERI FELIX

(“Não estragues o mosaico com uma vassoura demasiado áspera, boa sorte !”)

 O Mosaico das Musas encontra-se exposto no Museu Nacional de Arqueologia - Lisboa

 Assim foram encontradas as ruínas de uma VILLA RUSTICA onde uma decerta poderosa família Romana, os BASÍLII, cujo nome é conhecido através de uma inscrição encontrada no local, aí se fixaram.

 A VILLA desenvolve-se sobre uma suave colina, junto de um pequeno riacho, em torno de um vasto pátio interior, de forma trapezoidal. As amplas e sumptuosas instalações da VILLA ROMANA, ou residência dos proprietários, dispunham-se por sua vez em torno de um peristylium, pátio quadrangular com um alpendre assente em colunas que tinha um tanque ao meio, o impluvium, e era pavimentado com mosaicos diversos. A entrada principal fazia-se através do tablinum ou sala de recepção, onde se encontrava o célebre mosaico das Musas, daí se passando para o pátio.

 O guia foi dando explicações sobre os vários locais visitados. Para além dos mosaicos, havia um local que chamava a atenção. A norte da VILLA encontraram-se as ruínas da Basílica Paleo-Cristão com um baptisfério em forma de cruz, de Lorena, com dois lanços opostos de quatro degraus. Com dois locais distintos, um reservado ao baptismo dos adultos e outro a crianças já se via a influência católica sobre as ruínas romanas.

 


 As sepulturas em aberto, os canais que irrigavam as hortas, os lagares de azeite, de vinho, a forja, os armazéns, os celeiros, a habitação, os balneários Este e Oeste, os locais de culto, tudo isto ainda tratado pela rama pelo IPPAR, não há dinheiro para tudo muito menos para a cultura de um povo, faz com que estas ruínas ainda não estejam devidamente exploradas. Desde 1947 quando a charrua bateu no capitel até hoje, pouco foi adiantado. As intenções são muitas mas só a intenção não chega, há que fazer sentir que a história de Portugal não começou com o povo de D. Afonso Henriques, mas sim com os povos que, no antanho, percorreram os mesmos locais que Marius o está fazendo agora.

 Para além do agradecimento ao João, o meu agradecimento ao guia Sr. Francisco (penso que é este o seu nome), pelas explicações dadas acerca destas ruínas. Foi um belo momento passado na Torre da Palma, com pessoas que, sem serem historiadoras, deram o seu melhor e para um leigo como Marius o é em matéria de lagares, celeiros e afins foi como se o ontem fosse hoje pois ainda hoje há lagares a funcionarem como o no tempo dos romanos há dois mil anos atrás.
Fontes consultadas. IPPAR MNA C.M.Monforte
Fotografia: Marius70

26.7.08

Conímbriga

  Das muitas ruínas romanas visitadas por Marius, Conímbriga são aquelas que, sem dúvida, em melhor estado estão. Pena é que não houvessem placas indicativas dos locais visitados e não é com o folheto informativo que se consegue descortinar esses locais a não ser que fôssemos içados e conseguíssemos relacionar a planta do folheto com as ruínas vistas lá do alto. Indaguei o motivo e disseram-me que estavam à espera de novas placas que estavam a ser ultimadas já que as anteriores se tinham deteriorado.

  Está aqui a diferença entre o legado pelos romanos e o de hoje. O legado romano, 2000 anos depois, ainda aí está, o que se faz agora é descartável, não dura tempo nenhum. Fizessem as placas com as pedrinhas do tempo dos romanos e de certo que os visitantes não andariam de “cabeça perdida” a tentar saber em que área das ruínas estavam.


 Conímbriga encontra-se a cerca de 15km da cidade de Coimbra. Segundo os estudiosos a junção de Conin (alto pedregoso) e Briga (castro) de origem celta deram origem ao nome.

  Quando os romanos chegaram na segunda metade do sé. I a.C., já Conímbriga era uma grande urbe, tendo-se desenvolvido e prosperado com a romanização do local.

  Sabemos que os romanos para além de respeitarem os usos, costumes e tradições da população indígena, faziam grandes obras que eram comuns em todos os locais e, assim, em Conímbriga, não podia faltar o fórum, as termas (de um povo tão limpo que eram todos os povos que se encontravam sob domínio romano, passou-se a um povo sujo com a queda do Império. Ainda hoje há locais que só se toma banho quando se casa e quando se morre), o anfiteatro e novas e imponentes residências. Eram assim os romanos.

  Desenvolveram em Conímbriga, novas manufacturas e artes e intensificaram a exploração agrícola.

  Basta uma visita ao espólio existente no Museu para se ver o quanto os romanos estavam adiantados no tempo. Nada era feito ao acaso. Como o referi no meu tema sobre Miróbriga aos romanos só faltavam os computadores. Desde a agulha, ao vaso fálico, desde a moeda aos pórticos tudo está lá, até uma casa em forma de cruz suástica existe (Hitler não “inventou” a cruz suástica e a origem da cruz não tem nada a haver com o povo ariano – vindo isto dum austríaco, baixinho, com um bigode ridículo e com graves problemas sexuais, nem sei como um povo como o alemão caiu na asneira de pensar que estava ali o seu mentor).

  Poderia dissertar mais sobre Conímbriga, mas não o vou fazer. Gostei bastante, nunca tinha visto coisa igual, mas percorri aquelas ruínas sem saber onde estava. Assim sendo, limitei-me a tirar fotos e admirar toda aquela opulência ainda visível que os romanos nos deixaram.



  Conímbriga, com a queda do Império e as invasões bárbaras, os suevos incendiaram e saquearam parte da cidade, foi sendo abandonada. Sobreviveram as ruínas e o legado de um povo que conquistou parte do mundo mas não conseguiu segurar tão vasto Império.

  Agora só nos resta o seu espólio e a certeza que quando pegamos em algum objecto, já esse mesmo objecto era pegado por um povo que aqui esteve há 2000 anos atrás que até tomava banho de água quente e água fria.



Fotos e vídeo: Marius70

Fontes consultadas:Conimbriga - Ruínas, Museu monográfico

... E observação directa!

20.5.08

Commodus

Commodus
(Lvcivs Aelivs Avrelivs Commodvs - Marcvs Avrelivs Commodvs Antoninvs)
Imperador – 180 a 192 d.C.

Cómodo




  O mimado Commodus, nasceu em 31 de Agosto de 161 d. C. em Lanuvium perto de Roma, era filho de Marco Aurélio e Faustina. É feito César pelo seu pai com apenas 5 anos (166) e em 177 é feito Augusto, tal e qual seu pai Marco Aurélio. Desde 178 até 180 participa nas guerras do Danúbio ao lado do pai. Torna-se único imperador com a morte de Marco Aurélio em 180. Retira de todos os territórios conquistados aos Quadi e aos Marcomanni, fazendo acordos com estes povos, que os humilharam e deixaram a sua capacidade bélica, praticamente inofensiva para Roma. Para que isto fosse possível, as vitórias brilhantes alcançadas por Marco Aurélio foram fundamentais. Condenou primeiro ao exílio e depois à morte a sua companheira Crispina. Em 182 descobre a 1ª conspiração para o matar, que é planeada pela sua irmã Annia Lucilla e pelo primo Marcus Ummidius Quadratus. Tanto Quadratus como Lucilla foram executados e, posteriormente, o prefeito do pretório Perénio e toda a família. Multiplicou os atentados àqueles que detinham um papel singular na vida civil e no governo, casos do Senado e das elites, excepção feita aos cristãos, demonstrando de igual modo um profundo aborrecimento e desconsideração pelo cargo que ocupava. Chegou a nomear em 189 vinte e cinco cônsules, sendo frequente os julgamentos nos tribunais serem resolvidos com dinheiro, vendendo igualmente cargos públicos, no governo e na magistratura.

  Commodus não ligava aos assuntos do Governo nem ao Império, pelo que a sua vida era uma festa constante, com um harém de 300 raparigas e 300 rapazes. Durante o seu período como imperador teve, contudo, o bom senso de escolher para as províncias e para o exército indivíduos com capacidades de administração, bem como o cuidado em atender as solicitações dos mais oprimidos, como o caso dos colonos africanos.

  A sua personalidade era singular. Tinha uma predilecção de gladiador (Cómodo teria sido concebido depois da sua mãe, Faustina, se ter apaixonado por um gladiador que vira ao longe. Marco Aurélio depois de consultar adivinhos, mandou matar o gladiador, Faustina terá banhado no seu sangue e deitaram-se a seguir. Faustina daria à luz Cómodo que, pelos vistos, teve mais do sangue do gladiador que do sémen do Imperador), auto denominando-se Hércules Romanus usando, à semelhança do seu herói, uma pele de leão e uma maça, sendo vaidoso, libertino e votado à loucura precoce. Nos seus últimos anos de vida Commodus costumava ir à arena e matava animais e gladiadores feridos. Segundo o historiador Cássio, ele matava sozinho na arena um tigre, um hipopótamo e um elefante. Cruel combateu 700 vezes no anfiteatro, o que chocava os Romanos, por saberem que o seu imperador se rebaixava ao nível de um escravo, como um gladiador. Convocava os senadores para o verem actuar na arena e teriam que o louvar: «Sois o senhor e sois o primeiro! De todos os homens afortunados, sois o vencedor!» Mesmo quando Cómodo cortou uma cabeça de avestruz e a levantou triunfante, os senadores e espectadores arrancavam folhas amargas das suas grinaldas e as mastigavam para não rebentarem em gargalhadas. Mais valia uma folha amarga que uma cabeça decepada.

  A loucura de Commodus, não podia continuar e, após diversos atentados, assim, a sua concubina preferida, Márcia, o Prefeito da Guarda Pretoriana Quintus Aemilius Laetus e o Conselheiro da Corte Eclectus armaram um plano para assassinar Commodus. Contrataram um gladiador chamado Narcissus para estrangular o Imperador na cama, o que viria a acontecer na noite de 31 de Dezembro de 192 (outra versão aponta para o dia 1 de Janeiro de 193). Roma estava finalmente livre da loucura de Commodus.


12.4.08

O Ensino no Império Romano

Dedico este tema a ti meu pequeno amigo brasileiro de Manaus, Rodrigo Raposo, com muitos Parabéns pelo teu 12º aniversário, um grande abraço!

“A Grécia conquistada conquistou por sua vez seu selvagem vencedor e trouxe a civilização ao rude Lácio”

Horácio

  Mas se os romanos inicialmente foram influenciados pela cultura grega, rapidamente deixaram de o ser pela facilidade com que o povo latino se adaptava e assimilava os costumes de outras civilizações conforme o Império se ia alargando nas suas fronteiras.

  No século II a.c., o pater familias concede à mãe, a matrona romana, os direitos sobre a educação de seus filhos durante a primeira infância, gozando aquela de uma autoridade desconhecida na Civilização Grega. Essa influência terminava logo que as crianças saíam da meninice por volta dos 7 anos. Caberá a partir daí, ao pai a responsabilidade de proporcionar ao filho a educação cívica e moral que passava pela aprendizagem constantes nas Leis das XII Tábuas (já aqui tratado) símbolo da tradição Romana.

Instrução Primária (ludus litterarius)



  Se é certo que a iniciação da criança nos estudos fica a cargo de um preceptor particular (em especial nas famílias aristocráticas), por volta dos sete anos a criança é confiada a um Mestre Primário – o litterator, “aquele que ensina as letras”, também designado por primus magister, magister ludi, magister ludi literarii, ou, como viria a ser designado no século IV a.c., o institutor. O primus magister é, em Roma, mal remunerado e pouco conceituado na hierarquia social.



  As crianças romanas, caso fossem de famílias ricas, faziam-se acompanhar à escola por um escravo, designado segundo a terminologia grega por Paedagogus (pedagogo) . Este poderia, em determinadas circunstâncias, ascender ao papel de explicador ou até mesmo de mentor, arcando assim com a educação moral da criança. O Paedagogus conduzia o seu pequeno senhor à escola, designada por ludus litterarius, e aí permanecia até ao final da lição. O ensino é colectivo, as meninas também frequentavam a escola primária, embora para elas o preceptorado privado pareça ter sido a nota dominante.

  As famílias pobres entregavam os filhos a uma escola privada fundada por profissionais.

  Cabe ao Mestre providenciar as instalações. Este resguarda os seus alunos debaixo de um pequeno alpendre protegido por um toldo – pérgula - nas proximidades de um pórtico ou na varanda de alguma mansão aberta e acessível a todos.

  As aulas são ministradas ao ar livre, invadidos pelos ruídos da rua de que estavam separados por alguns panos de barraca – o velum.

  As crianças agrupam-se em torno do Mestre que pontifica da sua cadeira – a cathedra - colocada sobre um estrado. O mestre é muitas vezes assistido por um ajudante, o hypodidascales. Sentadas em bancos ou escabelos (bancos compridos) sem encosto, as crianças escrevem sobre os joelhos num quadro preto, tabuletas e alguns ábacos.

  A jornada escolar da criança romana tinha início ao alvorecer e durava até ao pôr-do-sol. As aulas apenas eram suspensas durante as festas religiosas, nas férias de Verão (dos finais de Julho a meados de Outubro) e também durante as nundinae que semanalmente se repetiam no mercado.

  A ambição do professor limitava-se a fazer os alunos a aprender a ler, escrever e contar, e como dispunha de muitos anos para o fazer não se preocupava em aperfeiçoar os métodos de ensino. O programa compreendia a escrita em duas línguas (latim e grego) em primeiro pelo nome e a ordem das letras, de A a X, antes mesmo de lhes conhecer a forma e depois agrupá-las em sílabas e palavras. Estes três tipos de aprendizagem constituem as categorias sucessivas do abecedarii, syllabarii e nomirarri. Antes de passar à redacção de textos era ensaiada a escrita de pequenas frases bem como máximas morais de um ou dois versos. No estudo da aritmética contavam as unidades com os dedos, no cálculo das dezenas, das centenas e dos milhares, mexendo pedrinhas ou calcuti nas linhas correspondentes dos ábacos.



  Associada à leitura e à escrita encontra-se a declamação. A criança é incentivada a memorizar pequenos textos à semelhança do que ocorria na Grécia.

  Os estudantes demasiados lentos na decifração dos textos que tinham que recitar, ou se revelavam desleixados na cópia dos de linhas de verso podiam sentir o castigo pelo primus magister que apoiava a sua autoridade na vara ou na férula (palmatória), instrumento a que recorre para infringir os castigos nas crianças. “Estender a mão à palmatória”, manum ferulae subducere, é na verdade para os Romanos sinónimo de estudar.



  Os alunos são agrupados em classes, de acordo com o seu rendimento escolar. Os melhores alunos colaboram com o primus magister ensinando aos colegas as letras e as sílabas. O titulos (designação latina para quadro preto) é também uma invenção romana. Consiste num rectângulo de cartão preto em torno do qual os alunos se agrupam de pé, ordeiramente.

  Ao meio-dia, os alunos eram acompanhados até casa, onde comiam pão, azeitonas, queijo, figos secos e oleaginosas.

  Sobre a influência de Quintiliano, primeiro professor pago pelo estado, no Império de Vespasiano, altera-se profundamente o ensino. Alerta para a necessidade de se identificarem os talentos das crianças e chama a atenção para a necessidade de reconhecer as diferenças individuais e de adoptar diferentes formas de procedimento perante elas. Recomendava que se ensinassem simultaneamente os nomes das letras e as suas formas, devendo a eventual imperícia do aluno ser corrigida obrigando-o a reproduzir as letras com o seu estilete na placa dos modelos, previamente gravada pelo professor. É contrário aos castigos físicos, e portanto ao uso da férula. Recomenda a emulação como incentivo para o estudo e sugere que o tempo escolar seja periodicamente interrompido por recreios, já que o descanso é, na sua opinião, favorável à aprendizagem.

Fontes consultadas:
«Quando Roma Dominava o Mundo, (da Verbo)», «Em Roma – no Apogeu do Império - Jêrome Carcopino - Edição Livros do Brasil», «O Ensino em Roma - Cristina Fulgêncio e Dulce Silvério», «Mercado de Trabalho Romano – Joana»


25.2.08

As Guerras Marcomanas



  Em 169 o Império está à beira da catástrofe. Os Romanos haviam lutado contra os Partos, e quando a guerra terminou, os soldados trouxeram a peste para Roma, deixando o exército de rastos e a Itália a braços com uma grande epidemia. Aproveitando esta fraqueza, os Marcomanos, Quadi, Suevos e Vândalos lançam uma grande ofensiva a partir da República Checa. Este exército Germanico chega mesmo a lançar cerco à cidade de Aquileia e conquista a Panonia. Marco Aurélio irá assim passar o resto da sua vida em tendas militares, para expulsar os bárbaros.

  Em 172 a 12º Legião Fulminata, quase foi destruída, caso não tivesse chovido, impedindo os Quadi de dar o golpe final. A partir daqui a sorte da guerra muda, e um a um os aliados dos Marcomanos rendem-se, e os que ainda combatem são expulsos de novo para a Germania. Com um exército em grande parte contaminado pela praga, parece um milagre que Marco Aurélio tenha conseguido empurrar os Germanicos para fora dos limes outra vez. As guerras marcomanas duraram de 169 d.C.– 179/180 d.C. e acabaram com a vitória Romana. Foi uma das maiores guerras travadas pelo Império desde as Guerras Púnicas, e custaram caro (o próprio Marco Aurélio teve de vender a sua mobília para pagar aos soldados, evitando assim subir os impostos). Durante este período Marco Aurélio escreveu um dos mais famosos livros, Meditações, que reflectem bem o seu espírito estóico.




Maximus, personagem do filme «Gladiador», é o General que derrota definitivamente os Bárbaros na Germania.









11.1.08

Marcus Aurelius

MARCUS AURELIUS
(Marcvs Aelivs Avrelivs Vervs)
Imperador - 161 a 180 d.C.

Marco Aurélio



  Chamado também Marco António, nasceu em Roma a 28 de Abril de 121. Filho de Annio Vero e Domicia Cavilla, cuja família remonta a Numa. À morte de seu pai, Adriano lhe dá o nome de Annio Veríssimo, e quando veste a toga viril aos quinze anos, Annio Vero. Este imperador, quando adopta Antonino pouco antes de morrer, faz com a condição de que Antonino adopte o nome de Marco Aurélio. Em consequência da adopção o jovem Annio Vero passa a formar parte da família Aurélia, a de Antonino e muda o nome para Aurélio. Antonino oferece a mão de sua filha Faustina quando ele era ainda muito jovem, casará com ela mais tarde, o designa cônsul em 139 e concede-lhe o titulo de César, mais tarde por proposta do Senado, ingressa no colégio de pontífices, o que é confirmado pelas moedas em que aparece com os atributos pontifícios e a legenda PIETAS AVG, com data do seu primeiro consulado. Tendo todas estas honras, Marco Aurélio seguiu levando a vida simples de sempre e prosseguiu com os estudos. Estudou literatura grega e latina, Retórica, Direito, Pintura e Filosofia. Filiado na escola dos filósofos «estóicos» retratou-se no seu livro «Pensamentos». No ano 146 é elevado ao título de Tribuno.



  Quando desaparece Antonino, em 161, Marco Aurélio designa Ceonio Cómodo seu irmão adoptivo para compartilhar o poder, dando-lhe o nome de Lúcio Aurélio Vero Cómodo. É um acontecimento que serve para dar amplas retribuições a soldados e oficiais. A concórdia existente entre ambos imperadores fica patente em numerosas moedas.

  Ao chegar Marco Aurélio ao poder, o rei dos Partos, Vologeses, declara guerra a Roma. Vero marcha para a Síria para combatê-lo e Marco Aurélio permanece na capital. Os romanos apoderam-se de várias cidades e penetram na Armenia e no país de Medea. Em 165, os Partos pedem a paz e cedem aos romanos a Adiabena e Mesopotâmia. Vero regressa a Roma no ano seguinte e os imperadores que já gozavam o título de "Arménio" por terem vencido Artejia, juntam os de "Médio", "Pártico" e "Muito Grande".Em 167, toda a classe de calamidades assola o império, fome, peste, guerra iminente com os Britanios, invasão dos Catios na Germania e Recia, mas com vigilância e constante firmeza Marco Aurélio resolve estes males e faz distribuições ao povo para o ajudar a suportar os rigores da fome.

  Segundo historiadores chineses, nesse mesmo ano mandou o imperador da China dois mensageiros com o objectivo de comerciar a seda. No ano 169, estala a guerra com os Marcomanios, conflito que inspira um tal terror que o imperador mandou vir sacerdotes de toda a Itália para celebrar um "Lectisternium" de sete dias. Ambos os imperadores partiram a comandar os exércitos romanos, mas Lúcio Vero morreu de doença no carro em que ia sentado com seu irmão. Marco Aurélio terminou a guerra com uma estrondosa vitória, jamais acontecida com o exército romano. Segundo conta Capitolin, derrotou o inimigo junto ao rio Danúbio em 172, façanha que aparece nas moedas. A Germania foi submetida no ano seguinte.

  Correu o rumor que Marco Aurélio tinha morrido na batalha, Avido Casio, governador da Síria toma o título de imperador do Oriente no ano 175. Perante tal situação, Marco Aurélio adiantou a entrega da toga viril a seu filho Cómodo e marchou contra o rebelde, que já tinha morrido. Percorreu o Egipto e Síria, perdoou aos habitantes de Antioquia terem-se unido ao partido de Casio, visitou Atenas e em 23 de Dezembro de 176, junto com Cómodo venceu os Sármatos. No ano seguinte contrai núpcias com Crispina e faz novas doações ao povo. No ano 179, vence pela segunda vez os Marcomanios, assim como a Hermundurios, Quades e Sármatas que se tinham coligado contra ele.

  Marco Aurélio, chamado também o Filósofo, é considerado por numerosos historiadores como o melhor imperador romano. Foi considerado o mais «sábio dos imperadores e o mais virtuoso dos filósofos». Na verdade, é muito difícil escolher entre ele e Antonino. Três vezes cônsul e oito generais (imperator), teve os títulos de "Germánico" em 172, "Sarmático" em 175. De Faustina teve (sem contar vários filhos mortos de tenra idade) Lucilia, Cómodo e Antonino (o gémeo morto aos quatro anos), Sabina, Domicia, Faustina e Antonio Vero. A justiça e a caridade foram o lema da sua vida mas isso não evitou de mover a quarta perseguição contra os cristãos.

  Faleceu em Vindobona (actual Viena). antiga região de Europa Central, sobre o Danúbio médio, conquistada pelos Romanos entre 35 a.C. e 9 d.C.

  Sucedeu-lhe o filho, Lúcio Aélio Aurélio Cómodo.

  Esta é a inscrição encontrada sobre uma sepultura em Viena (Vindobona).

T. CALIDIVS
PCAM SEVER
EQITVMOPEIO
DICVRCOLIALPINI
ITEM LEGXV APOLL
ANNORVUM XXXII
Q.CALIDIVS FRATRI
POSVIT