7.2.09

Ammaia


  Se em Torre da Palma, Marius para além das informações sobre as ruínas do amigo João Casqueira, as teve também do Sr. Francisco (?), guia do local, em Ammaia foi este meu amigo, conhecido através da net, que me prestou todas as informações sobre esta antiga cidade. Para ti João e esposa, aquele abraço!

  Marius já ouvira falar de Ammaia há muitos anos atrás. Não sendo historiador Marius (nick escolhido pelo facto de se chamar Mário e não por ser um estudioso da cultura romana) “vestiu” a pele romana e é vê-lo por esse Portugal sempre à procura das ruínas de um povo que não aguentou tão vasto Império e, como todos os Impérios, acabou um dia. Mas o legado ficou e mais uma vez Ammaia o comprova.

  Ammaia, situada na aldeia de São Salvador da Aramenha - Marvão, foi uma cidade importante no passado. Em 1995 começaram as intervenções arqueológicas. Pensa-se que esta cidade tem de área urbana mais de vinte hectares (1 km2 = 100 hectares).

  O amigo João chama-me a atenção para o desgaste da pedra à entrada da cidade pelo rodado das carroças, o que significa que Ammaia era um centro populacional muito concorrido.



  A malha urbana era rodeada de uma muralha, hoje restam pequenas amostras dessa imponência que, outrora, envolveu a cidade.



  Os vestígios arqueológicos estão situados na Quinta do Deão e na Tapada da Aramenha. No entanto muito há que escavar pois devido a um cataclismo nos séculos V e IX, a parte baixa da cidade foi soterrada e, como Pompeia e Herculano, ficou conservada pois à sua superfície não se desenvolveram outras urbanizações. Devido a isso, Ammaia foi abandonada e da cidade próspera hoje só restam as ruínas.

  Foram descobertas referências à época em que foi fundada a cidade. Não eram propriamente romanos os seus fundadores mas sim lusitanos romanizados pertencendo à tribo Quirina. No entanto a romanização faz-se através do Imperador Cláudio elevando a cidade por volta do ano 44/45 d.C. à categoria de Civitas. Depois passa a Municipium ainda durante o séc. I d.C., mas sem grandes alterações na administração já que a designação é mais honorífica que outra coisa.

  Como qualquer cidade romana, não podia faltar o “podium” de um Templo no Fórum, as termas públicas com tepidarium (tanque de água tépida) frigidarium (tanque de água fria) e estruturas domiciliares.



  Depois do abandono é o que se vê. Tudo o que se encontrava à superfície e era para levar foi levado. No Castelo de Marvão, de Castelo de Vide (tinha um arco - Arco da Aramenha, que unia as duas torres de uma das entradas de Ammaia, em 1710 este arco foi destruido. Assim se trata o património cultural neste país) e até numa vivenda junto à estrada Marius viu pórticos, colunatos e afins retirados de Ammaia. Na vivenda, o pedestal estava colocado por cima da entrada do portão, pintado, imagina-se, de branco. Fica lindo ali uma recordação de um povo que aqui esteve pintadinho de branco. Só visto!... Valham-me os deuses romanos!

  E, como não bastasse, a construção da E. N. n.º 359 dividiu a área em duas partes. Com as obras, uma natatium (piscina) que fazia parte do edifício termal foi danificada. Valeu-me a ajuda do João conhecedor destas andanças para continuar a visita para além da estrada.

  Muito há ainda para pôr a descoberto. O Museu está bem documentado, só que falta colocar à entrada do portão exterior uma placa com as horas e dias de visita. É que este encontrava-se fechado sem nenhuma indicação e se não fosse o facto de termos visto alguns visitantes no interior, não sabíamos que podíamos visitar Ammaia naquele dia. É que no dia anterior já lá tínhamos estado e ido embora pois não se via vivalma nem qualquer indicação de que bastava empurrar o portão para ter acesso à entrada destas ruínas.

Fotografia: Marius70 Fonte consultada: Fundação Cidade de Ammaia

6.10.08

O Império dos sentidos

  O Vaticano considerou as pinturas expostas no Museu de Nápoles, descobertas em Pompeia, de pornografia: Não interessa o que esses objectos significavam para os romanos; hoje eles são obscenos, e ponto final", vociferou um porta-voz da Santa Sé.

  Se calhar para assim considerar de obscenos este porta-voz da Santa Sé esteve horas na fila dos turistas para poder avaliar as obras como tal. Melhor seria que cumprisse os requisitos da Igreja de fazer o bem e distribuir um pouco da riqueza da Santa Sé para mitigar a fome de muita gente. A Igreja Católica Apostólica ROMANA bem pode agradecer ao povo romano e ao seu Imperador Constantino o facto da Igreja católica ter sido difundida por todo o mundo, Acabou o Império Romano de lutas e conquistas através, só, das armas e começou outro com a cruz de Cristo numa mão e a espada na outra.


  O que para nós hoje nos parece imoral, na Roma antiga não o era. Os romanos podiam aproveitar-se da intimidade das suas escravas e dos seus jovens escravos. As crianças adoptadas, que eram tratados como de filhos se tratassem, eram muitas vezes sujeitos a práticas homossexuais. As relações entre um adulto e um adolescente eram permitidas, mas nunca entre dois homens adultos, assim eram considerados os que já tivessem barba.

  No entanto, o acto sexual com a sua esposa era às escuras e o peito dela, coberto com que hoje chamado de sutiã, nunca era mostrado.

  Os romanos eram puritanos nesse aspecto mas adornavam as suas casas com pinturas e mosaicos com nus e motivos eróticos principalmente nos quartos.


  Um dos locais descobertos que demonstra bem o que era a vida sexual na Roma antiga foi em Pompeia. Quando o Vesúvio expeliu a lava em 24 de agosto do ano 79 d.C., que cobriu a cidade de pedras e de gases venenosos, muitos dos seus habitantes ficaram soterrados, assim como as suas habitações, em 6 metros de cinzas perto de 1,5 mil anos.

  Descoberta em 1763, Pompeia surge da lava em toda a sua magnitude. Construções públicas, padarias, lojas e residências emergiram das escavações com as estruturas intactas.

  No Império Romano, assim como na Grécia antiga, a prostituição não era proibida, sendo normalmente feita por escravas trazidas de outros lugares, mulheres gregas e orientais. Embora se saiba que nas tabernas havia locais destinados à prática sexual, nas ruínas de Pompeia foi encontrado um único bordel, na época designado por Lupanare – a palavra é derivada de lupaes, que eram as prostitutas que frequentavam os parques públicos e atraíam a atenção de seus clientes com uivos de lobo, composto por dez quartos, cinco em baixo e cinco em cima. Os do piso superior eram destinados a clientes ricos.

  As suas paredes, estavam ornamentadas com frescos eróticos cada um representando uma cena de sexo diferente. Pensa-se que cada um indicava qual o tipo de especialidade da pessoa que trabalhava naquele quarto.


  Os nomes de algumas das prostitutas e de seus clientes ainda estão visíveis, rabiscados nas paredes dos quartos.

  Os prostíbulos eram formados por uma série de quartos cuja mobília se resumia a apenas uma cama de pedra com um colchão em cima. Na entrada de cada um deles havia uma cortina, onde constavam o preço e a especialidade da prostituta. As profissionais – ou "lobas", como eram conhecidas na Antiguidade – aguardavam os clientes na porta, vestidas com uma toga curta e uma rede fina de fios dourados cobrindo os seios. O programa de Pompeia tinha preços populares. Nos bordéis mais ordinários era o equivalente a duas taças de vinho barato, nas boas casas frequentadas pela elite romana, o serviço subia para o equivalente ao valor de oito taças de vinho tinto.

  Um dos frescos mostra um cunnilingus. O fellatius e o cunnilingus não eram permitidos pela sociedade romana que considerava tal acto repugnante.


  O lesbianismo também era permitido na Roma antiga. Nos banhos públicos eram frequentes, o encontro de mulheres que, embora sendo casadas, recorriam às escravas “felatoras” para satisfazerem os seus desejos lésbicos.


Este fresco, que se encontra na entrada de uma casa de Pompeia (Casa dos Vettii), representa o deus da fertilidade (deus Priapo). Este apoia seu grande membro sobre um prato da balança que faz contrapeso com o outro prato com um saco de dinheiro.





Nas portas era comum encontrar um pénis esculpido em argila ou pintado em um fresco como símbolo da fertilidade (fortuna, sorte, riqueza).







Texto e fotos pesquisadas e retiradas da net.

25.8.08

Torre de Palma - Monforte

  Marius aceita o convite do seu amigo João Casqueira para visitar o Alto Alentejo onde nunca tinham estado. Além de visitas a várias vilas, cidade, castelos e desfrutar de uma magnífica paisagem da Serra de S. Mamede, que Marius fará referência no seu «Rumo ao Sul», fez parte do roteiro visitas às ruínas romanas de Torre de Palma (Monforte) e Ammaia (Marvão), as quais o meu anfitrião serviu de cicerone, dando a conhecer vários aspectos da vivência romana nos locais visitados.

Para ti João e esposa o meu agradecimento.


Ponte Romana – Monforte

  À saída de Monforte a caminho de Alter do Chão, uma ponte romana dá as boas vindas. Edificada entre os séculos II e IV d.C. em aparelho rusticado do tipo opus caementicium em cantaria e alvenaria de granito, esta ponte está classificada como Imóvel de Interesse Público. Como se pode ver pela foto, e porque aqui Marius caminhou, verifica-se que a ponte teve intervenção recente. O verde das margens tornam o local convidativo para um belo dia passado entre a natureza e a história.

Dizem que esta ponte pode não ser romana, mas é certo que está definida como tal, logo se a definem é porque é!



Torre de Palma

 Depois de atravessada a ponte, a 5km de Monforte aparece uma Herdade. No alto das suas Torres, ninhos de cegonhas.



 O ar de abandono parece total, mesmo assim marius aventura-se a lá ir. Abre um portão que chia nos seus gonzos, quando tenta entrar teias de aranha roçam-lhe a cara. Estavam desfeitas as dúvidas. Nada mais muge naquela herdade, o falar das suas gentes tinham-se calado para sempre. A meia dúzia de passos outras gentes de outros falares tinham-se calado há mais de 1600 anos atrás, os romanos.

 Em 1947, Joaquim Inocêncio lavrava um terreno agrícola no monte de Torre de Palma. O arado bateu num capitel e deixou a descoberto um mosaico de pedrinhas. Nesse mesmo local, a uns 50 cm de profundidade, encontrou um pavimento de pedrinhas coloridas com figuras («mosaico das musas»).


SCOPA ASPRA TESSELLAM LEDERE NOLI. VTERI FELIX

(“Não estragues o mosaico com uma vassoura demasiado áspera, boa sorte !”)

 O Mosaico das Musas encontra-se exposto no Museu Nacional de Arqueologia - Lisboa

 Assim foram encontradas as ruínas de uma VILLA RUSTICA onde uma decerta poderosa família Romana, os BASÍLII, cujo nome é conhecido através de uma inscrição encontrada no local, aí se fixaram.

 A VILLA desenvolve-se sobre uma suave colina, junto de um pequeno riacho, em torno de um vasto pátio interior, de forma trapezoidal. As amplas e sumptuosas instalações da VILLA ROMANA, ou residência dos proprietários, dispunham-se por sua vez em torno de um peristylium, pátio quadrangular com um alpendre assente em colunas que tinha um tanque ao meio, o impluvium, e era pavimentado com mosaicos diversos. A entrada principal fazia-se através do tablinum ou sala de recepção, onde se encontrava o célebre mosaico das Musas, daí se passando para o pátio.

 O guia foi dando explicações sobre os vários locais visitados. Para além dos mosaicos, havia um local que chamava a atenção. A norte da VILLA encontraram-se as ruínas da Basílica Paleo-Cristão com um baptisfério em forma de cruz, de Lorena, com dois lanços opostos de quatro degraus. Com dois locais distintos, um reservado ao baptismo dos adultos e outro a crianças já se via a influência católica sobre as ruínas romanas.

 


 As sepulturas em aberto, os canais que irrigavam as hortas, os lagares de azeite, de vinho, a forja, os armazéns, os celeiros, a habitação, os balneários Este e Oeste, os locais de culto, tudo isto ainda tratado pela rama pelo IPPAR, não há dinheiro para tudo muito menos para a cultura de um povo, faz com que estas ruínas ainda não estejam devidamente exploradas. Desde 1947 quando a charrua bateu no capitel até hoje, pouco foi adiantado. As intenções são muitas mas só a intenção não chega, há que fazer sentir que a história de Portugal não começou com o povo de D. Afonso Henriques, mas sim com os povos que, no antanho, percorreram os mesmos locais que Marius o está fazendo agora.

 Para além do agradecimento ao João, o meu agradecimento ao guia Sr. Francisco (penso que é este o seu nome), pelas explicações dadas acerca destas ruínas. Foi um belo momento passado na Torre da Palma, com pessoas que, sem serem historiadoras, deram o seu melhor e para um leigo como Marius o é em matéria de lagares, celeiros e afins foi como se o ontem fosse hoje pois ainda hoje há lagares a funcionarem como o no tempo dos romanos há dois mil anos atrás.
Fontes consultadas. IPPAR MNA C.M.Monforte
Fotografia: Marius70

26.7.08

Conímbriga

  Das muitas ruínas romanas visitadas por Marius, Conímbriga são aquelas que, sem dúvida, em melhor estado estão. Pena é que não houvessem placas indicativas dos locais visitados e não é com o folheto informativo que se consegue descortinar esses locais a não ser que fôssemos içados e conseguíssemos relacionar a planta do folheto com as ruínas vistas lá do alto. Indaguei o motivo e disseram-me que estavam à espera de novas placas que estavam a ser ultimadas já que as anteriores se tinham deteriorado.

  Está aqui a diferença entre o legado pelos romanos e o de hoje. O legado romano, 2000 anos depois, ainda aí está, o que se faz agora é descartável, não dura tempo nenhum. Fizessem as placas com as pedrinhas do tempo dos romanos e de certo que os visitantes não andariam de “cabeça perdida” a tentar saber em que área das ruínas estavam.


 Conímbriga encontra-se a cerca de 15km da cidade de Coimbra. Segundo os estudiosos a junção de Conin (alto pedregoso) e Briga (castro) de origem celta deram origem ao nome.

  Quando os romanos chegaram na segunda metade do sé. I a.C., já Conímbriga era uma grande urbe, tendo-se desenvolvido e prosperado com a romanização do local.

  Sabemos que os romanos para além de respeitarem os usos, costumes e tradições da população indígena, faziam grandes obras que eram comuns em todos os locais e, assim, em Conímbriga, não podia faltar o fórum, as termas (de um povo tão limpo que eram todos os povos que se encontravam sob domínio romano, passou-se a um povo sujo com a queda do Império. Ainda hoje há locais que só se toma banho quando se casa e quando se morre), o anfiteatro e novas e imponentes residências. Eram assim os romanos.

  Desenvolveram em Conímbriga, novas manufacturas e artes e intensificaram a exploração agrícola.

  Basta uma visita ao espólio existente no Museu para se ver o quanto os romanos estavam adiantados no tempo. Nada era feito ao acaso. Como o referi no meu tema sobre Miróbriga aos romanos só faltavam os computadores. Desde a agulha, ao vaso fálico, desde a moeda aos pórticos tudo está lá, até uma casa em forma de cruz suástica existe (Hitler não “inventou” a cruz suástica e a origem da cruz não tem nada a haver com o povo ariano – vindo isto dum austríaco, baixinho, com um bigode ridículo e com graves problemas sexuais, nem sei como um povo como o alemão caiu na asneira de pensar que estava ali o seu mentor).

  Poderia dissertar mais sobre Conímbriga, mas não o vou fazer. Gostei bastante, nunca tinha visto coisa igual, mas percorri aquelas ruínas sem saber onde estava. Assim sendo, limitei-me a tirar fotos e admirar toda aquela opulência ainda visível que os romanos nos deixaram.



  Conímbriga, com a queda do Império e as invasões bárbaras, os suevos incendiaram e saquearam parte da cidade, foi sendo abandonada. Sobreviveram as ruínas e o legado de um povo que conquistou parte do mundo mas não conseguiu segurar tão vasto Império.

  Agora só nos resta o seu espólio e a certeza que quando pegamos em algum objecto, já esse mesmo objecto era pegado por um povo que aqui esteve há 2000 anos atrás que até tomava banho de água quente e água fria.



Fotos e vídeo: Marius70

Fontes consultadas:Conimbriga - Ruínas, Museu monográfico

... E observação directa!

20.5.08

Commodus

Commodus
(Lvcivs Aelivs Avrelivs Commodvs - Marcvs Avrelivs Commodvs Antoninvs)
Imperador – 180 a 192 d.C.

Cómodo




  O mimado Commodus, nasceu em 31 de Agosto de 161 d. C. em Lanuvium perto de Roma, era filho de Marco Aurélio e Faustina. É feito César pelo seu pai com apenas 5 anos (166) e em 177 é feito Augusto, tal e qual seu pai Marco Aurélio. Desde 178 até 180 participa nas guerras do Danúbio ao lado do pai. Torna-se único imperador com a morte de Marco Aurélio em 180. Retira de todos os territórios conquistados aos Quadi e aos Marcomanni, fazendo acordos com estes povos, que os humilharam e deixaram a sua capacidade bélica, praticamente inofensiva para Roma. Para que isto fosse possível, as vitórias brilhantes alcançadas por Marco Aurélio foram fundamentais. Condenou primeiro ao exílio e depois à morte a sua companheira Crispina. Em 182 descobre a 1ª conspiração para o matar, que é planeada pela sua irmã Annia Lucilla e pelo primo Marcus Ummidius Quadratus. Tanto Quadratus como Lucilla foram executados e, posteriormente, o prefeito do pretório Perénio e toda a família. Multiplicou os atentados àqueles que detinham um papel singular na vida civil e no governo, casos do Senado e das elites, excepção feita aos cristãos, demonstrando de igual modo um profundo aborrecimento e desconsideração pelo cargo que ocupava. Chegou a nomear em 189 vinte e cinco cônsules, sendo frequente os julgamentos nos tribunais serem resolvidos com dinheiro, vendendo igualmente cargos públicos, no governo e na magistratura.

  Commodus não ligava aos assuntos do Governo nem ao Império, pelo que a sua vida era uma festa constante, com um harém de 300 raparigas e 300 rapazes. Durante o seu período como imperador teve, contudo, o bom senso de escolher para as províncias e para o exército indivíduos com capacidades de administração, bem como o cuidado em atender as solicitações dos mais oprimidos, como o caso dos colonos africanos.

  A sua personalidade era singular. Tinha uma predilecção de gladiador (Cómodo teria sido concebido depois da sua mãe, Faustina, se ter apaixonado por um gladiador que vira ao longe. Marco Aurélio depois de consultar adivinhos, mandou matar o gladiador, Faustina terá banhado no seu sangue e deitaram-se a seguir. Faustina daria à luz Cómodo que, pelos vistos, teve mais do sangue do gladiador que do sémen do Imperador), auto denominando-se Hércules Romanus usando, à semelhança do seu herói, uma pele de leão e uma maça, sendo vaidoso, libertino e votado à loucura precoce. Nos seus últimos anos de vida Commodus costumava ir à arena e matava animais e gladiadores feridos. Segundo o historiador Cássio, ele matava sozinho na arena um tigre, um hipopótamo e um elefante. Cruel combateu 700 vezes no anfiteatro, o que chocava os Romanos, por saberem que o seu imperador se rebaixava ao nível de um escravo, como um gladiador. Convocava os senadores para o verem actuar na arena e teriam que o louvar: «Sois o senhor e sois o primeiro! De todos os homens afortunados, sois o vencedor!» Mesmo quando Cómodo cortou uma cabeça de avestruz e a levantou triunfante, os senadores e espectadores arrancavam folhas amargas das suas grinaldas e as mastigavam para não rebentarem em gargalhadas. Mais valia uma folha amarga que uma cabeça decepada.

  A loucura de Commodus, não podia continuar e, após diversos atentados, assim, a sua concubina preferida, Márcia, o Prefeito da Guarda Pretoriana Quintus Aemilius Laetus e o Conselheiro da Corte Eclectus armaram um plano para assassinar Commodus. Contrataram um gladiador chamado Narcissus para estrangular o Imperador na cama, o que viria a acontecer na noite de 31 de Dezembro de 192 (outra versão aponta para o dia 1 de Janeiro de 193). Roma estava finalmente livre da loucura de Commodus.


12.4.08

O Ensino no Império Romano

Dedico este tema a ti meu pequeno amigo brasileiro de Manaus, Rodrigo Raposo, com muitos Parabéns pelo teu 12º aniversário, um grande abraço!

“A Grécia conquistada conquistou por sua vez seu selvagem vencedor e trouxe a civilização ao rude Lácio”

Horácio

  Mas se os romanos inicialmente foram influenciados pela cultura grega, rapidamente deixaram de o ser pela facilidade com que o povo latino se adaptava e assimilava os costumes de outras civilizações conforme o Império se ia alargando nas suas fronteiras.

  No século II a.c., o pater familias concede à mãe, a matrona romana, os direitos sobre a educação de seus filhos durante a primeira infância, gozando aquela de uma autoridade desconhecida na Civilização Grega. Essa influência terminava logo que as crianças saíam da meninice por volta dos 7 anos. Caberá a partir daí, ao pai a responsabilidade de proporcionar ao filho a educação cívica e moral que passava pela aprendizagem constantes nas Leis das XII Tábuas (já aqui tratado) símbolo da tradição Romana.

Instrução Primária (ludus litterarius)



  Se é certo que a iniciação da criança nos estudos fica a cargo de um preceptor particular (em especial nas famílias aristocráticas), por volta dos sete anos a criança é confiada a um Mestre Primário – o litterator, “aquele que ensina as letras”, também designado por primus magister, magister ludi, magister ludi literarii, ou, como viria a ser designado no século IV a.c., o institutor. O primus magister é, em Roma, mal remunerado e pouco conceituado na hierarquia social.



  As crianças romanas, caso fossem de famílias ricas, faziam-se acompanhar à escola por um escravo, designado segundo a terminologia grega por Paedagogus (pedagogo) . Este poderia, em determinadas circunstâncias, ascender ao papel de explicador ou até mesmo de mentor, arcando assim com a educação moral da criança. O Paedagogus conduzia o seu pequeno senhor à escola, designada por ludus litterarius, e aí permanecia até ao final da lição. O ensino é colectivo, as meninas também frequentavam a escola primária, embora para elas o preceptorado privado pareça ter sido a nota dominante.

  As famílias pobres entregavam os filhos a uma escola privada fundada por profissionais.

  Cabe ao Mestre providenciar as instalações. Este resguarda os seus alunos debaixo de um pequeno alpendre protegido por um toldo – pérgula - nas proximidades de um pórtico ou na varanda de alguma mansão aberta e acessível a todos.

  As aulas são ministradas ao ar livre, invadidos pelos ruídos da rua de que estavam separados por alguns panos de barraca – o velum.

  As crianças agrupam-se em torno do Mestre que pontifica da sua cadeira – a cathedra - colocada sobre um estrado. O mestre é muitas vezes assistido por um ajudante, o hypodidascales. Sentadas em bancos ou escabelos (bancos compridos) sem encosto, as crianças escrevem sobre os joelhos num quadro preto, tabuletas e alguns ábacos.

  A jornada escolar da criança romana tinha início ao alvorecer e durava até ao pôr-do-sol. As aulas apenas eram suspensas durante as festas religiosas, nas férias de Verão (dos finais de Julho a meados de Outubro) e também durante as nundinae que semanalmente se repetiam no mercado.

  A ambição do professor limitava-se a fazer os alunos a aprender a ler, escrever e contar, e como dispunha de muitos anos para o fazer não se preocupava em aperfeiçoar os métodos de ensino. O programa compreendia a escrita em duas línguas (latim e grego) em primeiro pelo nome e a ordem das letras, de A a X, antes mesmo de lhes conhecer a forma e depois agrupá-las em sílabas e palavras. Estes três tipos de aprendizagem constituem as categorias sucessivas do abecedarii, syllabarii e nomirarri. Antes de passar à redacção de textos era ensaiada a escrita de pequenas frases bem como máximas morais de um ou dois versos. No estudo da aritmética contavam as unidades com os dedos, no cálculo das dezenas, das centenas e dos milhares, mexendo pedrinhas ou calcuti nas linhas correspondentes dos ábacos.



  Associada à leitura e à escrita encontra-se a declamação. A criança é incentivada a memorizar pequenos textos à semelhança do que ocorria na Grécia.

  Os estudantes demasiados lentos na decifração dos textos que tinham que recitar, ou se revelavam desleixados na cópia dos de linhas de verso podiam sentir o castigo pelo primus magister que apoiava a sua autoridade na vara ou na férula (palmatória), instrumento a que recorre para infringir os castigos nas crianças. “Estender a mão à palmatória”, manum ferulae subducere, é na verdade para os Romanos sinónimo de estudar.



  Os alunos são agrupados em classes, de acordo com o seu rendimento escolar. Os melhores alunos colaboram com o primus magister ensinando aos colegas as letras e as sílabas. O titulos (designação latina para quadro preto) é também uma invenção romana. Consiste num rectângulo de cartão preto em torno do qual os alunos se agrupam de pé, ordeiramente.

  Ao meio-dia, os alunos eram acompanhados até casa, onde comiam pão, azeitonas, queijo, figos secos e oleaginosas.

  Sobre a influência de Quintiliano, primeiro professor pago pelo estado, no Império de Vespasiano, altera-se profundamente o ensino. Alerta para a necessidade de se identificarem os talentos das crianças e chama a atenção para a necessidade de reconhecer as diferenças individuais e de adoptar diferentes formas de procedimento perante elas. Recomendava que se ensinassem simultaneamente os nomes das letras e as suas formas, devendo a eventual imperícia do aluno ser corrigida obrigando-o a reproduzir as letras com o seu estilete na placa dos modelos, previamente gravada pelo professor. É contrário aos castigos físicos, e portanto ao uso da férula. Recomenda a emulação como incentivo para o estudo e sugere que o tempo escolar seja periodicamente interrompido por recreios, já que o descanso é, na sua opinião, favorável à aprendizagem.

Fontes consultadas:
«Quando Roma Dominava o Mundo, (da Verbo)», «Em Roma – no Apogeu do Império - Jêrome Carcopino - Edição Livros do Brasil», «O Ensino em Roma - Cristina Fulgêncio e Dulce Silvério», «Mercado de Trabalho Romano – Joana»