28.12.06

Os Jogos Circenses

 As diversões de que dispunham os Romanos de todas as classes eram cada vez mais elaboradas. Em Abril, cerca de 250 000 pessoas iam ao Circo Máximo para ver corridas de cavalos e de carros – que tinham a sua origem nos rituais oferecidos a Ceres, deusa dos cereais, mas esquecidos nos tempos imperiais. Mas as emoções destas perigosas competições eram ultrapassadas pelas sangrentas batalhas no Coliseu, onde homens lutavam com animais selvagens (e cada vez mais exóticos), em venationes (caçadas), ou pelas lutas de gladiadores. O retiarius, com a sua rede e tridente, e o secutor (perseguidor), com um escudo e uma espada; o desarmado mas ágil mirmilo; o hoplomacus com um escudo gigante; o laquearius com o laço; Os Trácios armados, ao estilo da Trácia, com espadas pequenas, como foices – os tipos standard de gladiadores recordavam os inimigos da antiga Roma, agora dominados e lançados uns contra os outros na arena, para entretenimento dos seus conquistadores.

  Muitos gladiadores eram profissionais (há mesmo o caso de cidadãos das classes altas que escolheram voluntariamente essa carreira, talvez devido à excitação que lhe estava associada), mas também os criminosos eram por vezes condenados ao papel de gladiadores como forma de punição. Para muitos gladiadores, a carreira era uma pena de morte: poucos sobreviveram para se reformarem e tornarem-se treinadores.

 Os Romanos parecem ter tido uma sede insaciável pelo espectáculo, despendendo enormes somas de dinheiro e engenho em efeitos especiais e organização de espectáculos. Num espectáculo no reinado de Sétimo Severo no início do século III, um enorme modelo de uma baleia era arrastado pela arena e abria a boca para lançar 50 ursos contra um grupo de bestiarii (caçadores), armados de pequenas espadas os naumachiae eram acontecimentos realizados em estádios especiais, com aquedutos construídos propositadamente e drenagem, que permitia que as arenas fossem inundadas ou secas quando se quisesse. Estes acontecimentos, cujos custos de produção não foram igualados até que Hollywood os recriou, tinham a forma de batalhas navais em que os intervenientes eram criminosos – com real derramamento de sangue. Estes espectáculos mostram os Romanos no seu melhor e no seu pior, tanto nos sucessos tecnológicos como na crueldade.

  Nas suas origens de ritual sagrado, oferecer sangue apaziguava os espíritos dos mortos e as lutas de gladiadores tornaram-se uma afirmação da superioridade romana sobre os seus inimigos bárbaros – e por fim uma gratificação profana dos gostos mais sanguinários dos romanos civilizados.


Roma Antiga

20.11.06

Coliseu de Roma

  Grande anfiteatro oval romano que foi mandado construir por Flávio Vespasiano, por volta do ano 70 a.C., e foi concluído, com três andares, em 82 a. C. por Domiciano. No século III foi-lhe acrescentado mais um andar. Com uma altura de 48 m, as bancadas eram de mármore (entretanto desaparecido) e tinham capacidade para mais de 50 000 espectadores.



  Várias centenas de gladiadores e milhares de animais foram mortos nos 100 dias de festivais de banhos de sangue que marcaram a inauguração. A sua única preocupação era o grito lançado ao poder público: «panem et circenses» (pão e circo). Á medida que o império crescia, cresceu a duração e a frequência dos espectáculos sangrentos. O anfiteatro tinha um labirinto de celas e túneis para os gladiadores e animais. Haviam portas falsas onde podiam sair animais ferozes, rampas e manivelas para proporcionar espectaculares efeitos visuais.

  Foi com Cláudio, que a celebre frase dos gladiadores apareceu: Ave César. Nós que vamos morrer te saudamos.

  O recinto destinava-se, também, à representação de tragédias e comédias. Foi aqui que muitos cristãos perderam a vida, lançados às feras. Neste espaço colossal, chegaram mesmo a realizar-se batalhas navais.



22.10.06

Domitianus

DOMITIANUS
(Titvs Flavivs Domitianvs)
Imperador - 81 a 96 d.C.

Domiciano



 Titus Flauuius Domitianus, terceiro imperador da dinastia Flávia, terá nascido, segundo testemunha Suetónio, no nono dia antes das calendas de Novembro, ou seja, a 24 de Outubro do ano 51.

 Filho de Vespasianus, foi designado imperador após a morte do irmão mais velho, Titus, em 81.

 Cometeu vários abusos enquanto seu pai foi imperador, entre os quais dois se destacam: forçou a legítima esposa de Elius Lamia, de nome Domícia Longina, a se divorciar para a tornar sua, com quem teve um filho (73 d.C.), que morreu logo e preparou uma expedição militar que a todos pareceu desnecessária e que lhe valeu uma forte reprimenda de seu pai, que o castigou, humilhando-o perante o irmão, Tito.

 Quando Vespasiano morre e lhe sucede o filho Tito, começou a conspirar contra o irmão, ora aberta, ora secretamente, e depois da morte deste não deixou de ultrajar a sua memória por diversas vezes.

 Sua política interna caracterizou-se pela limitação dos poderes do Senado, tomando a seu cargo a designação de governadores competentes para as províncias, criou o Conselho do Príncipe que suplantou o Senado, acumulou os títulos de cônsul (cargo que ocupou de 82 a 88) e de censor perpétuo (a partir de 85). Reorganizou a administração do império e designou membros da nobreza rural para importantes cargos públicos.

 Procurou ainda moralizar os costumes (em contraste com a sua vida dissoluta), impondo severas penas aos delatores, castigando juízes que se deixavam subornar e aplicando a pena capital às Vestais que não cumpriam o dever da castidade.

 Empenhou-se na reconstrução de monumentos (onde fazia gravar o seu nome sem mencionar o do primitivo fundador), tendo iniciado o Forum Neruam, completado em 97 d. C. pelo Imperador Nerva. Era constituído por um corredor com uma colunata a acompanhar as laterais e, numa extremidade, o templo de Minerva. Foi conhecido como Forum Transitório por se situar entre o Forum da Paz, mandado construir pelo Imperador Vespasiano, em 70 d. C., e o Forum Augustum. Escavações feitas recentemente revelam a existência de lojas e tabernae.

 Erigiu templos e consagrou mesmo um santuário à família Flávia, a cuja gens pertencia. Mandou instalar celas subterrâneas para os animais selvagens no Colosseum, iniciado pelo seu pai e inaugurado pelo seu irmão Tito em 80 d.C..

 Chegou ainda a proibir que erigissem estátuas em seu nome no Capitólio que não fossem de ouro ou prata e que não tivessem um determinado peso.

 Domitianus obteve grandes vitórias no campo militar. Conquistou a Grã-Bretanha, construiu uma fronteira fortificada ao longo do Danúbio e firmou uma paz vantajosa com os dácios. Para financiar os gastos do exército e a construção de grandes obras, aumentou os impostos e promoveu confiscos de bens da aristocracia.

 Este período de governação, durou até à revolta de Lúcio António Saturnino, que conseguiu, em finais de 86, que algumas legiões o proclamassem imperador.

 Com um carácter fraco, tenta proteger a sua posição tornando-se cruel e sanguinário. Para além de todas as ordenadas mortes, expulsões e torturas, iniciou também um período de espoliações.

 Domiciano fazia-se chamar, tanto oralmente como por escrito, Dominus et Deus perseguindo todos aqueles que se recusavam a adorar a figura do imperador, originando assim a segunda perseguição contra os cristãos.

 Morre assassinado em 18 de Setembro do ano 96, vítima de uma conspiração palaciana que integrava alguns dos seus amigos e libertos mais próximos, e a sua própria mulher, Domitia Longina.

 O Senado, horrorizado com tantos crimes, declara-o maldito e apaga o seu nome de todos os monumentos.

 A sua morte pôs termo à dinastia dos Flávios. Sem filhos, sucedeu-lhe Nerva, proclamado pelo senado. Governou apenas dois anos. Seguiu-se-lhe uma série de imperadores «adoptivos», iniciando a excelente dinastia dos Antoninos.

20.9.06

Pompeia e Herculano

 A erupção do Vesúvio em 79 d. C., no tempo do imperador Tito Vespasiano, foi desastrosa para as cidades de Pompeia e Herculano – dois prósperos aglomerados perto da Baía de Nápoles. Apanhados de surpresa os seus habitantes morreram devido aos gases vulcânicos ou imolados pelas cinzas que caíam do céu. Pompeia ficou sepultada pela lava do Vesúvio dando-nos a conhecer uma importante amostra da vida quotidiana no tempo dos antigos romanos. Ficaram intactas muito das suas ruas, casas e lojas. O mais surpreendente, são as formas mumificadas de homens, mulheres, crianças e animais desenterrados nesta cidade. Foram encontradas no interior das lojas tigelas que contêm os ganhos do dia, o que informa sobre o numerário que circulava nas transacções menores.

 Do ponto de vista arqueológico, são significativas as descobertas em Herculano. A lava que submergiu esta pequena cidade preservou não só os murais das luxuosas casas, de mercados, mas também toda outra espécie de objectos como madeira, peles, rolos de papiros e alimentos.

Pompeia
O último dia de Pompeia

29.8.06

Titus

Titus
(Titvs Flavivs Vespasianvs)
Imperador - 79 a 81 d.C.

Tito


 Tribuno militar (39/12/30-81/11/13), filho primogénito de Vespasianus. Foi educado na corte de Nero com Britannicus (talvez porque Claudius I aprovasse as proezas militares de seu pai na Bretanha), e tornou-se grande amigo do rapaz. Começou a sua carreira como tribuno militar na Germânia e a seguir na Bretanha. Mais tarde, depois de ter sido questor, é nomeado lugar-tenente do pai na Judeia, em 66.

 Em 69, o pai faz-se proclamar imperador pelos soldados. Titus termina a guerra da Judeia, conquistando Jerusalém de assalto, em 70. Trouxe o candelabro dos sete braços para Roma onde o esperava magnífico triunfo.

 Durante o reinado de Vespasianus, Titus participou do poder imperial, apesar das insinuações de que fora considerado sucessor de Vitelius em 69. Ocupou sete consulados e comandou a guarda pretoriana. Na tarefa de manter a segurança (pois o reinado de Vespasianus, apesar de consciencioso e eficiente, não esteve livre de distúrbios), Titus mostrou tanta arrogância que poderia ser descrito como cruel.

 A 24 de Julho de 79, Vespasianus, seu pai, morre. Sucede-lhe Titus, como imperador, mas o seu império foi efémero, pois morre a 13 de Novembro de 81. Foi cognominado «As delícias do género humano». Pensou casar-se com a rainha Berenice, mas é obrigado a renunciar a essa ideia para não enfrentar a opinião pública desfavorável; possuía também um extraordinário – quase sinistro – talento para imitar a letra de outras pessoas.

 Durante o seu reinado três calamidades ocorreram: um incêndio em Roma, uma terrível peste e a famosa erupção do Vesúvio que engoliu Pompeia, Herculano e Stabia, mas nem esses fatos diminuíram a reputação favorável que gozou durante e depois de seu reinado, e que poderia ter sido diferente se ele tivesse governado mais tempo. Entretanto, várias das histórias relatadas sobre ele revelam alguma preocupação com a moralidade; a mais enigmática é a observação, feita em seu leito de morte, de que se arrependia de apenas uma coisa que fizera em sua vida. O que quer que fosse, sua generosidade e bom senso em face das irritações e das intrigas, principalmente de seu irmão Domitianus, e as medidas úteis que tomou quando no poder (em especial contra os informantes) têm mais peso.

 Titus deu o seu nome a terras e ao arco que celebra o seu triunfo. A sua morte foi chorada por todos.

Sucedeu-lhe seu irmão Domitianus.


Detalhe do Arco de Tito, erigido em 71 d.C., que se encontra na Via-Sacra de Roma. Representa soldados romanos levando o sagrado candelabro do Templo de Jerusalém.

10.8.06

Vespasianus

DINASTIA DOS FLAVIUS
(69 a 96 d.C.)


VESPASIANUS
(Titvs Flavivs Vespasianvs)
Imperador - 69 a 79 d.C.

Vespasiano


 Imperador romano de seu nome completo Tito Flávio Sabino Vespasiano, nasceu perto de Rieti, na comarca dos Sabinos, no ano 9, falecendo em 79. Foi proclamado imperador pelos seus próprios soldados em Alexandria.

 Vespasiano foi o primeiro burguês que subiu a tão grande dignidade. Simples e laborioso, impôs a ordem em todo o exército. Promoveu a pacificação e o aumento do poder romano nas províncias, prosseguindo a conquista da Bretanha e combatendo a revolta judaica iniciada em 66, esmagada violentamente em 70, culminando com a destruição de Jerusalém por Tito, seu filho, a quem entregou o cargo de prefeito da Guarda Pretoriana e nomeou seu sucessor (78-81) conjuntamente com o irmão mais novo Domiciano (81-96).

 O período da sua governação ficou marcado por uma eficaz administração económica quer na capital do império quer nas províncias, com um aumento significativo do tributo anual e a implementação de medidas económicas muito mais severas, o que permitiu atingir níveis de progresso assinaláveis nas finanças do Estado, tendo inclusive angariado fundos para a construção do Templo da Paz dedicado a Júpiter Capitolino e para o Coliseu de Roma.

 Vespasiano reinou vinte anos. Quando se sentiu morrer, disse as seguintes palavras:
«Sinto tornar-me um deus».

 Sucedeu-lhe o filho Tito.

1.8.06

Vitellius

VITELLIUS
(Avlvs Vitellivs)
Imperador - 69 d.C.

Vitélio


 Aulus Vitellius Germanicus, reinou apenas oito meses, durante o ano dos quatro imperadores, mas ficou famoso pelo seu apetite e crueldade.

 Embora de importância recente, os Vitellius obtiveram enorme influência no tempo de Caligula e de Claudius I, graças à popularidade que Lucius Vitellius (pai de Vitélio) gozava junto a esses imperadores.

 Aulus Vitellius ocupou uma série de postos, em que revelou sua tendência para o vício e a desonestidade. Titus Vinius e Aulus Caecina Alienus (generais Romanos), persuadiram-no a expulsar Galba com o auxílio dos exércitos do Reno, que ele comandava em 69, mas, quando Vitellius chegou à Itália, Otho era seu oponente. A vitória foi obtida facilmente na batalha de Betríaco.

 Depois do suicídio de Otão, Vitélio, nascido no ano 15, foi aclamado imperador romano entre Abril e Dezembro de 69 em Colónia. Apesar da sua eleição ter sido aceite pelo Senado, as legiões sediadas nas províncias do Oriente Médio, Síria e Judéia tinham aclamado Vespasiano como seu imperador.

Com o reconhecimento garantido, Vitélio foi para Roma. O início de seu império não foi um bom presságio. A cidade ficou muito céptica quando Vitélio escolheu o aniversário da Batalha de Allia (um dia de má sorte para a mente supersticiosa romana) para tomar posse do cargo de Pontifex Maximus. Como imperador, Vitellius entregou-se à glutonaria, começou uma série de banquetes (Suetónio refere-se a três por dia: manhã, tarde e noite) e paradas triunfais que levaram o tesouro imperial à falência.

 Os credores começaram a exigir o pagamento e Vitélio mostrou a sua natureza violenta ao mandar torturar e executar aqueles que ousassem fazer tais exigências. Não conseguiu lidar adequadamente com o exército que o levara ao trono e tomou a iniciativa de matar os cidadãos que o nomeavam herdeiro, e os possíveis co-herdeiros. Para completar, perseguiu cada rival possível, convidando-os para o palácio com promessas de poder apenas para matá-los.

Os progressos espectaculares dos Flavius fizeram com que ele pensasse num acordo, mas a lealdade do populacho romano fê-lo mudar de ideia, e ele condenou Roma aos horrores de uma luta durante a qual o Capitólio, incluindo o próprio templo do deus Júpiter, foram incendiados.

 Em Outubro, na segunda batalha de Betríaco, os partidários de Vitélio são vencidos pelas tropas dos Flavius, comandadas por Antonius Primus, embora pagassem um alto preço, inclusive com a morte de Sabinus, irmão de Vespasianus. Vitellius é deposto, torturado e morto pelas tropas dos Flavius, sendo o seu corpo atirado ao rio Tibre.

 Sucedeu-lhe Vespasianus

19.7.06

Otho

OTHO
(Marcvs Salvivs Otho)
Imperador – 69 d.C.

Otão


 De seu nome completo Marco Sálvio Otão, nasceu em 32 de uma família ilustre, senadores do tempo de Augusto – seu pai merecera grandes elogios e fora promovido por Cláudio I por descobrir uma conspiração. Otão tornou-se amigo íntimo de Nero, participando de sua vida desregrada; era marido de Poppaea antes de Nero casar-se com ela (Otão foi então enviado como governador para a província da Lusitânia).

 Tornou-se partidário de Galba, mas organizou uma conspiração que levou ao seu assassinato, quando este preferiu Lucius Calpurnius Pisanus Licinianus, um jovem Senador, para seu herdeiro. Otão subornou a Guarda Pretoriana, para que esta passasse para o seu lado. Quando Galba soube do golpe foi às ruas numa tentativa de normalizar a situação. Acabou por ser um erro, pois não conseguiu convencer ninguém. Pouco depois, Galba foi morto pela Guarda pretoriana no Fórum.

 Após o assassinato de Galba, Otão foi proclamado imperador pelos Pretorianos em 69, com a idade de 36, sendo aceite pelo Senado. O novo imperador foi saudado com alívio. Apesar de ser ambicioso e ganancioso, Otão não tinha um passado de tirania ou crueldade e era esperado como um governante justo.

  Uma vez imperador, Otão parecia determinado a superar Nero, mas o avanço do exército do Reno contra a Itália, sob o comando de Vitélio que tinha a seu favor as melhores legiões de elite do império, compostas de veteranos das Guerras Germânicas, como a Legião Germânica I e Legião Predadora XXI(I Germânica e XXI Rapax), deixou-lhe pouco tempo.

 Otão não estava afim de começar outra guerra civil e mandou emissários para propor a paz e convidou Vitélio para ser seu genro mas já era tarde. Os generais de Vitélio já haviam mandado metade do seu exército para a Itália. Depois de uma série de derrotas menores, Otão foi derrotado na Batalha de Bedriacum na Planície da Lombardia, nas proximidades de Cremona em 14 de Abril do mesmo ano.

 Em vez de fugir e tentar um contra-ataque, Otão suicida-se no dia seguinte, com uma coragem e uma dignidade espantosas numa pessoa tão desregrada, provavelmente para poupar a vida da sua família. Tinha sido imperador pouco mais de três meses.

 Vitélio é proclamado imperador.


7.7.06

Crise de 68-69 - Galba

  Segue-se um período de revolta em todo o império. Galba, aclamado pelas legiões de Espanha é assassinado. Otão é derrotado pelo exército do Reno que elege Vitélio. Por sua vez as legiões do oriente escolhem para imperador Vespasiano que inicia a dinastia dos Flávios.

GALBA
(Servivs Svlpicivs Galba)
Imperador - 68 a 69 d.C.


  Cláudio e Nero tinham sido eleitos pelos pretorianos. As legiões exigiam igual direito e aclamavam os seus favoritos. As legiões de Espanha aclamam Galba, reconhecido pelo senado.

  De seu nome completo Sérvio Sulpício Galba, nasceu no ano 3 a.C. Foi imperador romano entre Junho de 68 e Janeiro de 69, sendo um dos quatro imperadores, conjuntamente com Otão, Vitélio e Vespasiano, que durante um ano sucederam a Nero no trono romano.

  Durante a vigência governativa dos imperadores Tibério, Calígula, Cláudio e Nero, distinguiu-se como governador da Gália no ano de 39, da África em 45 e 46 e da parte Terraconense de Espanha em 61 e 68.

  A carreira brilhante que desenvolvera dera-lhe uma projecção assinalável, mas a idade avançada de 73 anos e a doença da gota, que o atormentava, forneceram razões para Otão, ex-marido de Pompeia e seu principal lugar-tenente, acabar por ver facilitada a sua introdução no espaço real.

  O seu governo ficou caracterizado por uma imagem geral de um severo comandante militar da escola tradicionalista, mostrou-se sobretudo avarento e duma dureza impopular.

  A 15 de Janeiro do ano de 69, Galba é assassinado e Otão é proclamado imperador pela Guarda Pretoriana.

25.5.06

Nero

NERO
(Lvcivs Domitvs Ahenobarbvs)
Imperador – 54 a 68 d.C.

Nero


  Lucius Domicius Aenobarbus, depois Nero Claudius Caesar Drusus Germanicus, era filho de Agripina, a Jovem e de Gneus Domitius Aenobarbus. Nasceu em Antium a 15 de Dezembro de 37 d. C., sendo adoptado por Cláudio em 50. Casou com Octávia, filha deste e de Messalina, em 53. Foi proclamado imperador quando Cláudio faleceu, a 13 de Outubro de 54 tinha Nero 16 anos de idade. Era então aluno de Séneca. A sua autoridade apoiava-se nos pretorianos do prefeito Burro.

 No início do seu reinado é favorável ao Senado. Porém, algumas tragédias palacianas (como o assassinato de Britânico, filho de Cláudio) auguram mau futuro.

 Enquanto seguiu os conselhos dos seus preceptores – Séneca e Burro – foi justo e moderado. Pervertido pela luxúria, tornou-se o monstro nº1 da história. Por três vezes tentou envenenar a sua mãe, Agripina sabendo-o, tomava um antídoto. Quando por fim conseguiu desenvencilhar-se dela em Março de 59 d.C., Nero viu-se assombrado pelo seu espírito, contratando exorcistas persas para convocar o seu espírito e pedir o seu perdão. Em 62 manda assassinar sua esposa Octávia, em 65 mata Poppaea, a sua segunda mulher, a pontapés quando estava grávida.



 Nero governa pessoalmente, cada vez mais afastado de Séneca. Assume, então, o aspecto de um soberano helenístico.

 Burro morre em 62. O novo prefeito do Pretório é Tigelino. Nessa altura, Nero inicia-se na religião mazdaísta e no culto do Rei-Sol.

 Em 64, um incêndio destruiu 3 quarteirões de Roma (construiu nesse local a célebre Domus Transitoria ou Casa Dourada, cujas salas eram recamadas a ouro e incrustadas de pedras preciosas) atribuído a um propósito premeditado de Nero.

 Em 65 eclodiu a Revolta de Pisão, na qual estava comprometida uma grande parte da aristocracia senatorial. A repressão é implacável, condenou à morte 18 acusados, entre os quais Séneca e o poeta Lucanus que foi forçado a cometer suicídio. Inicia a primeira perseguição contra os cristãos, fazendo-os responsáveis pelo incêndio.



 O imperador sentia um fascínio pelos dons dos actores e cantores e tentava fortalecer a sua voz para o palco deitando-se de costas com uma pedra pesada sobre o peito. Vaidoso de pretensos dotes artísticos e de cavalaria instituiu os jogos chamados Juvenália e Neronis, e exibia-se nos teatros e nos circos como Histrião.

 Em 66, Nero vai para a Grécia, onde participa nos Jogos onde prestáveis juizes lhe concederam a quantidade astronómica de 1108 prémios. No regresso da Grécia em 67 d.C., o imperador Nero desembarca em Nápoles e manda derrubar parte das muralhas da cidade para assinalar os seus feitos gloriosos. Depois seguiu para Roma e entrou na capital no mesmo carro que Augusto usara para celebrar as suas vitórias. O cortejo triunfal que preparou passava pelo circo Máximo – a ampla pista de corridas de Roma onde as aurigas disputavam a glória – atravessando depois o Fórum. Nero viu-se coberto de fitas e de outras provas de estima, sacrificando-se animais ao longo do seu percurso em honra da ocasião. Decorou os seus aposentos com as suas coroas de vitória e encomendou estátuas de si próprio, sentado enquanto tocava lira.

 No ano seguinte, teve de enfrentar várias sublevações, como a de Julius Vindex, governador da Gália lionesa (província de Lugdunum, Gália) e depois a de Galba, governador da Tarraconense, na Hispânia, e ainda a de Otão, na Lusitânia.

  Servius Sulpicius Galba, marcha sobre Roma onde foi reconhecido pelo Senado como novo imperador, Nero teria que se suicidar que era o que faziam os nobres na época. Sem coragem para o fazer pediu ao gladiador Espículo para que o matasse mas este nem ninguém queria ser o carrasco. Refugiou-se em casa do seu liberto Faon e quando soube que o Senado o tinha declarado inimigo público, o que implicava ser castigado à «moda antiga», ou seja nu e açoitado até à morte com varapaus, Nero, em 68 d.C. no mês de Junho, com a ajuda do seu secretário, enterrou um punhal na garganta.

  Disse Nero antes da sua morte que os seus inimigos iriam privar a sociedade de «um artista tão importante!». Acreditava que o teatro romano nunca veria outro como ele e de certo modo assim foi, mais nenhum imperador tocou lira ou cantou como Nero.

 A dinastia tão promissora iniciada por Augusto chegava ao fim.


9.5.06

Claudius I

CLAUDIUS I
(Tiberivs Clavdivs Drvsvs Germanicvs)
Imperador – 41 a 54 d.C.

Cláudio


  Foi o primeiro imperador (10 a.C.-54 d.C.) de 41 a 54 d.C. nomeado pelos pretorianos, quando o Senado pensava no estabelecimento da República.

 Tiberius Claudius Caesar Augustus Germanicus nasceu em Lugdunum (Lyon), e morreu em Roma. Filho de Nero Claudius Drusus e Antonia, era irmão mais jovem de Germanicus sucessor natural do trono, morto em circunstâncias estranhas (Voltando de Antioquia, Germanicus foi acometido de uma doença que se tornou fatal. O governador da Síria, Calpurnius Piso, que não mantinha boas relações com Germanicus, foi acusado de envenená-lo ou amaldiçoá-lo).

  Cláudio, era coxo e gago, durante a infância fora assolada por diversas doenças, que lhe enfraqueceram o corpo e lhe retardou a mente, considerado um tolo pela própria mãe - (Cláudio confessou que fingiu-se passar por retardado para passar despercebido a seu sobrinho, Calígula, sobrevivendo assim ao seu reinado de terror). No entanto, o soberano recomendava que lhe prestassem as homenagens devidas por ele pertencer à família Julia, descendente directo de César, e também para que não se rissem dele, devido ao seu aspecto de retardado e enfermo. A sua débil vontade foi moldada pelos seus libertos Palas e Narciso e pelas mulheres, tornando-se ridículo pelas suas maneiras esquisitas de tímido e covarde, como nos foi legado pelos historiadores Tacitus, Suetonius e Dion Cassius.

  Cláudio dedicou-se à literatura, escrevendo, além de uma história de Roma não terminada, 28 livros de história Etrusca e cartaginesa, uma autobiografia e um projecto de reforma ortográfica.
  O seu reinado foi marcado pela centralização do poder e pela conquista. Em 42 anexou a Mauritânia, no norte da África, e no ano de 53, a ilha da Bretanha. Anexou a seguir a Lícia, a Judeia e a Trácia e empreendeu a romanização das novas províncias. Fundou a «Colónia agripina» (hoje Colónia) nas fronteiras do Reno. Ordenou a execução de importantes obras públicas: solucionou os problemas de abastecimento de Roma, mediante a construção de novos aquedutos e de um porto em Óstia; aterrou o lago Fucino e melhorou as estradas.

  Como o povo queria «panem et circenses» (pão e circo), Cláudio organizou jogos e divertimentos restaurando antigos teatros, e reproduziu uma batalha naval entre as esquadras da Sicília e de Rodes, com 12 naus cada uma.

  Cláudio, tinha, como passatempo predilecto, ver criminosos serem torturados até à morte. Mandou assassinar a sua terceira mulher, Messalina e a 300 amigos desta, entre eles o famoso actor Mnester, e acabou por ser ele próprio vítima de assassinato (envenenado com cogumelos estragados) pela sua quarta esposa, Agripina II a Jovem, bisneta de Augusto, depois de haver adoptado o filho desta, Lucius Domitius (Nero) como seu sucessor.

À semelhança dos seus antecessores Claudius foi deificado após a morte, observando Nero, sarcasticamente, que os cogumelos eram o «alimento dos deuses».

  Foi com Cláudio, que a célebre frase dos gladiadores apareceu:

Ave Cesar. Nós que vamos morrer te saudamos.




Sucedeu-lhe Nero.

2.5.06

Calígula

CAIUS CALIGULA
(Caivs Ivlivs Caesar Germanicvs)
Imperador – 37 a 41 d.C.

Calígula


 Imperador romano (37-41), sucedeu a Tibério e foi um cruel tirano. Filho de Germanicus e de Agrippina I, Caligula nasceu em Anzio, no Lácio, em 31 de agosto do ano 12 d.C. Seu verdadeiro nome era Caius Julius Caesar Germanicus mas, porém, na sua infância, os soldados de seu pai o apelidaram de Calígula (botinha), como alusão às suas pequenas sandálias militares ou Caligae.

 O imperador Tiberius, seu tio-avô, adoptou-o como herdeiro; assim, à morte deste no ano 37, Caligula foi aclamado novo imperador romano pelo povo e pelo Senado. Tornou-se a princípio hábil administrador; exercendo uma política de acentuado tom demagógico, com medidas como a redução de impostos e amnistia geral, o que lhe granjeou alguma popularidade. Vítima de uma enfermidade que lhe afectou a mente, logo começou a cometer suas célebres extravagâncias elevando à dignidade de cônsul o seu cavalo «Incitatus» e resumiu numa só frase, todo o sentimento de crueldade: «desejaria que todo o império romano tivesse uma só cabeça para a decepar de um só golpe».

 Com Calígula, os gastos públicos descontrolaram-se; quando o erário estava quase exaurido, ordenou a execução, por diferentes motivos, dos romanos mais ricos para confiscar-lhes os bens. Obcecado pelo poder e pela religião do Egipto, considerou-se uma divindade, mandou colocar sua estátua em vários templos, entre eles o de Jerusalém, difundiu o culto egípcio da deusa Ísis e manteve relacionamento incestuoso com sua irmã Drusilla, no estilo da Dinastia dos Ptolomeus.

 Por volta do ano 40, Calígula realizou uma expedição à Germânia para sufocar uma rebelião do general Cornelius Lentulus Getulicus e outra à Gália, com o fito de conquistar a Bretanha. Anexou o reino da Mauritânia e, na Judéia, nomeou rei seu amigo Herodes Agrippa.

 Diversas conspirações, como a do senador Marcus Aemilius Lepidus, foram urdidas contra Calígula, que acabou por morrer assassinado em Roma a 24 de Janeiro do ano 41 pelo prefeito do pretório, Cássio Querea.

 Sucedeu-lhe Cláudio, imperador nomeado pelos pretorianos.


Agripina
Anverso de um sestércio Calígula
(perfil de sua mãe Agripina)

18.4.06

Direito Romano

"Dura Lex, Sed Lex! ou A lei é dura, mas é lei"



  Muitas instituições de hoje em dia não existiam no mundo romano, em particular, a polícia, o juiz de instrução e o ministério público (o procurador geral). Dessas ausências decorrem várias originalidades no processo judicial romano. Por exemplo, quando um cadáver era descoberto na rua, ninguém prevenia a polícia, que não existia, e ninguém confiava o caso a um juiz de instrução, que também não existia. Conforme a tradição, os passantes procuravam identificar a vítima e prevenir a família. Era ela que realizava a investigação e que indicava ao juiz a pessoa que considerava culpada. Compreende-se, portanto, que um homem sem família jamais seria vingado se fosse morto. Em seguida, o acusador devia convocar o acusado a se apresentar ao juiz e precisava obrigá-lo, se preciso, pela força, a comparecer perante a justiça. Em geral, as pessoas convocadas para um processo compareciam: não comparecer significava reconhecer a culpabilidade e, portanto, incorrer numa condenação.

  No começo, os romanos proibiam a profissão de advogado. Mas ninguém podia impedir um acusado de pedir a um bom orador, um bom conhecedor do Direito, de o ajudar "amigavelmente" em troca de um "presentinho." Foi assim que Cícero adquiriu celebridade e uma sólida fortuna. Plínio o Moço também advogava bastante: em sua correspondência, que data do início do século II de nossa era, ele menciona frequentemente os casos em que interveio. Mesmo quando a profissão de advogado foi finalmente reconhecida, era preferível defender-se sozinho: era o indício de que não se tinha nada a temer.

  Um dos processos mais conhecidos da Antiguidade teve como cenário Sabratha, na actual Líbia, e se desenrolou por volta de 158. O jovem Apuleio, celebrizado posteriormente como romancista, foi acusado por um membro da família de sua mulher de ter recorrido a práticas mágicas para seduzir aquela que se tornara sua esposa, uma mulher bem mais rica e mais idosa do que ele.

  Na época, a acusação era grave e conduzia facilmente à morte. Diante do procônsul da África, de passagem pela cidade, Apuleio apresentou a própria defesa, a sua Apologia, texto que conservamos e que é muito instrutivo. Ele se compõe de três partes. Em primeiro lugar, ele afirma a honradez de sua pessoa. Em segundo, defende-se da acusação de magia. Mostra que as práticas que lhe foram recriminadas dizem respeito à ciência e não à magia. A procura de peixes raros pertence ao domínio das ciências naturais e, se ele pretendia praticar dissecações não era para enfeitiçar uma pessoa obviamente seduzida pelo seu encanto e sim para estudá-los porque era um sábio. Em terceiro, aborda os delitos menores que lhe foram imputados. No geral, transforma o processo em uma disputa opondo citadinos cultos a camponeses ignorantes. Naquelas condições, ele consegue a absolvição e percebe-se claramente o papel de três personagens, o acusador (membro de uma família), o acusado (Apuleio) e o juiz (o procônsul).

  Na justiça romana, o exército gozava de uma situação particular. Os militares, como em muitos Estados, mesmo os modernos, escapam à lei dos civis. Nos assuntos de disciplina, em caso de delitos leves, os oficiais, centuriões e tribunos, podem distribuir punições. Os casos graves são julgados numa instância superior.

  O tratado de Tertuliano, “Da coroa”, ilustra essa hierarquia a um só tempo militar e judiciária. A história se passa em Roma no início do século III. Um soldado cristão recusa-se a participar de uma cerimónia pagã e, no meio das festividades, joga no chão seu capacete e a coroa de folhas que simboliza sua participação nos ritos do culto imperial. O centurião que o comanda ordena-lhe que volte às fileiras. Ele se recusa. O tribuno repete a ordem. Nova recusa. O cristão é preso e depois denunciado aos perfeitos da pretoria que prontamente o condenam à morte. Ele se torna um mártir, então.

  Por outro, é impensável, um criminoso, ser libertado por "vício de forma", o que se explica por uma outra escolha dos romanos: os direitos da vítima são privilegiados.

  Esse é um segundo traço do direito romano. Uma outra anedota o ilustra. O imperador Galba foi governador na Espanha antes de perder o poder. Nessa região, teve de julgar um caso abominável: um tutor matou seu pupilo para se apoderar de seus bens. O homem confessa e há testemunhas. Galba condena-o à morte por crucificação. O assassino faz valer o facto de ser cidadão romano e pede para ser exercido seu direito de apelação e para ser julgado novamente, em Roma, pelo imperador. Galba recusa: o crime é evidente demais e a execução da sentença não deve ser adiada. Nova objecção do condenado: ele não deve ser submetido a uma pena infamante e pede para ser decapitado. Nova recusa de Galba, que lhe concede que seja crucificado numa cruz maior que as outras e pintada de branco para que se saiba que ele não é qualquer um. E assim foi feito.



14.4.06

Direito romano II – o Julgamento de Jesus



 No século I, a Judeia era uma pequena província submetida à autoridade do imperador e não do Senado - na verdade, sob Tibério, ela não era uma província de direito, mas de facto: constituía um território dependente da Síria, de maneira teórica, é bem verdade. Naquela época, ela estava confiada a um "perfeito" e não a um "procurador", como dizem, de maneira anacrónica, os Evangelhos (ou, pelo menos, sua tradução em latim). O facto de Jesus ser denunciado diante do Sinédrio não apresentava nenhum interesse para o Direito romano. Essa assembleia de notáveis judeus não tinha poderes amplos e não recebia o "direito de espada", isto é, o direito de vida e morte. Mas essa passagem tinha um impacto político e psicológico. Mostrava ao governador o sentimento das elites sociais locais. Embora ele zombasse desse sentimento quando se tratava dos interesses de Roma, tinha interesse de levar em conta o que não dizia respeito directamente à autoridade do império.

 O processo de Jesus ilustra perfeitamente o procedimento "extraordinário" porque Pôncio Pilatos agiu na condição de representante do imperador. Ele teve apenas uma fase, portanto, diante do governador que era, ao mesmo tempo, a personagem que "diz o direito" e que pronunciava a sentença. Ali se encontraram as três personagens esperadas; o acusador, o acusado e o representante da autoridade. Os "grão-sacerdotes e os anciãos do povo" conduziram a acusação, relembrando o que foi dito no Sinédrio: Jesus declarara ser o rei dos judeus. Agora era a vez de Pôncio Pilatos intervir. Ele perguntou a Jesus: "Tu és o rei dos judeus?" (Mateus, 27 11). Se Jesus respondesse "sim", ele se colocaria numa posição indefensável: reconheceria a intenção de insultar a autoridade de Roma e de seu imperador. Ele também podia dizer "não" e o governador certamente o liberaria. Mas Jesus não reagiu, não disse nada, o que provocou o espanto de Pilatos. O acusado permaneceu mudo. E, claro, ele era pobre demais para pagar um advogado. Aí o juiz sentenciou. Diante dos clamores do povo e levando em conta a atitude dos notáveis de Jerusalém, ele julgou mais político condená-lo à pena de morte por crucificação. Nesse caso, o condenado não valia grande coisa aos olhos do governador: seu meio social e sua origem étnica não depunham a seu favor. Além disso, sua atitude, seu silêncio o prejudicaram.

 O processo termina aí porque Jesus, tendo status de peregrino, não pode apelar. Ao contrário, alguns anos mais tarde, Paulo, que é cidadão romano, pede por duas vezes o benefício da apelação a César e, por duas vezes, vai a Roma. Seja como for, essa audiência com o comparecimento de Jesus diante de Pilatos também está conforme com o Direito romano.

 Por fim, o acusado, sobretudo quando é condenado, não se beneficia de nenhuma protecção. Os guardiães, o povo que assiste à aplicação do castigo e os soldados que o aplicam podem lhe infligir sofrimentos suplementares sem que ninguém se comova. Os golpes e humilhações são parte da pena. O suplício de Jesus é, a um só tempo, exemplar e banal. Primeiro são os militares que o fazem padecer. "... E tecendo uma coroa de espinhos, puseram-lha na cabeça e na mão direita uma vara... e cuspindo-lhe, tomavam a vara e batiam-lhe com ela na cabeça". A turba dá sua contribuição em seguida. "Os transeuntes, abanando a cabeça, o insultavam... os grão-sacerdotes zombavam... Do mesmo modo o ultrajavam também os ladrões, crucificados com ele" (Mateus, 27).

 Voltando à questão inicial: Jesus teve um processo justo? Para os cristãos, ele foi vítima do acto mais odioso possível, um deicídio. Para os homens de hoje, ele foi julgado e executado em condições terríveis e cruéis. Mas o historiador não deve julgar em função da época em que ele vive, mas em função da época que estuda. Nessas condições, é forçoso constatar que, do ponto de vista estrito do Direito romano, não há nenhuma ressalva a fazer na maneira como Pôncio Pilatos conduziu o processo.

Autora:Yann Le Bohec professora de história romana da Universidade de Paris IV - Sorbonne.

11.4.06

Direito romano I – o Julgamento de Jesus



 Questionado por Pilatos, Jesus poderia ter dito "não" e seria, certamente, libertado. Mas ele não disse nada, o que provocou o espanto do juiz.

 Jesus teve um processo justo? Do ponto de vista estrito do direito romano, não há nenhuma ressalva a fazer sobre a forma como a audiência transcorreu.

 Esclarecimento sobre os actores do drama.

  Como foi referido anteriormente, no Direito romano, um processo é uma peça modesta encenada por três actores apenas: o acusador, o acusado e o juiz.

  No caso de Jesus, o acusador é, de fato, uma colectividades, que constitui uma pessoa moral, "os grão-sacerdotes e os anciãos do povo" (Mateus, 26, 3). Essas personagens são cortejadas pelo Estado romano que apoia sempre e em toda parte os notáveis, mas, ao mesmo tempo, desprezados porque são judeus, isto é, pertencem a um povo vencido.

 O acusado, Jesus, pertence à categoria dos "peregrinos": homem livre, ele não possui cidadania romana. Para os romanos, ele não passa de um vagabundo judeu, o que o torna duplamente indigno porque não exerce nenhuma profissão e é – de resto, como seus adversários - descendente de vencidos.

 O juiz chama-se Pôncio Pilatos. Essa personagem histórica, bem conhecido aliás, exerce a função de governador da Judeia: encontrou-se uma inscrição mencionando seu nome na construção de um santuário em homenagem ao imperador Tibério (14-37 d.C.). Recrutado entre os cavaleiros, ele é mais versado na arte da guerra e das finanças do que nos assuntos de justiça. Além disso, para tomar suas decisões ele é assistido por um conselho formado de especialistas que não aparece nos Evangelhos seja porque o julgamento não é difícil de sentenciar, seja porque essa instância não desempenhou um grande papel nesse caso.

 Testemunhas podem ser intimadas; elas constituem, na verdade, o coro dessa tragédia.

 O processo de Jesus é, a esse respeito, muito interessante. Os grão-sacerdotes e os anciãos do povo queriam arrastá-lo para o tribunal do governador. Era preciso primeiro encontrá-lo e foi aí que Judas interveio: por trinta denários, prometeu entregá-lo a eles. Disse-lhes que Jesus se retirara para o jardim de Gethsemani e o indicou para seus contratadores. Esses enviaram seus homens para prendê-lo:

 "Falava ainda, quando chegou Judas, um dos doze, e, com ele, uma grande turba, com espadas e bastões, mandada pelos grão-sacerdotes e pelos anciãos do povo" (Mateus, 26, 47). Um de seus amigos tenta defendê-lo e fere um dos atacantes. Mas Jesus se recusa a ser socorrido por meio da violência: "Aquele que empunhar a espada, perecerá pela espada." Todo esse processo está conforme com o direito romano. Em alguns casos, os magistrados municipais enviavam seus escravos, por exemplo, para prender um homem que estivesse fazendo escândalo numa taverna ou, então, recorriam a milícias locais, a associações de filhos de ricos, os “juvenes”, que ajudam voluntariamente na manutenção da ordem. Em situações excepcionais, o exército intervinha. Para os soldados se mexerem, era preciso que bandidos estivessem submetendo uma região Nesse caso, a intervenção se caracterizava por sua brevidade e dureza. Mas cada governador possuía uma guarda de honra que lhe permitia, em caso de necessidade, garantir as funções de polícia.





5.4.06

Os Césares - Tibério

  Durante 44 anos, o governo de Augusto foi maravilhoso em todos os seus aspectos. Não tendo filhos, adoptou o seu enteado Tibério, filho de Lívia, sua terceira mulher, morrendo em Nola no ano 14 d.C.

Os Césares

  Augusto não tinha inaugurado o império. Foi Tibério quem lançou os alicerces da nova forma de governo publicando a «Lei de Majestade» e inaugurando a:

Dinastia Júlia-Cláudia (1)
(14 a.C. a 68 d.C.)


TIBERIUS
(Tiberivs Clavdivs Nero)
Imperador – 14 a 37 d.C.

Tibério


  De seu nome completo Tibério Cláudio Nero César, nasceu em 42 a. C. e faleceu em 37 d.C. Foi imperador romano com a idade de 56 anos, reinando desde a morte do seu padrasto Augusto em 14 até ao ano do seu desaparecimento. Era filho de um anterior casamento de Lívia, terceira mulher de Augusto.

  Tibério foi adoptado por Augusto, que lhe encomendou importantes missões diplomáticas e militares, incluindo a luta contra os Panónios ou as campanhas da Germânia, acabando por nomeá-lo seu sucessor no império.

  Tibério não foi uma 1ª escolha de Augusto, mas como os seus sucessivos herdeiros (Agrippa, Marcello, Lúcio e Gaio) morriam, Augusto não teve outra opção senão adoptar Tibério em 4 d.C. Mostrando bem quão relutante estava em fazer Tibério herdeiro, Augusto acrescentou no final da cerimónia «Faço isto por razões de Estado». Porque Augusto não gostava do seu sucessor é um mistério, talvez se devesse ao facto de que ele não era como as pessoas que o rodeavam, ou seja um lambe-botas, e o afrontar. Por outro lado a coragem e a genialidade militar de Tibério contrastavam com o facto de Augusto ter apenas liderado pessoalmente apenas uma campanha na Hispânia, e mesmo assim foi graças ao seu Estado-Maior que não aconteceu uma desgraça.

  No ano 15 a.C., Tibério e Druso, filhos adoptivos do imperador Augusto, penetraram na zona do Danúbio Superior, onde fundaram as províncias de Rénia e Nórica. Nos anos que se seguiram, Tibério subjugou os Panónios e assegurou o Danúbio Médio como fronteira romana. Depois foram levadas a cabo outras quatro campanhas para progredir até Elba. A partir do ano 12 a.C., Druso submeteu os Batávios, os Frisões e os Caucos, lutou com os Cuados e os Marcomanos, e chegou até Elba, embora tenha morrido pouco depois. Tibério, que prosseguiu com a sua tarefa, penetrou no Elba; numa segunda expedição, obteve um tratado com os Queruscos e submeteu os Lombardos. Contudo, o episódio da morte do seu sobrinho Germânico no Oriente iniciou um período da sua governação marcado pela violência e tirania, com o assassinato da sua própria esposa Júlia e continuado com a morte do chefe da Guarda Pretoriana Lúcio Élio Sejano e dos seus familiares, cúmplices e amigos. Aumentou de forma constante a perseguição, tortura e morte de elementos eminentes da sociedade romana, sobretudo na capital, mas também nas províncias imperiais. É durante o seu reinado que Jesus Cristo é crucificado.

  Os longos anos que viveu afastado de Roma deram-lhe uma feição grave de tristeza. O período do seu governo fica marcado por um engrandecimento evidente da figura e culto do imperador e de um aumento do carácter materialista da sociedade romana, embora tenha possibilitado de igual modo um melhoramento significativo do serviço público, um equilíbrio nas finanças estatais, e um controlo e disciplina nos exércitos.

  Ao mesmo tempo, Tibério, tentou garantir o território, criando acampamentos fortificados, construindo calçadas e organizando a administração. Mas nunca pôde concluir a sua campanha contra os Marcomanos, pois teve de lutar contra os Panónios, novamente sublevados, os quais subjugou, convertendo a Panónia numa província romana.

  Em 26 d.C., cansado da intriga política da Corte, abandona a cidade de Roma, estabelecendo-se na Campânia, fixando-se no ano seguinte na Ilha de Capreia (Capri), onde viria a falecer, passando o seu tempo a conversar com intelectuais Gregos.

  Quanto à questão da morte de Tibério, existem teorias de que terá sido assassinado no seu próprio leito, sob as ordens de Calígula pelos Guardas Pretorianos. Quem com ferros mata com ferros morre e, se assim foi, Calígula têve exactamente o mesmo fim, que terá dado a Tibério.

  Este Imperador foi um dos poucos que nada fez para alcançar o trono imperial. Na verdade após ter regressado das guerras da Germania, retira-se para Rhodes em 2 a.C. Foi sim o destino que iria fazer de Tibério Imperador. O seu sucessor foi Calígula.


(1) - Foi assim designada pelo facto de César pertencer à família Júlia e Tibério à família Cláudia.

28.3.06

Os Carros Romanos, no Presente e no Futuro...




  Embora possa ser do conhecimento geral não podia deixar de colocar aqui esta curiosidade recebida por mail.

  A bitola dos caminhos-de-ferro (distância entre os 2 trilhos) dos Estados Unidos é de 4 pés e 8,5 polegadas.

  Porque foi usado este número?

  Porque era esta a bitola dos caminhos-de-ferro ingleses e, como os caminhos-de-ferro americanos foram construídos pelos ingleses, esta medida foi a usada.

  Porque é que os ingleses usavam esta medida?

  Porque as empresas inglesas que construíam os vagões eram as mesmas que construíam as carroças antes dos caminhos-de-ferro e utilizaram as mesmas bitolas das carroças.

  Porque era usada a medida (4 pés e 8,5 polegadas) para as carroças?

  Porque a distância entre as rodas das carroças deveria caber nas estradas antigas da Europa que tinham esta medida.

  E por que tinham as estradas esta medida?

  Porque estas estradas foram abertas pelo antigo império romano aquando das suas conquistas, e estas medidas eram baseadas nos carros romanos puxados por 2 cavalos.

  E porque é que as medidas dos carros romanos foram definidas assim?

  Porque foram feitas para acomodar 2 traseiros de cavalo!

Finalmente...

  O vaivém espacial americano, o Space Shuttle, utiliza 2 tanques de combustível (SRB - Solid Rocket Booster) que são fabricados pela Thiokol no Utah.

  Os engenheiros que projectaram estes tanques queriam fazê-lo mais largos, porém, tinham a limitação dos túneis ferroviários por onde eles seriam transportados, que tinham as suas medidas baseadas na bitola da linha, que estava limitada ao tamanho das carroças inglesas que tinham a largura das estradas europeias da época do Império Romano, que tinham a largura do cu de 2 cavalos.

  Conclusão: O exemplo mais avançado da engenharia mundial em design e tecnologia é baseado no tamanho do cu do cavalo romano!!!!...

23.3.06

Lívia - Esposa de Augustus

LIVIA DRUSILLA
55 a.C. / 29 d.C.

Esposa: Tiberius C. Nero; Augustus

Filhos de Tiberius:

Tiberius
Drusus

  Da família Cláudia, Lívia foi adoptada pela família Lívia (gens Lívia). Casada em primeiras núpcias com Tiberius Claudius Nero, com quem teve os filhos Tiberius e Nero Claudius Drusus.

  Chegada a Roma o então cônsul Octavius ficou apaixonada por ela tendo-a obrigado a divorciar-se e a casar-se com ele em 38 a.C.. Lívia foi a sua terceira mulher.

  Exerceu uma grande influência sobre as decisões políticas do imperador e conseguiu que Tiberius, seu filho, fosse nomeado sucessor, tendo-lhe sido atribuída diversas mortes prematuras no seio da família imperial, entre elas as de Cayo e Lúcio, herdeiros designados por Octavius Augustus para sua sucessão.

  Depois da morte do imperador, Lívia teve grande influência nos primeiros anos de reinado do seu filho Tiberius. Com o passar do tempo a sua presença foi pouco a pouco a ser meramente testemunhal.

  Lívia morre em 29 d.C. com a idade de 85 anos.

Altar dos Lares

Altar dos Lares de Augustus. Augustus ao centro, Livia à direita

13.3.06

A Mulher e a Depilação


 Os pêlos, na maioria dos casos, não são atraentes para os homens e as mulheres sabem que uma pele limpa e macia pode ser o suficiente para conquistar as atenções.

 Um problema de todos os dias e de todas as mulheres, que já vem do tempo da antiga Grécia. Em 2000 a.C., as mulheres gregas arrancavam os pêlos com as mãos, ou queimavam-nos com cinzas quentes sobre a pele.

 A dor era tanta que as sacerdotisas dos templos de Creta ingeriam uma bebida forte, que entorpecia o corpo. Uma espécie de anestesia que evitava assim o sofrimento.

 O primeiro instrumento usado na depilação data do tempo da Grécia antiga e chamava-se Estrigil, instrumento adoptado pelas mulheres romanas, que consistia numa varinha de 16 a 30 centímetros de comprimento com a ponta curva.

 As mulheres passavam no corpo uma pasta à base de vegetais, cinzas e a argila, raspando posteriormente a pele com o Estrigil.

 Ao longo dos anos, os pêlos foram sempre considerados algo de supérfluo. E até de repugnante e maléfico, no caso das mulheres muçulmanas, que tinham como hábito rapar o corpo todo.

 Elas usavam um xarope espesso, composto de açúcar e sumo de limão, que, diziam, ajudava a extrair os pêlos.

 Os egípcios foram, por seu turno, os primeiros a utilizar o extracto de sândalo, a argila e a cera de abelhas, ingredientes que dariam origem à depilação com cera tão em voga entre nós.

 É no século XX, porém, que a depilação se torna uma questão de higiene, bom gosto e elegância.

 Nos anos 20 e 30, a depilação era apenas feita nas pernas, enquanto a zona púbica não era delineada, nem tão pouco as axilas.

 No início da segunda metade do século, a depilação das axilas é a grande conquista, generalizando-se a prática da depilação. Apenas as mulheres naturistas mantém tudo... ao natural.

 Finalmente, nas duas últimas décadas, a adesão passa a ser total, sendo a depilação feita nas pernas, axilas, braços e, por vezes, na região púbica.

27.2.06

Bacanais vs Carnaval



Os Romanos criaram a festa que originou o carnaval

 Festas romanas celebradas em honra a Baco. Embora não fossem iguais em todas as regiões, identificavam-se sempre pelo carácter orgíaco e pela presença de mulheres tomadas de delírio.

186 a.C. - O Senado Romano reprime os bacanais, festas em homenagem a Baco, o Dionísio dos Romanos, pois geram desordens e escândalo

 Na Roma antiga as festas mais importantes eram as saturnais e as bacanais, que nos influenciaram.

 A história registra uma série de festas e celebrações de características carnavalescas entre os mais variados povos. Tudo era pretexto para comemorações: a abertura do ano agrícola, a fecundidade, a colheita, os mortos, os deuses. Na Europa, de onde veio grande parte das tradições brasileiras, as festas mais importantes eram as saturnais e as bacanais dos romanos.

 As primeiras comemoravam a entrada da primavera e as outras eram realizadas em honra a Baco, deus do vinho e do delírio místico. Nenhuma dessas festas, porém, tinha ordem cronológica. As datas variavam de região para região.

 Havia dois tipos de bacanais: as festas religiosas celebradas em época certa, em homenagem a Baco, que o mesmo deus celebrava perpetuamente, e as festas ou orgias do culto dionisíaco, famosas na história de Roma, em virtude da proibição com que as suspendeu o Senado, no ano 186, a.C.

 Um minucioso relato do historiador Tito Lívio e o texto do "Senatus Consultus de Bacchanalibus", conservado numa prancha de bronze, permitem conhecer com exactidão a história das bacanais romanas e os motivos que determinam a rigorosa medida do Estado contra eles. Um grego, de baixa condição, espécie de sacerdote e adivinho ambulante, foi quem introduziu na Etrúria as práticas religiosas do culto a Baco, que até então só era conhecido na Magna Grécia. O culto se celebra durante a noite, admitindo-se homens e mulheres indistintamente, e essa promiscuidade, unida ao furor báquico, foi que deu origem a todos os excessos de libertinagem.

 Denuncias caluniosas, testamentos falsos, envenenamento, desaparecimento de homens e mulheres eram sempre o saldo das festas orgíacas. Foi da Etrúria que os mistérios dionisíacos chegaram a Roma, levados pela sacerdotisa Paculla Annia. No princípio, eram festas nocturnas, assistidas apenas por mulheres, Paculla instaurou a promiscuidade, fazendo a festa cinco vezes por mês, na qual homens e mulheres se entregavam a todos os excessos do vinho e do amor, possuídos do furor sagrado de Baco. A orgia era em ambiente privativo dos iniciados, e seus participantes tinham o dever de guardar segredo sobre as práticas a que se entregavam.

 O segredo dos mistérios báquicos durou muito tempo, até ser revelado pela amante do cavaleiro Esbutius, a liberta Hispalia Fescénia, de cujo nome vem a palavra fescenino. Antiga participante do bacanal, Fescénia revelou ao amante, desejoso de iniciar-se também, os mistérios orgíacos. Horrorizado, Esbutius, denunciou tudo ao cônsul Postumius, a quem Fescénia, embora temendo a cólera dos deuses e dos irmãos de seita, contou tudo o que sabia. O lugar da reunião era o bosque sagrado de Simila, perto de Roma. Tito Lívio faz o relatório desse depoimento.

 Os homens, possuídos de delírio, profetizavam, entre fanáticas contorções. As mulheres, vestidas de bacantes, com os cabelos soltos, lançavam tochas ardentes no Tibre. O mais alto grau da perfeição báquica era não considerar nada vedado pela moral. Os tímidos e os envergonhados, que se negavam a acompanhar os demais, eram sacrificados. O número de iniciados era tão considerável, que constituía um segundo povo, figurando entre eles mulheres e homens da mais alta sociedade. Em certa época, os iniciados passaram a exigir a idade mínima de vinte anos para os novos sócios.

 O inquérito feito por Postumius e levado ao Senado romano indicou que passava de sete mil o número de iniciados, sendo a maioria de mulheres. Tomaram-se medidas de grande rigor, diante das investigações que comprovaram a denúncia de Fescénia.

 As bacanais foram proibidas, sob as mais severas penalidades, como atentatórias à segurança do Estado. Figuravam entre as penas cominadas, a pena capital, sendo interditadas as festas não apenas em Roma, mas também em toda a Itália. Todas as províncias foram proibidas de celebrar bacanais. Mas a decisão não era drástica: quem quisesse promover um bacanal, tinha que ir a Roma, fazer uma declaração prévia ao pretor da cidade e aguardar a permissão do Senado, que devia ser dada em sessão com a presença de pelo menos 100 senadores. Além disso, não se permitia mais nenhuma bacanal com mais de cinco pessoas; dois homens e três mulheres.

 Mas apesar de todas essas providências oficiais de repressão, os devotos continuavam celebrando os ritos de Baco em bacanais mais ou menos clandestinas.

 E era tão grande o número de adeptos dessas orgias religiosas, que, no ano de 184 (a.C.), em Tarento, e em 181, na Apúlia, o povo promoveu uma rebelião para restaurar o direito de celebrar as bacanais. Há uma sátira de Varro, segundo a qual as bacanais se faziam em Roma sob disfarçada clandestinidade, enquanto no resto do Império havia uma razoável tolerância. De qualquer forma, nunca deixou de existir a festa pública celebrada todos os anos a 16 de março, chamada Liberalia.

 Liber era também o nome latino de Baco. Por fim, é interessante notar que o nome de bacantes, depois estendidos também aos homens, era inicialmente reservado às mulheres que se entregavam ao culto orgiástico do deus. Além disso, vale a pena lembrar que as bacantes eram senhoras da melhor origem patrícia, escolhidas entre elas as de mais ilibada reputação, pois as práticas da orgia religiosa constituíam não uma imoralidade, mas um acto de comunhão com a divindade.

24.2.06

A Beleza da Mulher Romana

 Quanto mais o Império crescia, mais alto terão as mulheres romanas erguido a cabeça, graças aos extravagantes estilos de penteados que a moda ditava.

 Com o desenvolvimento da sociedade romana os penteados sofreram vários estilos desde a república original até a cabeça da senhora fina do período flaviano (finais do século I d.C.), encimada por um colosso de caracóis, meticulosamente penteados.


 A maquilhagem podia ser igualmente elaborada, com uma base de lanolina, a gordura extraída da lã virgem, por sobre a qual eram cuidadosamente colocadas camadas de vermelho-terra ou esbranquiçado carbonato de chumbo ou cré.

 Antimónio escuro era aplicado como uma máscara em torno dos olhos, e eram usados hematite e outros minerais como enchimento, para proporcionar um brilho multicor.



 A austeridade exigida pela tradição romana fez com que os vestidos tivessem sobrevivido, em especial as graciosas linhas da sua stola (vestido). Mas na beleza das romanas não ficaria bem se não usassem uma grande quantidade de joalharia sumptuosa – diademas, brincos, braceletes, pulseiras de tornozelo (tal como hoje) e anéis –, bem como um pallium (casaco de passeio) colorido. Com um penteado que por si só constituía uma obra de arte, e todo aquele ouro e jóias a mulher romana rica, era uma boa montra da riqueza da família.



«Dicas» de Beleza de Plínio

 Leite de burra faz a pele resplandecer de juventude, notou o historiador (e esteticista amador) Plínio o Velho (há também Plínio o jovem): as mulheres saudáveis devem banhar-se nele «até sete vezes por dia». Tratamento para sinais, incluíam a aplicação de placenta de vaca (ainda quente), ou uma mistura feita de genitais de vitela dissolvida em vinagre com enxofre. A suposta auto-indulgência e narcisismo das mulheres romanas ricas, está ligado, segundo observadores, ao posterior declínio do Império. Mas a realidade é que as mulheres ricas se tinham preocupado em cultivar uma aparência sedutora desde sempre para o melhor e para o pior. Roma foi sempre uma sociedade com uma grande preocupação e estatuto.

21.2.06

O Casamento Romano


  Quem tinha direito ao casamento? Um olhar sobre a sociedade romana – e a documentação jurídica disponível – permitem algumas conclusões:

  - ESCRAVOS: até ao séc. III, estava-lhes proibida a instituição do casamento. Os mais privilegiados (escravos de confiança, que eram administradores dos seus amos ou os escravos do imperador funcionários desse tempo...), tinham, de forma estável, uma CONCUBINA exclusiva.

  - HOMENS LIVRES: constituíam cerca de 5 a 6 milhões na Itália romana e podiam ser fruto:
a) de núpcias legítimas de um cidadão livre com uma cidadã.
b) bastardos nascidos de uma cidadã.
c) escravos libertos.

  Tinham, todos, direito à instituição cívica do casamento.

  Casar, neste período a que nos reportamos, era, em Roma, um acto privado, não sancionado por nenhum poder público. Era um acto NÃO ESCRITO: não há contrato de casamento, mas apenas contrato de dote, quando este existe. Era, também, um ACTO INFORMAL: nenhum gesto simbólico era de rigor, algo similar ao que corresponde actualmente o noivado.

  Sendo um acto não escrito e informal, não deixava, contudo, de ser uma instituição DE FACTO, tendo, por isso, efeitos DE DIREITO:
- As crianças nascidas dessa união eram legítimas; tomam o nome do pai e continuam a linhagem. Por morte do pai, sucedem-lhe na propriedade do património, se ele não as tiver deserdado.

  Resta a pergunta: porque casavam os Romanos?

  Para desposar um dote – era um dos meios legítimos de enriquecer; e para terem descendentes legítimos, que recebessem a herança e perpetuassem o núcleo de cidadãos.

  Os casamentos eram arranjados pelas famílias, tendo principalmente em vista as fortunas das famílias e as ligações de sangue. A noção de amor romântico não era desconhecida, mas não era considerada como base para o casamento. No entanto, a vida conjugal não era propriamente desprovida de satisfação: o amor entre marido e mulher terá crescido gradualmente. «Não imaginas as saudades que tenho de ti», escreveu o historiador Plínio, o Novo, a sua mulher Calpúrnia, em princípios do século II d. C. «Gosto muito de ti, não estamos habituados a estar longe um do outro. Fico acordado a noite a pensar em ti. Só me liberto deste martírio quando estou no tribunal e a consumir-me com os processos judiciais dos meus amigos».

  Quando se considerava que o casamento não era satisfatório podiam eles próprios recorrer aos tribunais: o divórcio era livre – para as mulheres, cada vez mais, bem como para os homens. No entanto, o equilíbrio de poder entre marido e mulher pode não ter sido tão desigual como parece. Consciente do seu valor como mercadoria de troca, a mulher de alto nascimento podia manter a cabeça bem erguida.

5.2.06

A Mulher Romana


  «Se pudéssemos viver sem elas, sem dúvida omnes ea molestia careremus; mas uma vez que os deuses decidiram que não se pode viver sem elas, nem com elas conviver racionalmente, não nos resta senão fechar os olhos e pensar no bem do Império.»

Catão

 A importância da mulher romana na sociedade era muito mais importante do que as considerações de Catão fazem prever.

 "Os ténues vestígios que elas nos deixam provêm não tanto delas próprias (...) como do olhar dos homens que governam a cidade, constroem a sua memória e gerem os seus arquivos. "

Georges Duby

 Os recenseamentos omitem as mulheres. Em Roma só são contabilizadas se forem herdeiras. Só no séc. III d.C, Diocleciano, por razões fiscais, ordena o seu numerando. Havendo poucas informações concretas, restam as imagens e os discursos. Por isso, citando o mesmo autor, o que vemos "não é tanto a realidade das relações entre os sexos, como a perspectiva do olhar masculino que as construiu e que preside à sua representação ".Marguerite Yourcenar, no caderno de apontamentos desse belíssimo livro que se chama "As Memórias de Adriano", comenta: "uma mulher que se conta a si própria será imediatamente acusada de deixar de ser mulher"... Arredadas da vida pública, resta-nos indagar os vestígios no domínio do privado.

 A família romana típica era uma tirania em pequena escala. 0 paterfamilias (pai da família) tinha poder de vida e de morte sobre os seus próprios filhos. A sua mulher ficava em casa, a fiar e a tecer, e a servir o seu marido. No entanto, a realidade podia ser bem diferente. Estando o marido frequentemente fora, na guerra, a mulher romana das classes mais altas era uma rainha no seu reino doméstico – e gozava de muito mais autonomia do que as mulheres da Grécia Clássica.

 A democracia ateniense nunca incluiu as mulheres: normas opressivas confinavam as mulheres e filhas, mesmo das classes mais altas, às suas casas. As mulheres romanas, se bem que politicamente sem poder, tinham urna considerável liberdade pessoal e politica; podiam ir aos banhos com as amigas, ou ao teatro e aos jogos.

 A matrona romana estava presente na vida pública, dirigia a família com competência e gozava de respeito e consideração até nas conversas de tema cultural. As raparigas patrícias cresciam ao lado dos rapazes e eram educadas na arte, na música e na dança e só no início da puberdade eram separados. Enquanto eles eram preparados para os estudos e as armas, as mulheres aprendiam a dirigir a casa: vigiar os escravos, tecer, fiar, administrar o orçamento familiar. O matrimónio dava-se em idade muito jovem, mas com ele a matrona conquistava independência e autoridade.

 As mulheres romanas, como as de hoje, tinham um estilo de vida consoante a riqueza da família. Enquanto umas ostentavam diademas, brincos, braceletes, pulseiras de tornozelo e anéis, as pobres ou escravas trabalhavam como costureiras, lavadeiras, cozinheiras, parteiras, amas-secas, curandeiras actrizes e dançarinas – ou servirem na enorme indústria do sexo do Império. Astianax e Elefantina, duas cortesãs de alto nascimento, segundo as crónicas, dizem terem sido autoras de um popular trabalho de pornografia.

 Várias mulheres patrícias escreveram obras sérias: as memórias da mãe de Nero, Agripina, são referidas por Tácito, e no século I d.C., Pânfila de Epidauro escreveu livros sobre quase todos os ramos do antigo conhecimento. Nos campos da Pintura, na Filosofia e na Medicina as mulheres fizeram-se notar com importantes trabalhos nestas áreas.

 Em 42 a.C., quando o Primeiro Triunvirato tentou aplicar uma taxa especial às matronas romanas, uma mulher, Hortênsia, invadiu a câmara conciliar (onde as mulheres não podiam entrar) e, dirigindo-se aos funcionários reunidos, falou com tanta paixão e eloquência que conseguiu o que queria e a taxa foi anulada.

 Muitas mulheres ficaram na história de Roma como Júlia, filha de Júlio César, Lívia esposa de Augustus, a suave Octávia, a dissoluta Messalina, a imperial Gala Placidia e tantas outras que marcaram uma época de esplendor como foi a do Império Romano.

26.1.06

O Alvorecer do Cristianismo



  Quando Augusto, no vigésimo ano do seu império, promovia o recenseamento da sua população, nascia Jesus Cristo num estábulo na cidade de Belém da Judeia, onde reinava o idumeu Herodes. Perseguido ainda nos braços de Sua Mãe, fugia para o Egipto, retirando-se depois para Nazaré. Trabalhou com seu pai durante trinta anos. Recebeu o baptismo de João Baptista, seu precursor. Pregou a sua doutrina durante três anos. Arrastado aos tribunais pelos fariseus e traído por Judas, foi condenado à morte no tempo do prefeito Pôncio Pilatos, tendo sido crucificado no Gólgota entre dois malfeitores (no reinado do imperador Tibério)

  Difundida a sua doutrina através dos apóstolos foi Pedro escolhido para 1º papa, tendo sido crucificado em Roma de cabeça para baixo. Paulo, apóstolo vibrante dos gentios, foi degolado em Roma, porque como cidadão romano, não podia ser crucificado.

  Difundida através da vastidão do império romano a nova doutrina viria a sofrer dez perseguições terríveis que originaram o martírio de milhares de cristãos, cujo sangue derramado no Coliseu foi «semente de novos mártires», na expressão de Tertuliano. Refugiados nas catacumbas, (galerias subterrâneas perto de Roma), lá exerciam o culto divino e sepultavam também os seus mortos.

  Com o «édito de Milão», em 313 (no tempo do imperador Constantino), que dava liberdade aos cristãos, o cristianismo difundiu-se por toda a parte.


Baptismo de Constantino

17.1.06

Arquitectura Romana III

 O domínio da arquitectura, revelou-se a partir do apogeu da era imperial, de Tibério, a Nero e a Domiciano. O estilo que floresceu, dentro do verdadeiro espírito romano, caracterizou-se pela criação de grandes espaços interiores, destinados não só para fins religiosos como para a pompa e o esplendor dos palácios, balneários e anfiteatros.

 Roma mostrava o poder do Império através da sua arquitectura, representada em pinturas e na decoração como os arqueólogos e historiadores puderam testemunhar nas escavações efectuadas em Pompeia, Herculano, Stabia e Oplontis, soterradas aquando a erupção do Vesúvio.

 O apogeu foi atingido no século II d.C., com as criações grandiosas de Trajano e Adriano. O fórum de Trajano construído por Apollodurus e as cidades portuárias como Óstia marcaram os feitos grandiosos da dinastia antonina. A Via de Trajano, de Alepo a Antioquia, Síria, foi tão bem construída que ainda hoje pouco se nota, a passagem do tempo.

 O Panteão de Roma e a villa de Adriano em Tivoli são testemunhos convincentes do potencial das soluções curvilíneas. Os balneários de Diocleciano, a Aula Palatina de Trier e a basílica de Maxêncio, em Roma, demonstram bem a visão da arquitectura romana em toda a sua plenitude, tendo influenciado as arquitecturas seguintes, como a do Renascimento (o Humanismo trouxe o interesse pela investigação da natureza e o culto à razão e à beleza característicos da cultura greco-romana, criando as bases do Renascimento artístico e científico dos séculos XV e XVI), do Barroco (o barroco nasceu e se desenvolveu em princípios do século XVII na Roma dos papas) e do Neoclassicismo (floresceu na França e na Inglaterra, por volta de 1750, sob a influência do arquitecto Palladio (palladianismo), e estendeu-se para o resto dos países europeus, chegando ao apogeu em 1830).

 Este legado arquitectónico atesta a grandiosidade e a influência do génio romano.

mundo agricola mundo agricola
                       Fórum de Trajano                                        Aula Palatina

9.1.06

Arquitectura Romana II

 Com a construção do Fórum no centro de Roma no tempo de César, o padrão arquitectónico romano foi estabelecido. Augusto, após a sua tomada de poder, disseminou-o pelos territórios conquistados através das legiões romanas. Na Gália em especial, os empreendimentos reflectiam de perto os de Roma, com a construção de fóruns, Capitólio, templos, arenas culturais e desportivas. Criaram estradas de importância tanto comercial como estratégica, pontes, aquedutos e reservatórios de água.

 As estradas romanas tomavam diferentes formas consoante os materiais disponíveis e dos problemas específicos postos pelo terreno. Eram construídas acima da paisagem circundante, sobre uma camada ou fundação de cascalho grosso.

 Rios, ribeiros, ravinas e gargantas, não foram obstáculo à engenharia romana. O uso da técnica do arco tornou a construção de pontes mais fácil. Se um simples arco não era suficiente para atravessar um rio, tinham de ser usados dois ou mais arcos. Os engenheiros romanos para erguer um pilar sólido nas águas mais profundas, erguiam uma armação de tábuas de madeira e juncos no meio da corrente no local desejado, calafetavam-na com argila para não deixar passar a água e depois secavam a área de trabalho. A versão romana da invenção grega do «parafuso de Arquimedes» foi de muita utilidade pois a sua lâmina de ferro em espiral estancava a água com grande eficácia por meio de um apertado invólucro cilíndrico.


segovia
Aqueduto de Segóvia – Espanha
parafuso
Parafuso de Arquimedes


2.1.06

Arquitectura Romana I

«Roma era uma cidade de tijolos, transformei-a numa cidade de mármore»

Augustus

 A arquitectura que os romanos nos legaram é uma das mais importantes da história do Homem. Durante séculos, os romanos criaram uma profusão de edifícios de grande importância. Revolucionaram as técnicas de construção. A utilização repetida do arco, da abóbada e da cúpula monstram-nos, na actualidade, concepções de rara beleza com esquemas espaciais grandiosos e imaginativos.

 Os romanos foram “beber” a várias fontes o desenvolvimento da sua arquitectura; de início às tribos itálicas e etruscas, derivou para o período helenístico e depois às asiáticas com a penetração do Império na Ásia.

 As campanhas de Sula na Cilícia e na Grécia entre 92 e 85 a.C., originaram estruturas grandiosas como o templo da Fortuna Primigenia em Praeneste e o templo de Júpiter Anxur em Terracina.